Capítulo 4: Hipocondria

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Passados uns 8 minutos, o espadachim entendeu que Anelise não estava com muita fé de tomar a iniciativa para falar sobre a sua tristeza repentina, já que ela se manteve em silêncio por muito tempo. Com todo aquele silêncio ensurdecedor, os únicos sons que poderiam ser escutados pelos dois era o estalar subtil do fogo das velas, a estridulação constante feita por grilos e o chirriar feito pelas corujas, que estavam bem confortáveis nos ramos das árvores mais próximas do castelo.

Toda aquela quietude era bastante harmoniosa. Ouvir os goles que Mihawk bebia enquanto apreciava um dos seus chás preferidos, ouvir os sons que os grilos e as corujas produziam, mesclados com os estalares leves que o fogo nas velas produzia davam uma sensação de paz, de tranquilidade e de complexidade também. Aquilo realmente parecia ser um ambiente cortês, bastante sofisticado e requintado, digno de nobres, de reis, de rainhas e de truões entretendo os membros mais relevantes da corte numa atmosfera palaciana totalmente sumptuosa e eminente. 

Todavia, o espadachim emérito não iria esperar mais alguns minutos para ouvir o que a menina de olhos violeta tinha a dizer sobre o seu estado de espírito. Ele realmente estava curioso, mas o sossego duradouro de certa forma atenuava a sua curiosidade. Ele já sabia o que a garota estava a sentir, estava na hora de saber o porquê.

Eu sei o que estás a sentir, e aparenta ser bastante profundo, a ponto de manter a boca fechada por tantos minutos assim. O seu estado de espírito mudou repentinamente. Você aparenta estar bastante triste e cabisbaixa. Será que foi a estética soturna do meu castelo que despertou esses sentimentos? O que foi que aconteceu quando decidiste contemplar este castelo? — disse o espadachim, abrindo os seus olhos logo após finalizar o seu comentário com duas indagações. 

Ele decidiu dar uma maior atenção a Anelise, e para isso, ele praticamente deixou o seu chá de alecrim de lado, apesar de ter pouco chá no recipiente. Por esse motivo, a chávena branca voltou a ser pousada no pires que estava na mesa grande, e, logo após essa ação, Mihawk cruzou os seus braços, como se estivesse a se preparar para ouvir os desabafos da jovem.

Bem... o seu castelo lembrou-me de épocas um tanto quanto lôbregas da minha vida. Nesses tempos, conheci uma pessoa que tinha uma mansão tão estupenda quanto o seu lar... E por esse motivo acabei por perder-me nos meus próprios pensamentos... acabei por pensar demais nos grilhões caliginosos e enferrujados do passado e em coisas que não consigo mudar, no presente em que sou obrigada a estar e no futuro, no meu destino, que eu sou obrigada a aceitar e a seguir meticulosamente. 

Entendo, sentes nostalgia, e isso provavelmente aprimorou o teu nível de tristeza e de fel. Pensar demais faz com que te sintas asfixiada e mentalmente desassossegada. Tente abafar a melancolia no local onde você está inserida. Acreditas totalmente na irreversibilidade do destino? Eu acho que o destino é uma caixa de surpresas, surpresas que podem ser ou muito agradáveis, ou puramente desagradáveis, mas também creio que ele nem sempre se dispõe a prender-nos a uma única via.

— Apesar da melancolia, preciso admitir que o seu castelo é encantador. A aura que emana dele é simplesmente incrível... E olhe, senhor, eu acredito que o futuro é algo predestinado... Não acho que seja uma caixa de surpresas, a não ser que a caixa se chame "Pandora" — disse com certa ironia na voz, antes de retomar. — Mas acho que todos os nossos caminhos já foram escritos no "livro da vida", por alguém incomensuravelmente poderoso, que comanda tudo isto que chamamos de "realidade"... E não pense que estou a aludir às religiões, porque acho que isso vai um pouco mais além das convicções religiosas, mas claro, o senhor é livre para pensar como quiser, afinal eu não vim aqui para doutrinar o senhor ou o que quer que seja... — apressou-se em falar a última frase, para não causar uma má impressão ao anfitrião.

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