Notas da autora: Sempre deixo playlists dentro das minhas histórias, o link estará no final do capitulo. Boa leitura.
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Era final da tarde quando o rapaz se jogou contra sua cama com força, a irritação era tamanha que decidiu permanecer apenas uns minutos em silêncio antes de seguir para o banho. Bokuto encarou o teto, a frustração tomando conta de sua cabeça lentamente, não conseguia fechar os olhos sem visualizar o rosto do treinador, o corpo dolorido pedia para que ele se ajeitasse em uma posição mais confortável, e por isso, em meio aos pequenos suspiros cansados se revirava na cama.
Os pensamentos se atropelavam, ignorando qualquer tentativa de ordem que Koutarou tentasse estabelecer, as jogadas que tinha errado, os pontos que deveriam ser melhor explorados, cuidadosamente elencou todos os movimentos em que acreditava não ter dado seu máximo, o adolescente fez uma careta ao se lembrar do número de vezes que foi bloqueado, realmente odiava ser bloqueado. A derrota tinha um gosto amargo dessa vez, mesmo sendo um amistoso, ter passado os minutos finais do jogo no banco causava um desconforto no estômago do jogador, até agora, horas depois da partida suas pernas ainda queriam correr quadra adentro para ajudar a resgatar alguma bola.
Se sentou na cama, bagunçando o cabelo por hábito, e começou a massagear um dos músculos da panturrilha que gritavam por atenção, talvez tivesse dado um mau jeito durante um dos saltos na rede, tinha que prestar mais atenção enquanto descia. Enquanto isso, encarou seu reflexo no espelho que tinha no canto do cômodo, parecia tão bagunçado por fora como estava por dentro, e pensando que não era aquela imagem que alguém como ele deveria passar, começou a organizar as coisas para seu banho.
...
Aran chegou em casa totalmente exausto, sentia que seu corpo estava coberto por poeira, assim como o espelho que havia carregado direto para seu quarto, a mando de sua mãe. Haviam passado o dia todo ajudando a limpar o depósito da família e entre todos os tipos de coisas, tinham encontrado o espelho de corpo, um pouco sujo, mas ainda imponente com sua moldura branca e dourada. Era mais pesado do que parecia, e por isso os braços de Ojiro doíam intensamente enquanto ele passava um pano úmido para retirar as camadas de pó que haviam se instalado no espelho ao longo dos anos. Estava tão cansado que mal ouviu o aviso de sua mãe, que gritou já na porta da frente:
— Estou indo pegar algo para comermos ali na frente! Já volto.
Aran deixou o pano de lado por um momento, verificando as mensagens no celular, não tinha perdido nada importante durante a tarde então apenas se focou em responder aos amigos rapidamente e enquanto fazia isso se deitou no chão, tratando de esticar as costas por um momento, atualizando as redes sociais com reclamações sobre como organizar o depósito havia sido complicado. O cansaço lentamente foi tomando conta de seu corpo, estava quase dormindo com o celular apoiado no peito, quando repentinamente, uma voz desconhecida ecoou pelo quarto.
— Eu vou descobrir como vou escapar do bloqueio dele amanhã.
Aran se sentou imediatamente, conferiu o celular vendo que o som não tinha saído do aparelho, esperou com atenção ouvir mais algum som, talvez tivesse sido sua imaginação, ou alguém passando na rua... Tentou acalmar o coração do susto, e apenas por precaução ficou atento a todos os pontos de seu quarto. Foi então que um grito chegou aos seus ouvidos:
— EU VOU SER O MELHOR DO MUNDO.
Dessa vez Aran sentiu um grande arrepio atravessar seu corpo, junto com o susto com o grito repentino, sua mente logo imaginou que estava sendo assombrado, correu em direção a porta do quarto e na pressa em se mover, chutou sua mochila que voou pelo quarto, se encontrando com uma cadeira e derrubando as coisas que estavam equilibradas nela. Nem tentou recolhê-las, se encostando na porta, encarou todo o cômodo, pensando no que deveria fazer. Agora que estava em pé, tentava lembrar de algum mantra de proteção enquanto calculava se conseguiria abrir a porta sem ser pego, mas sua mente não conseguia processar o que fazer primeiro. Foi então que um novo grito atravessou o quarto.
— MÃEEEE???
Seu primeiro pensamento foi de que havia um fantasma perdido o assombrando, respirou fundo, tinha visto um filme sobre esse tipo de espírito na semana passada, tentou pensar no que os protagonistas fizeram para libertar a pobre alma, e logo decidiu enfrentá-lo.
— Eu não sou sua mãe. VÁ EMBORA. Você precisa seguir em frente para renascer...
....
Bokuto saiu do banho um pouco mais animado, se jogou novamente na cama, dessa vez com os pés apoiados nos travesseiros, entrou no grupo do time para ver as mensagens, evitando lembrar da falta de paciência de seu time em alguns dos momentos, sabia que havia horas em que seu humor poderia dificultar as coisas, mas alguns comentários não ajudavam a se sentir menos decepcionado, afinal, queria agir como um profissional, se empenhava para isso.
Respondeu a algumas provocações e logo fez uma promessa em voz alta para si mesmo:
— Eu vou descobrir como vou escapar do bloqueio dele amanhã.
Quando chegou uma mensagem de Washio não pode se conter em responder a altura, apertou o botão para gravar áudio e empolgado falou um de seus mantras, já comuns ao time:
— EU VOU SER O MELHOR DO MUNDO.
Começou a rir contido, a frustração já havia diminuído com as mensagens de apoio que tinha recebido de Akaashi, foi então que um barulho muito alto de coisas caindo o fez erguer a cabeça e se sentar na cama, parando de ler as mensagens e olhando ao redor, teoricamente, estava sozinho em casa. Nem pensou muito, apenas fez o que achou razoável, encheu os pulmões e gritou:
— MÃEEEE???
A resposta que ouviu foi um grito, que definitivamente não vinha de sua mãe.
— Eu não sou sua mãe. VÁ EMBORA. Você precisa seguir em frente para renascer...
Bokuto, quase caiu para trás, mas se recompôs em segundos, olhando do espelho para a sua porta, tentando entender como poderia haver alguém ali e só aparecer no reflexo, levou uma fração de segundos para estar pronto para gritar todos os palavrões que conseguia para a figura que via no canto de seu espelho.
— MAS QUE PORCARIA É ESSA? O QUE CARALHOS VOCÊ TÁ FAZENDO AÍ? ASSOMBRANDO MEU ESPELHO?! QUE PORRA! QUEM VOCÊ TA FALANDO QUE TEM QUE RENASCER?
....
Aran tomou um susto com o grito, e guiado pela palavra espelho, olhou imediatamente para o seu, que vinha ignorando totalmente até então. E ali estava, uma pessoa sentada em uma cama, encarando o com uma expressão zangada. Foi a vez dele de gritar:
— AAAAAAAAAAAA FANTASMA!
E antes que qualquer um dos dois falasse algo mais, Aran correu até a cama, ainda imitando o que viu no filme, pegou a coberta que estava dobrada ali e a jogou rapidamente por cima do espelho, ocultando toda a superfície reflexiva, em uma tentativa de impedir que a alma saísse da superfície de vidro ou fosse para outros espelhos da casa,
Ao mesmo tempo, no outro quarto, Bokuto viu seu espelho ficando com a superfície totalmente escura e logo depois voltou a ver seu próprio reflexo, o qual nem havia notado não estar presente segundos atrás, com o rosto totalmente sem cor, se levantou aos tropeços correndo para fora do quarto.
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Através do espelho
FanfictionQuando Bokuto encontrou o rapaz em seu espelho, não pensou que se apegaria desta forma, agora seu maior desejo era poder encontrá-lo. Por outro lado, Aran jamais imaginou que o adolescente com quem conversava pelo espelho pudesse ser encontrado no...