A Escolhida

Capítulo 23

Claire

  Estava escuro e frio, eu estava em uma floresta. As árvores eram enormes e não tinha nenhum ser vivo perto de mim.
- Ainda confusa, pequena?
- Quem é? - grito para a escuridão.
   Aquela risada seca novamente.
- Claire.
    Vejo o Josh e ao seu lado, Peter.
- Josh? Peter?
     Fui na direção deles, mas parecia que eles não me conheciam.
- O que está acontecendo? Peter? 
      Seguro em sua mão, mas ele se afasta de mim.
- Josh?
    Meus olhos começaram a lacrimejar.
- Agora você sabe como me sinto. - a voz novamente.
- Quem é você? - grito bem alto.
- Você sabe, mas teme a resposta.
     Ele agarra meu pulso.

    Acordo com o despertador ao meu lado. Eram seis e meia da manhã. Peter não estava ao meu lado, fiquei preocupada. Tentei me lembrar do meu sonho, mas só conseguia lembrar de alguns flashes. Eu me sentia mal. Acordei com muita dor de cabeça, me sentia tonta. Como se estivesse de ressaca.
- Claire. - disse o Peter me abraçando.
- Bom dia. - digo. - O que aconteceu ontem? Não me lembro de nada. Não me diga que bebemos de novo?
    Pergunto rindo, mas o Peter me encara sério.
- O que foi? - passo a mão em seu cabelo. - Por que está tão preocupado?
- Encontrei você desmaiada ontem. - disse ele desviando o olhar.
- Desmaiada? - pergunto surpresa.
- Sim. Eu fui no quarto da Mia, e quando voltei você estava deitada no chão do meu quarto. A Mia sentiu ele...
- Ele?
- Sim. O mão negra.
- Você acha...?
- Talvez, não tenho certeza.
    Ficamos em silêncio.
- E então, por que acordar tão cedo? - pergunto sorrindo.
- Pode ir se arrumando. Temos escola hoje! Já estou pronto.
- Ah não Peter!
     Deitei e joguei as cobertas por cima de mim. Peter pulou em cima de mim.
- Bora Claire! - disse o Peter sorrindo.
- Não! Por favor! - digo sorrindo.
   Ele parou e me encarou com aquele sorriso maravilhoso.
- Okay, okay. Você venceu. Só mais cinco minutos!
- Vamos nos atrasar, então.
- Tudo bem! Já levantei.
     Levanto e vou tomar um banho. Quando tiro a parte de cima do pijama, percebo que tem uma marca roxa enorme envolta do meu pulso. Toquei ela devagar, e eu vi, lembrei do meu sonho. Ele tinha me segurado antes de eu acordar. Foi ele. Peter não podia ver meu pulso. Tomei banho e coloquei uma blusa de manga comprida, uma calça jeans e meus velhos all stars.
- Não trouxe minha mochila.. - digo saindo do banheiro.
     Estava torcendo para o Peter não reparar no meu pulso. Ainda estava aparecendo, mesmo com a blusa cobrindo.
- Tudo bem, vamos passar na sua casa antes, okay?
- Okay. - digo sorrindo.
- É essa semana.
      Peter segura minhas mãos. Senti um pouco de dor.
- É. - sorri. - É essa semana que a Ariane vem! Não é legal?
- Não foi isso que eu quis dizer. - ele sorriu e me beijou.
     O celular dele começou a tocar. Sorrimos.
- Preciso atender. Só um instante.
- Tudo bem.
     Terminei de arrumar as minhas coisas.

Peter

- Oi Bobby! - atendo o telefone.
- Ah, Oi Peter. Aqui é o Josh, o irmão da Claire.
- Oi, Josh. O Bobby está bem?
- Está sim. Na verdade ele nem sabe que eu estou ligando. - ele sorri do outro lado da linha. - Desculpe por está te incomodando, é porque sábado é aniversário da minha irmã, queria vê-la.
- Ah, claro. Irmãos gêmeos. - sorri. - Seria ótimo, Josh. Ela iria adorar.
- Mesmo?
- Sim. Vai ter um baile da escola. Pode vir, se quiser. Bom, é o seu aniversário também.
- Bobby não vai me deixar ir.
- Claro que vai! Se quiser, vou te buscar.
- Sério?
- Claro! Porque não?
- Valeu, Peter. Te ligo no sábado.
- Tudo bem. Tchau.

    Sorri sozinho na cozinha.

Claire

- Sorrindo sozinho?
    Peter estava de pé na cozinha.
- Hã? Eu? - ele sorriu.
- É, você sim.
- As coisas apenas estão à meu favor.
- Bom saber. - digo sorrindo.
- Pronta?
- Sim.
     Saímos e subimos na moto.
     Peter parou em frente da minha casa. Senti um frio na barriga ao abrir a porta, tinha que me acostumar que essa não era totalmente minha antiga casa. Agora a casa era fria. Antigamente ela tinha cheiro de bolo saindo do forno, música vindo da cozinha, e a minha vó estava lá. Ela era a alegria da casa.
- Espere aqui.
     Subi as escadas e peguei meu material, e algumas roupas também.
- Pronto, vamos?
     Subi na moto e fomos para a escola.
      Chegamos na escola, parecia que tinha se passado anos desda última vez, mas tudo parecia a mesma coisa, as mesmas pessoas, as mesmas conversas, os mesmos problemas, eu que tinha mudado. Era diferente para mim. Fiquei encarando a escola. Peter desce da moto e segura a minha mão, arrumando o cabelo.
- Parece o primeiro dia de aula, né? - pergunta ele.
    Peter também estava nervoso.
- Meu deus! Eu não acredito! - Molly veio correndo em minha direção. - Finalmente! Já estava com saudades.
- Eu também Molly! - eu a abracei com força.
     Tinha medo, em qualquer momento, perder tudo.
- Peter! - Molly o abraçou. - E então, vocês querem que eu mostre a escola?
- Estudo aqui quase a minha vida inteira, acho que não será preciso. - disse o Peter sorrindo.
    Minha primeira aula era de química. E lá estava ele. O mesmo professor careca de sempre, com as mesmas manias. Os mesmos alunos, as mesmas mesas. Por um momento fiquei entediada. Então, do lado de fora da janela eu o vejo, por um milésimo de segundo, ele esteve ali. Uma sombra. Ele estava me seguindo. O sinal tocou, me fazendo olhar para frente.
     Sai da sala e esbarro em um menino.
- Desculpe. - digo me virando.
- Tudo bem. - o menino sorriu. - Eu que estava correndo.
     Sorri e dei meia volta.
- Ei! Você é nova aqui?
    Por um segundo, sorri. Só podia estar brincando.
- Na verdade, não. - digo ainda andando.
- É que eu nunca te vi por aqui. - disse ele me seguindo.
- Sério? Estudo aqui à anos. - digo virando o corredor.
- Bem, eu teria notado você por aqui. Não tem outra garota bonita como você por aqui, sabe. - ele continuava andando ao meu lado.
    Sorri.
- Claire! Ótimo! Achei você. - Molly segurou minhas mãos.
    Consegui evitar que ela encostasse no meu pulso.
- Claire? - disse o menino.
- Tenho que ir. - olhei para ele e segui a Molly.
- Ok, então. Até mais Claire! - ele sorriu.
     Sorri. Não entendi muito bem o que acabou de acontecer.
- Você sabe que ele estava te paquerando né ? - disse a Molly.
    Revirei os olhos e sorri.
- Já pode me agradecer. - disse a Molly sorrindo.
- Quer que eu fale o que? Obrigado amiga, por ter me livrado de um menino. - sorri. - Está bom?
- Claro! - ela sorriu. - Olha o Peter!
    Peter estava no início do corredor.
- Oi! - disse ele.
    Peter segurou o meu rosto e me beijou.
- Você sabia, Peter? - disse a Molly.
    Eu sabia o que a Molly iria dizer, então eu a encarei.
- O quê? - perguntou ele me abraçando.
- Claire acabou de ser paquerada.
- Molly... Não é nada disso!
- Ah é? Quem estava paquerando a minha namorada?
    Molly me encarou, sorriu e fez um gesto com a mão.
- Eu sabia. - disse ela, fazendo mimica com a boca.
    Sorri. Molly passou por nós dois.
- E como foi a aula? - perguntou ele.
    Eu sabia que ele não estava chateado.
- A mesma coisa de sempre. E a sua?
- Foi legal.
- Agora já podemos ir embora?
- Já? Ainda nem comemos a merenda.
    Sorrimos.
- Tenho que ir, aula de história. - digo bufando.
- E eu, física.
- Sua matéria favorita.
- É, deve ser.
    Sorrimos.
    Peter deu um beijo na minha bochecha e foi correndo para a sala, virando para trás sorrindo para mim.
     E lá vou eu, para mais uma aula entediante. Entro na sala e falo com a professora. Vou me sentar em um único lugar vago no final da sala.
- Bom dia.
    Um menino ao meu lado falou. Levei um susto. Eu o olhei por um segundo, não acreditava, o olhei novamente.
- Matt? - sorri enquanto falava.
     Pela primeira vez, fiquei feliz em vê-lo.
- Parece surpresa, Claire.
- Nem o reconheci.
     O Matt estava completamente diferente. Estava mais forte, com o cabelo loiro cortado e algo nele parecia mais diferente do que só a aparência, parecia mais magro. Percebo um hematoma em seu pulso.
- Matt..?
     Toquei no hematoma em seu pulso, e senti a sala ficar fria de repente. Ele o machucou também. Mas como o Matt sabia dele? O olhei desconfiada e surpresa. Ele notou a minha expressão e puxou a manga do casado até cobrir seus dedos.
    Desde então, ele não puxou papo comigo, não falou nada. Ele parecia triste, doente.
- Ela passou muita matéria enquanto estive fora? - pergunto puxando assunto.
- Não sei. Também estou voltando hoje. - disse ele.
- Ata. Você está bem? - pergunto envergonhada.
    Ele não responde nada. Apenas continua olhando para frente.
    A aula foi mais chata do que a anterior. Parecia que não tinha fim. E com um Matt calado ao meu lado, me deixava mais incomodada. O que será que está acontecendo?
- Vamos no cinema amanhã? Eu, Peter, você e a Molly... - digo
- Sinto muito, não vai dar. Terminei com a Molly.
    Ele disse cada palavra devagar e dolorosamente.
- Desculpe, eu não sabia. - ele abaixa a cabeça.
    A aula acabou e o sinal tocou. O Matt levantou apressadamente, quase derrubando a cadeira. Levei um susto. Fico olhando para ele, até ele sair da sala. Me levanto devagar, pensando se eu fiz algo de errado.
     Sai da sala estava aliviada só por ver o Peter. O abraço. Fomos para a parte de trás da escola, onde fica o refeitório. Sentamos em uma mesa de madeira que fica no meio do jardim.
- Eu trouxe nosso lanche. - disse ele sentando na mesa.
- Estou sem fome, obrigado. - estava me sentindo enjoada, sentei no banco.
- Eu que fiz. - disse ele.
- Já vou comer. - digo forçando um sorriso.
- O que houve? - pergunta ele.
- Você sabia que o Matt veio para a escola hoje?
- Não. Por que?
- Ele está muito diferente, Peter. Ele cortou o cabelo, foi para a academia e parece que apanhou de alguém.
- Sério? Ele cortou o cabelo? - pergunta ele ironicamente.
- É sério, Peter. Fiquei preocupada com ele. Ele parece estar muito mal. E adivinha? Ele e a Molly terminaram.
     Peter me encarou.
- Estou falando sério! E ele me disse que era completamente apaixonado por ela.
- Talvez ele não era. Só que não sabia.
- Não, Peter. Tenho certeza que ele é apaixonado por ela. Mas, eu não sei, ele teme algo.
    Peter continuou comendo o pão com pasta de amendoim que ele trouxe.
- Ele apanhou Peter! Ele está com vários hematomas no pulso, deve estar em todo braço...
- Ah, igual o seu? - pergunta ele levantando o meu braço e puxando a manga da minha blusa. - Quando ia me contar?
     Fiquei sem palavras. Ele me pegou de surpresa.
- Peter...
- Claire. - disse ele sentando ao meu lado. - Conte o que aconteceu.
- Eu... Eu realmente não sei. Ontem eu não estava com isso. Mas hoje de manhã estava no meu pulso.
     Ele ficou me encarando, como se eu estivesse explicando como passar manteiga no pão.
- Acho que foi ele.
- O mão negra?
- Sim.
- Vamos cuidar disso. Okay? Juntos. - disse ele prendendo meu cabelo atrás da orelha.
- Okay. - digo sorrindo.
    Peter me beija delicadamente.
    O sinal toca, acabou o intervalo.
    Peter fica me encarando.
- Vamos passar por tudo isso. - disse ele.
- Vamos sim. - digo sorrindo.
- Agora tenho que me preparar para a aula de matemática. Não posso perder. - sorri.
     Levantamos e fomos cada um para a sua sala.

Peter

    Deixo a Claire na sala dela, passo pelo banheiro masculino e escuto um barulho. Entro, já me preparando. Ando devagar até a pia. Alguém estava ajoelhado sob a privada. Ele estava sem blusa, e estava vomitando. Suas costas estavam cheias de marcas e hematomas. Marcas em carne viva, ainda sangrando. Cheguei mais perto dele e toquei em seu ombro.
- Matt?
   Ele respirou fundo e se virou para mim.