Cap. 1 - Piloto

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*POV ROSA

Era exatamente 2 pm quando esvaziei a segunda garrafa de vinho, pensando no que havia acontecido horas atrás, mas não importava, já estava feito. Eu tomei essa decisão e vou arcar com as consequências dela.

É amargo ter o sentimento de partida em cada taça virada. Desce rasgando. Resta saber o que dói mais, a garganta ou o peito. Amanhã, sei que vou acordar com uma dor de cabeça infernal, sem falar na exaustão que sentirei no corpo, como se um caminhão estivesse me atingido em cheio. Mas e se a ressaca fosse moral? Se assim fosse, o caminhão seria você. Eu queria tanto poder entrar na sua mente agora, mas nem sei se adiantaria alguma coisa, já que eu sei o que se passa o tempo inteiro ma minha cabeça e ainda assim não me entendo.

No mais, não. Não sei se reparou, mas não é o vinho seco que amarga em mim.

Quando criança eu jurava que jamais beberia, eu não via sentido em precisar de um líquido tóxico pra conseguir sentir alegria. Ingênua criança.
Sabe, a vida era mais bonita naquela época.
Hoje eu já não enxergo mais animais nas nuvens, não sou tão carinhosa quanto era e nem ao menos me distraio com as borboletas. Talvez seja por isso que te amo, as nuvens era o algodão doce que dividíamos na praça, os carinhos estavam presentes em cada toque que eu lhe direcionava e as borboletas... ah as borboletas, flutuavam sem parar no meu estômago. Você me faz sentir como criança, pura e genuinamente feliz. Sem amarras, sem medo, apenas vivendo por viver.

A bebida te deixa feliz momentaneamente, no entanto terá de ser capaz de lidar com seus efeitos colaterais. E vai por mim eles não são nada amigáveis. Por isso eu te comparo ao álcool. Você entrou aqui e fez o que quis com meu coração, com meu emocional. Mas eu sempre soube, desde o comecinho, enquanto te olhava dormir em meus braços, como um anjo, a respiração amena, o cheiro único indescritível que só você tem, o cafuné calmo que eu fazia em seu cabelo bagunçado. Ali eu vi o quanto eu estava entregue e rendida a você.

Em todas as relações que já tive lutei pra não ser a mais apegada, pois sempre é quem mais sofre quando tudo acaba. E vai acabar um dia. Eu sei que vai. Mas porque foi diferente contigo? Porque meu coração não obedece aos comandos da mente? Pra que te ter tão perto se logo logo vai está tão longe?

A bebida não é pra te esquecer, de forma alguma seria. O vinho tinto só me lembra a porra do teu nome, e de quando a gente dançava bebadas serelepes, isso se puder chamar aquilo de dança, tava mais pra movimentos desgovernados no ritmo da música.

Amanhã eu pego o voo de volta pra Itália logo cedo e provavelmente só nos veremos daqui a seis meses. Muita coisa pode acontecer em seis meses, por isso resolvi arrancar o band-aid de forma rápida e ríspida. Dói no começo, arde lá no fundo da alma, mas logo passa e o incômodo cessa. Ao menos eu espero que assim seja.

                             
                            • [Cinco horas antes] •

*POV CAROL

Eu vivi um dos meus maiores sonhos no último mês. Tokyo 2021 trouxe a tão esperada medalha olímpica, e a sensação é inenarrável. Nunca me senti tão orgulhosa de mim mesma. E o melhor de tudo, conquistei o título de vice-campeã ao lado de pessoas incríveis, que sem dúvida ficarão pra sempre guardadas no lado esquerdo do peito. A sfv é mais que um time de seleção, é como uma família, que se ajuda, cresce junto a cada dia, tem suas brigas e desentendimentos, mas no final tudo se resolve e acaba como aprendizado.

Já no Brasil, tivemos duas semanas de folga para reencontrar os familiares, os amigos, e pra comemorar a prata que convenhamos, tinha gostinho de ouro. E era isso que iríamos fazer essa noite, como o penúltimo dia livre, antes da temporadas de clube começar. Marcamos um jantar na casa da Sheilla, que fez questão de confraternizar com a gente, em especial com uma tal camisa 10 aí.

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