Capítulo 6

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Uma hora depois, doutor Luciano volta e se reúne com a minha família.

— E então, doutor, notícias da minha irmã? Alguma informação?

— Bom, infelizmente não tivemos qualquer informação sobre a fuga de Débora. E a presença de outra pessoa de fora já foi descartada. Até pelas imagens das câmeras, observamos que ninguém além das pessoas habituais entrou no quarto dela, e depois que eu e o Itamar fizemos os exames de rotina apenas a fisioterapeuta entrou no quarto, até o momento que vocês chegaram e a enfermeira percebeu a porta trancada.

— Quer dizer que a minha irmã pode ter saído do hospital na hora que chegamos, nesse temporal terrível, já escurecendo, e ninguém viu nada?

— Tudo indica que a sua irmã trocou de roupa. Não saiu com a roupa do hospital. Existiam roupas da paciente aqui? Vocês trouxeram roupas dela?

— Sim. No dia que foi internada eu levei as roupas que ela veio e no dia seguinte trouxe uma calça jeans, uma blusa e um casaco, achando que ela fosse sair logo naquele dia. Eu guardei no armário no banheiro. E... não está mais lá. – Minha prima está desolada.

— Bianca, descreva essas roupas, inclusive cor e todos os detalhes, mesmo os que você julgue sem importância, para o senhor Ferreirinha aqui, ele é o chefe da vigilância aqui do hospital.

— Bem, era uma calça jeans azul claro, uma blusa de malha de mangas curtas na cor amarela, e um casaco: na verdade era uma jaqueta de micro fibra na cor azul escuro com capuz, aberta com botões na frente.

— Bom, senhorita, por estas informações que está passando, já posso garantir que a paciente saiu sim, e tudo indica que sozinha. Vi pelas câmeras dos portões de entrada e saída de pessoas, do hospital, uma pessoa saindo exatamente com essas características de roupas. Sem dúvida era uma mulher. E como estava chovendo bastante, a pessoa tinha o capuz da jaqueta sobre a cabeça. Muita gente estava saindo das visitas regulares bem naquele horário.

— E agora? Será que a minha menina foi pra casa?

— É uma possibilidade, tia Yolanda. Vamos pra casa então. Débora pode estar lá precisando da gente.

— Sinceramente, não acredito. Se minha irmã quisesse nossa ajuda teria ficado e esperado a gente chegar. Ela sabia que viríamos naquele momento.

— Realmente, concordo com o rapaz. Acredito que a Débora não quer envolver vocês nos problemas, que ela julga sendo dela. Ferreirinha, agradeço toda sua ajuda. Está mais do que claro que não houve ajuda de ninguém de fora nessa fuga da paciente.

— Esse é o meu trabalho, doutor. Só gostaria de lembrar, se me permite, que a direção do hospital pede para que nós funcionários não nos envolvamos nesse caso, além do que são as responsabilidades do hospital.

— Entendi. Está certo. Obrigado pela ajuda.

— E agora, doutor Luciano? O que vamos fazer? Confesso que estou sem ideia de como agir. – Bia demonstra medo e preocupação.

— Chamar a polícia, é o certo, Bia! Para mim ficou bem claro que a chefia do doutor não quer ele envolvido com os nossos problemas. O que até concordo, uma vez que ele nem nos conhece.

— Não seja tolo, Márcio! Quer saber? Já está na hora de você entender um pouco mais do que está acontecendo. Aqui! Leia este bilhete que foi o doutor Luciano quem encontrou no quarto da Dé. Veja como precisamos da ajuda dele, porque sozinhos não conseguiremos chegar a lugar nenhum!

Márcio lê rapidamente o bilhete e aturdido olha para Bia.

— Espera! Então?! – meu irmão fica espantado com o que leu.

— É isso mesmo, meu primo. A situação é muito mais perigosa do que você possa imaginar.

— Que bilhete é esse, gente? – tia Yolanda questiona, Bianca.

— Leia a senhora mesmo, tia Yô. — Bianca entrega o bilhete a tia Yolanda e percebe ela empalidecer e até fraquejar, tendo que ser apoiada por Márcio.

— Tia! Calma. A senhora sabe alguma coisa sobre o que diz esse bilhete? – o choque em tia Yolanda não passa despercebido por Márcio.

— Márcio! Que loucura é essa? A tia Yô só está nervosa como todos nós.

— É... estou muito preocupada com a nossa Dé. E o que faremos agora, Luciano? – a tia fica muito assustada.

Para Márcio também a situação ganhava outros contornos, e com isso, estava certo que precisariam da ajuda do doutor Luciano para seguir adiante.

Coordenaram dois grupos de buscas pela cidade, nos locais onde possivelmente eu fosse buscar ajuda. Como casas de amigos, parentes de Júlio, ou pessoas que de alguma forma eu tivesse algum contato.

Tia Yolanda, muito assustada, segue mais uma vez para a casa da minha sogra disposta a confrontar a irmã e saber o paradeiro de Júlio.

— Tia Yolanda!? O que houve? A senhora aqui a essa hora e com essa chuva na cidade?

— Preciso falar coma sua mãe, Raquel! E saber se seu irmão resolveu aparecer!

— Tia! Por que está tão aborrecida? O Júlio não está aqui. Aconteceu alguma coisa com a Débora?

— Sim, Raquel! E você sabe muito bem. A sua cunhada teve um colapso nervoso que a deixou internada até essa tarde, quando simplesmente sumiu do hospital. E algo me diz que a sua mãe sabe muito bem o que está acontecendo!

— Que destempero é esse, Yolanda? Por que está falando neste tom que não é o seu costume? É sempre tão educada e fina. – minha sogra encara a irmã de forma desafiadora.

— Pode parar com o seu cinismo e deboche, Fernanda! O assunto que me trouxe aqui é muito sério. Por favor me deixe a sós com a sua mãe, Raquel.

— Está certo. Mas veja se fica calma, tia. Eu nunca vi a senhora assim. Vou pedir a Neusa para trazer um copo de água.

— Desembuche, Yolanda! Agora que já fez seu showzinho. O que aconteceu com a sua protegida moreninha?

— Eu juro que ainda convenço a Débora a dar uma queixa de você na Delegacia por racismo. Se bem que se você entrar numa delegacia corre o risco de não mais sair.

— Chega! Você é minha irmã, deveria ficar do meu lado e não tentando me destruir. Eu não tenho mais paciência para suas lamúrias. O que você quer agora? Já disse que o meu filho não está aqui, também não ligou pra mim e muito menos sei onde ele possa estar. Era isso que queria saber?

— Ouça bem, Fernanda! Se acontecer alguma coisa com Débora ou qualquer um daqueles meninos, eu juro que eu mesmo acabo com você. Eu realmente gosto deles. São os filhos que Deus me deu e vou protegê-los de você a qualquer custo! Entendeu? Era só isso!

Tia Yolanda vira-se e sai rapidamente. Esbarra na sobrinha Patrícia que está chegando.

— Tia Yô! A senhora aqui? aconteceu mais alguma coisa com a Dé?

— Oi, filha. Eu já estou de saída. Quando quiser me ver, Patrícia, terei prazer em recebê-la na minha casa. Não pretendo voltar aqui.

— O que foi, tia? A senhora e minha mãe brigaram de novo?

— Pat, meu amorzinho, você é o único anjo que tem nessa casa. E por isso, não quero que nada lhe aconteça. Finja que não ouve nada. Que não vê nada e, mais importante, evite irritar ou contrariar a sua mãe. E se precisar, é só correr lá para minha casa. Está certo?

— Nossa, tia, está me assustando.

— Apenas lembre-se de tudo isso que falei, tá certo? Tchau, querida.

— Tchau, tia...


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