Corte de Sombras e Mundos

Capítulo 66

  Não é o que eu esperava. Simplesmente esperava algo sombrio, como paredes de madeira escura, uma cama redonda com lençóis de seda - minha eu adolescente simplesmente pirava! -, tapete preto no chão, uma banheira no meio do quarto, deixando Azriel com uma aparência de dono do mundo.

  Mas não. É só uma cama King Size multiplicada por três, com lençóis brancos, travesseiros brancos, um tapete peludinho preto - pelo menos acertei algo -, mas nada de banheira no meio do quarto.

—Não repara na bagunça, por favor - diz Azriel, fechando a porta quando entro. Eu pisco, digerindo o seu quarto simples.

—Nem tá bagunçado - eu sorrio, vendo só um montinho de roupas jogados em cima de uma cadeira. Ele ri, coçando a cabeça, balançando a mão no ar. É rápido, mas consigo ver as sombras se desprendendo da sua mão e tampando as roupas com facilidade, como uma cortina escura. Eu rio, sem conseguir me segurar.

—Eu pedi pra não reparar - ele arqueia uma sobrancelha pra mim, e eu dou de ombros.

—Você não deveria ter usado suas sombras pra esconder a prova.

—Costume - Azriel pigarreia, olhando ao redor, as mãos indo até os bolsos.

  Me sinto uma adolescente indo no quarto do namorado pela primeira vez. Mas é claro que não somos namorados, e acho que jamais seremos algo tão simples assim.

  Ajuda bastante saber que Azriel só me trouxe aqui pra mostrar um rato.

—Então... - eu começo, olhando para Azriel, mas ele sorri de lado, inclinando a cabeça pro lado.

—Está vindo - murmura baixinho pra mim, colando sua lateral com a minha. Definitivamente ele está maluco se acha que vou ficar parada esperando um rato vir até nós dois. Agarro seu braço, me afastando para perto da porta. Ele me segura, rindo.

—Azri... - começo, mas então sufoco um grito quando algo peludo demais, branco e marrom, aparece no tapete, balançando um rabo longo.

  O rato corre até nós com velocidade e Azriel se abaixa, pegando-o com a mão. Eu o solto, assustada, a simples imagem de Azriel segurando um rato é sexy e isso deve ser errado. Tem que ser!

—Não é um rato, Sol - ele ri, quando me vê paralisada. Como diabos eu deveria ficar?

—Isso com certeza parece um - eu resmungo, olhando ao redor, procurando uma saída que não esteja no caminho do ratattouille de Velaris.

—Você tem medo de animais? - Azriel pergunta, se aproximando. Ele está com um sorriso zombeteiro de parar-corações no rosto.

—Não - sufoco um suspiro, olhando para a cara do rato. —Mas... - então reparo.

  Paro de falar, piscando enquanto os olhinhos pretos me encaram. O bigodinho é longo e as unhas curtinhas. O focinho achatado, a cabeça redonda.

  Olho para Azriel, abrindo a boca, piscando.

—Você tem um hamster! - eu quase grito, me aproximando de novo, ansiosa para descobrir como é possível existir hamsters em Prythian.

—Um o que? - Azriel franze a testa, me olhando confuso. —Isso não é um hamster. É um rato.

  Eu rio, porque não consigo não rir. É hilário. Azriel. Segurando um hamster!

—No meu mundo chamamos isso de hamster - eu estendo a mão, e o animalzinho cheira minha mão antes de enfiar a cabeça na minha palma. Eu rio, balançando a cabeça. —Vocês não tem hamsters aqui em Prythian?