say my name

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capítulo único 🔸

Se eu soubesse que iria encontrá-la naquele dia, não tenho certeza se ela teria entrado para o meu mundo.  Mas, infelizmente, não temos o dom da previsão, então eu não sabia que dor agridoce estava vindo em minha direção.

O nome dela é Jennie Kim, também conhecida como a mulher mais perfeita que existe.

Lembro que era uma terça-feira (as histórias sempre parecem começar na terça, hein? Como em Harry Potter ou o Dr. Drakken de Kim Possible). E a razão de eu me lembrar que era uma terça-feira é porque tive que passar especificamente pela casa de Junkyu no meu caminho para o trabalho para buscá-lo e deixá-lo na escola.

Junkyu sempre precisava da minha carona às terças-feiras porque seus pais estariam no trabalho e ele tinha uma aula mais cedo qu não seria capaz de pegar a tempo mesmo se pegasse o ônibus. Isto é, a menos que ele fosse para a faculdade duas horas mais cedo, quando todos ainda estavam dormindo e ninguém em sã consciência faria isso. Porém sendo um vizinho sempre tão generoso, me ofereci para dar carona a ele às terças-feiras.

Então, foi uma terça-feira.

Uma manhã de outubro bastante comum. Não abrimos até as onze, mas ainda assim, Chaeyoung (a dona do café em que trabalho) gosta que cheguemos cedo para ter certeza de que tudo está limpo e perfeito. Ela é um pouco obcecada por limpeza. Também ajudamos na verificação de estoques e suprimentos e certificando-nos de que as coisas estavam em ordem, prontas para receber os clientes. O trabalho podia ser uma chatice às vezes, mas tínhamos um fluxo constante de pessoas no balcão do barista para chocolates quentes e shakes e outras bebidas naquela época, outono, quando o Halloween estava quase chegando.

Não éramos um Starbucks, podia preparar um café com leite de abóbora picante em um instante, e por um preço muito mais barato.

Chaeyoung, a gerente mais alegre para quem já trabalhei, brincou que eu deveria estar distribuindo bebidas de abóbora para as meninas por causa do meu cabelo laranja-cenoura (ela chamou de laranja-abóbora). Eu mandei tingir de laranja há muito tempo e continuei a fazendo até hoje. Eu tinha me apegado tanto a ele, que mal me lembrava da cor original do meu cabelo.

Quando perguntei o que meu cabelo tem a ver com atrair clientes em potencial, Chaeyoung piscou e disse que quando as pessoas associam uma cor ou sabor a uma pessoa em particular, é mais provável que se lembrem da bebida saborosa. Por essa associação, se o servente deixar um impacto positivo sobre eles, é mais provável que eles voltem também, o que equivale a mais lucro.

Minha chefe é esquisita assim, mas ela é uma boa pessoa, ela trabalha duro ao nosso lado e ela cuida muito bem de nós, então tendemos a ignorar as coisas esquisitas que ela fala.

Chaeyoung abandonou a faculdade, mas foi mais fácil para ela. Ouvi dizer que ela vem de uma daquelas  famílias ricas e não duvido disso nem por um segundo. Papai Park a criou com este estabelecimento chique bem no meio do bairro mais luxuoso de Seul, em uma localização privilegiada em frente a um campus universitário. Para Chaeyoung, trabalhar é basicamente um hobby, algo para passar o tempo, ao contrário de nós, meros camponeses, que é nosso pão de cada dia.

Mas chega disso.

Era por volta das cinco da tarde quando notei uma pequena garota sentada em uma cabine sozinha, e não me pergunte como eu não a notei antes. Não tenho o hábito de olhar para nossos clientes. Além de ser rude, também indicava que eu era ociosa, o que certamente não era - eu não suportava ficar parada por um segundo, apenas checando casualmente as notificações no meu telefone à vista de todos no estabelecimento, como alguns de meus colegas de trabalho costumavam fazer quando o trabalho ficava mais lento. Uma vez que o fluxo de clientes diminuía um pouco, eu me ocupava esvaziando caixas, limpando as bancadas, renovando os filtros de café, limpando as máquinas e me certificando de que havia ingredientes suficientes no estoque.

lalisa! | JENLISA Onde histórias criam vida. Descubra agora