Capítulo I

27 0 0
                                    

Ana Paula puxava o carrinho de feira repleto de verduras, frutas e legumes, ela estava exausta e ainda teria que fazer o almoço assim que chegasse em casa, pois seu marido, Hélio, havia lhe dito que iria almoçar em casa. Conforme se aproximava da casa e lembrava que em breve estaria de frente daquele homem, sentia um incômodo no estômago e o coração começando a disparar, numa taquicardia crescente. Um pouco de seu mal estar também era devido ao pacotinho que levava na bolsa.

Rebelde começou a latir e abanou o rabo assim que sentiu o cheiro da mulher, ele ficava mais eufórico à medida que ela se aproximava da casa. Ana andava a passos lentos e agora o cachorro parecia que iria escalar o muro para recepcioná-la. Ela enfim parou de frente ao portão, e iniciou uma árdua tarefa de procurar as chaves na bolsa.

— Calma, menino, xiiiiii! chega de latir!

O animal sentiu a falta de paciência da mulher, parou de latir no mesmo instante e simulou um choro, mas continuou a abanar o rabo, mesmo com os olhos a transmitir tristeza. Ana adorava aquele cachorro, mas às vezes ele a tirava do sério, e hoje era um dia desses, ela estava no limite! Sem muita paciência, ela abriu o portão, gritou com Rebelde para que ele saísse do caminho e sem perder tempo entrou na casa e começou a fazer o almoço. Ana iria preparar uma carne cozida com um tempero todo especial para seu marido.

Rebelde estava deitado, despreocupadamente, na soleira da porta, até que começou a sentir um cheiro de ovos podres no ar, ele conhecia muito bem aquele cheiro, seus pelos se arrepiaram por completo e então ele soltou um rosnado seguido de um forte latido involuntário, correu até o portão e viu o homem dobrar a esquina, ele andava a passos largos e um sorriso estático se desenhou em seu rosto. Conforme o homem se aproximava, Rebelde ficava mais raivoso.

O homem parou em frente à casa e se aproximou do portão, o cachorro latia descontroladamente, rosnava, babava e passava a impressão de que a qualquer momento iria atacar.

— Vai pra lá, cão imundo.

O homem abriu o portão, o cachorro avançou sobre ele, o arranhou e deu uma mordida em sua mão.

— Argh! Maldito!

O homem deu um pontapé no cachorro, o animal saiu em disparada para o canto da parede, e por lá ficou, ainda rosnando.
Logo que entrou na casa, o homem sentiu o cheiro da carne cozida com batatas. Ana estava na pia cortando legumes.

— Cheguei, mulher!

Ela já sabia, sentiu a presença dele desde o portão, ouviu os latidos e em seguida o choro do animal. Inconscientemente, ela apertou o cabo da faca com força.

— Amor! o arroz está quase pronto, eu vou te servir já já!

Hélio mantinha aquele mesmo sorriso plástico no rosto, Ana Paula nunca sabia se ele estava realmente feliz ou era apenas um sorriso irônico.

— Vou comer pouco hoje... sabe, eu acordei indisposto, com uma queimação na barriga... acredita que eu até caguei sangue pela manhã.

Ana Paula arregalou os olhos e em seguida lançou um sorriso amarelo para ele.

— Eu... quer que eu te faça um chazinho?

— Não! vou me sentar e esperar o almoço, a carne está com um cheiro ótimo. Ah! o seu cachorro me atacou de novo, mulher, ele deve tá com raiva, melhor levar ele pro veterinário, talvez ele precise ser castrado.

— Eu vou dar um jeito nele...

— É bom mesmo!

Hélio se afastou e se sentou à mesa e esperou para ser servido. Em poucos minutos, Ana o serviu; uma colher de arroz, uma concha de feijão, e um pedaço generoso de carne.

Mate-me amanhãOnde histórias criam vida. Descubra agora