Capítulo 35

59 8 211
                                    

Entrei no carro sentindo meu corpo leve.

- Quer ir para onde agora? – Seth perguntou com um sorriso contido. Ponderei por alguns instantes, mas nada me veio à cabeça, então dei de ombros.

- A ideia de vim pra cá foi sua... Eu pensei que você teria pelo menos uma ideia do que a gente poderia fazer – olhei para ele rapidamente antes de retornar minha atenção à estrada.

- Não é como se tivesse muita coisa para se fazer aqui – fez beicinho, contrariado.

- Você quem sugeriu – relembrei com a sobrancelha arqueada. – Eu não me importo aonde for. Também não me importo se você quiser ficar deitado na cama do hotel olhando para o teto, embora eu seja obrigada a admitir que eu prefiro fazer alguma coisa... – agora que eu não tenho mais o vôlei para ocupar os horários vagos e drenar minha energia extra, eu me sinto constantemente inquieta se eu não estiver fazendo algo. Não é uma inquietação ruim, e também não é um tipo de ansiedade. Eu só sou uma pessoa ativa demais pra parar subitamente de fazer algo e meu corpo aceitar numa boa.

- Estou aceitando sugestões... Não é como se eu tivesse pensado nisso antes de sugerir que a gente voltasse aqui...

Parei o carro perto da calçada de uma rua qualquer e peguei o celular, digitando rapidamente no buscador.

- O que seria da sua vida sem mim? – ironizei, procurando qualquer atividade pela área. A verdade é que aqui é um fim de mundo que a economia basicamente depende do turismo decorrente de alguns eventos ao longo do ano...

- Sei lá. Provavelmente voltaria a ser a mesma coisa chata que era antes... – virei para olhá-lo a tempo de ver seu sorriso enquanto Seth dava de ombros.

Desviei o olhar novamente pra tela do aparelho em minha mão, sem saber o que falar. Eu sei que ele fez de propósito. E provavelmente é exagero, mas eu realmente fiquei sem palavras. Suspirei.

- Tem um aquário aqui – ignorei seu olhar zombeteiro pela minha falta de reação. – E um parque de diversões também. O parque aquático a gente só ignora – rimos.

- Eu quero ir ao paintball! – falou todo animado.

- Com dois? – coloquei o celular no suporte depois de bloquear a tela.

Seu olhar de decepção foi tamanho que me deu até pena por estragar a alegria dele. Infelizmente acho que nem com Lucy e Matt seria possível fazer uma equipe.

- A gente vê outras pessoas para convidarmos em outro momento – disse, pensando talvez em chamar alguns dos alunos do clube de vôlei que não eram completos babacas com a gente, como a Ayumi e a capitã. – De qualquer forma, aqui também não tem paintball.

- Ok, tudo bem... – cedeu, derrotado. Ri um pouco.

- Não faz essa cara... – tentei segurar o riso quando ele levantou o olhar pra mim. Eu me sinto uma mãe que usou a famosa frase "na volta a gente compra" pro filho pela vigésima vez, e a criança já sabe que não tem "na volta". – Você fica muito fofo assim, e eu fico com vontade de te apertar – impliquei, só pra ter uma leve mudança de clima. Me inclinei e beijei sua bochecha e depois a apertei levemente, sorrindo satisfeita quando um risinho escapou por seus lábios.

- Eu me impressiono com a facilidade que você lida com meu drama e contorna a situação.

- Eu te conheço bem o suficiente pra saber o que fazer – dei de ombros. – Você faz a mesma coisa, caso não tenha percebido.

- Ah... – ele não tinha percebido... – Vamos para o shopping. Lá deve ter um daqueles lugares com jogos ou pelo menos alguma coisa pra fazer.

- Acho que você tá superestimando o lugar – avisei. Eu não me surpreenderia se não tivesse nem cinema...

TransiçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora