1890, ilha do príncipe Eduardo- Canadá
ANDY CADMAN
Eu estava concentrado na pintura que fazia, minhas mãos trabalhavam com cuidado, e eu dava lentas pinceladas na tela em minha frente. Estava quase tudo pronto. Dessa vez optei por fazer o campo em que eu costumava ir, perto do farol, eu não sei como nunca pensei em pintar aquele lugar mágico, que me tirara sempre da minha monótona realidade.
O suor frio escorria pelo meu rosto. Meu cabelo minimamente longo, estava preso com um elástico fino, e alguns fios menores estavam grudados na minha testa. No toca discos tocava Beethoven, era minha calmaria. Eu não podia parar nem um segundo, até para respirar tinha que ser bem devagar, ou tudo iria por água abaixo.
Mas tive a minha paz interrompida. Alguém bateu na porta, mas eu estava concentrado demais para parar o que estava fazendo, então apenas deixei a pessoa esperar, mas outra batida veio, e outra, logo depois mais uma. Nada paciente, eu me levantei, e tirei o avental, deixando o material de pintura sobre a mesa de madeira, e desci para o andar de baixo, podendo ver a figura desconhecida pelo vidro da porta.
Parei em frente a porta da sala, e a abri, esperando o que quer que fosse que ele tinha vindo fazer aqui, mas o menino estava paralisado na minha frente, me deixando bem confuso com essa reação.
── Boa tarde, o senhor Cadman está?── disse finalmente, agora parecendo bem melhor do que alguns segundos atrás.
── Ele foi para Charlottetown, deve voltar perto da noite ── caminhei um pouco mais para dentro, dando liberdade para que entrasse. Um comportamento nada apropriado. ── Queria alguma coisa, jovem rapaz?──
── Eu vim entregar esses papéis que o meu pai pediu, e pegar uma outra coisa, mas volto quando ele estiver ── mesmo tendo meu consentimento, ele não entrou, apenas ficou parado na porta. Comportamento perfeito. ── Pode avisar que estive aqui? Diga que sou filho do Charles ──
Assenti brevemente, dando dois passos em sua direção, e pegando o envelope que provavelmente continha os papéis do qual falara. Ele parecia avoado, já que demorou cerca de cinco segundos para soltar o envelope em minha mão.
── Charles Mackenzie? Não sabia que ele tinha filho, meu pai nunca comentou ── meu pai não gostava muito de falar sobre os Mackenzie na verdade. Eram o assunto mais temido.
── O senhor William Cadman é seu pai? Também não sabia que ele tinha um filho ── sua voz realmente carregava surpresa, nunca havíamos sido apresentados.
── Me chamo Andy, é de grande satisfação conhecê-lo ── estendi minha mão, o cumprimentando, vendo o mesmo retribuir o ato.
── É um prazer, Andy. Me chame de Drake ── apenas dei um tímido sorriso, soltando a sua mão. ── Bom, eu tenho que ir agora, aviso ao meu pai que o seu não estava em casa. Até logo, jovem Andy ──
── Até logo
Meu olhar o seguiu até que não estivesse mais visível, e somente então eu fechei a porta, voltando para o meu quarto logo após colocar o envelope na sala do meu pai.
Coloquei novamente o avental, e voltei a me concentrar na pintira, que estava ficando maravilhosa, não podia negar que aquela estava realmente superando as outras, com certeza ficaria na parede do meu quarto.
Minha mãe diria que pintura é algo inapropriado para ser feito por um garoto, mesmo que tenhamos tantos nomes grandes de pintores no mundo da arte. Já o meu pai diria que a tela está linda.
Com os olhos fixos na tela, o mundo ao meu redor deixou de existir, e cada movimento meu se tornou calculado, faltavam apenas alguns traços para que estivesse pronta. O pincel virou meu melhor amigo, trabalhava em perfeita hamornia com a minha mão.
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Cartas para Andy Cadman [LGBTQIA+]
Romansa*OBRA CONCLUÍDA* Era o começo de 1890, na ilha do príncipe Eduardo -Canadá- quando as famílias Cadman e Mackenzie resolveram tentar quebrar toda richa criada anos atrás, pelos seus ancestrais, mas ainda sim não se suportavam, mantinham sempre distân...