Capítulo 7

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Patrícia deveria ter seguido os conselhos da tia Yolanda. Era uma menina maravilhosa, também muito jovem e ingênua. Ao chegar a sala encontra a mãe conversando baixinho com a irmã.

— Mãe. O que aconteceu a tia Yô? Ela quase tropeça comigo lá na porta.

— Patrícia, a mãe está chateada com as costumeiras ofensas gratuitas da tia Yolanda. É melhor seguir para o quarto e ficar quietinha por lá.

— Qual é o problema, Raquel? A tia Yô é sempre tão calma. O que mãe disse pra ela ficar assim tão estressada?

— Por acaso você não ouviu a sua irmã, sua idiota! E pare de uma vez de ficar chamando a infeliz da sua tia com esse apelido ridículo! Agora suba para seu quarto e suma da minha vista!

— Mãe, o que eu fiz para senhora, hein? Por que com a Raquel é sempre nos cochichos e nos carinhos, e comigo é nos gritos e nas grosserias?

— Patrícia, sobe, menina. Já falei que a mãe não está bem.

— É sempre a mesma coisa. A mãe não está bem. A mãe está estressada. A mãe não pode falar agora! Poxa, eu também sou sua filha, "dona" Fernanda. Sua filha caçula. Eu não deveria ser então a mais mimada? A mais bem cuidada e protegida? — a boa menina não conseguiu segurar as lágrimas e a tristeza, diante da verdade daquelas palavras que tanto a machucavam.

— Por que, mãe? Hein? Fala pra mim. Por que não gosta de mim? O que eu fiz pra senhora me tratar assim?

— Raquel! Tire essa garota da minha frente!

— Patrícia! Deixe de ser teimosa, garota. Sobe para o seu quarto. Eu vou pedir a Neusa para levar alguma coisa para você comer lá no quarto.

— Não! Eu quero saber agora! Por que a minha própria mãe não gosta de mim? É por causa da tia Yô? Ou é por que gosto da Débora e sou amiga dela? Sei bem que a senhora não gosta da sua nora, só porque ela e a família são negros e você preferia que o seu precioso filho casasse com a filha da sua amiga, que é uma patricinha branca, de cabelos lisos e rica, não é isso?

— Sua atrevida! Cala a boca, sua ordinária! — a maldita mulher bate covardemente no rosto da filha mais nova. Uma menina de apenas dezesseis anos.

— Mãe?! Pare! – Até Raquel se assusta.

— Não adianta me bater, ouviu bem? Cada bofetada que a senhora dá no meu rosto só me lembra o quanto eu nunca vou ser igual a senhora! Eu tenho vergonha de vocês! Vergonha! — Patrícia corre em soluços para o quarto.

— Raquel! Ligue para o seu irmão. Preciso contar a ele as últimas novidades e pedir ajuda em relação a Patrícia.

— Mãe, pode ser perigoso se descobrirem que estamos mantendo contato com o Júlio?

— Não se preocupe. Ninguém saberá de nada. Ligue logo! Essa menina precisa de um corretivo.

***

Enquanto isso: Minha prima e o médico davam voltas pela cidade nos possíveis lugares de me encontrar, e nada. Resolveram voltar para a nossa casa.

— Bianca. É melhor parar por hoje. Você já está muito molhada, poderá pegar um resfriado.

— Estou desesperada, doutor Luciano. Não tenho bons pressentimentos.

— Calma, meu bem. Olhe pra mim... confia em mim? Então acredite, encontraremos Débora. Olha pra você, querida... está tremendo.

— Estou com medo. Muito medo.

— Oh minha doce menina. Não está mais sozinha... eu vou proteger você...

O médico se aproxima de Bianca, segura o rosto dela entre as mãos, a deixa sem reação, e a beija delicadamente nos lábios.

— Por que... você me beijou? Não quero sua pena! Não devia ter feito isso.

— Calma. Não precisa se afastar assim, como se eu tivesse uma doença contagiosa. E fique sabendo que o que estou sentindo por você, está longe de ser pena. Tá certo, posso ter passado um pouquinho dos limites, você é noiva e eu não quis desrespeitá-la.

— Eu não pretendo fazer um drama por causa de um beijo. Mas por favor não faça mais isso. Sabe que não pode se envolver mais do que já está se envolvendo nessa história. E eu preciso de paz para ajudar a minha prima.

— Está bem. Vou entender que por hora, temos que nos concentrar em resolver os problemas de sua prima que não são nada pequenos. Bem, eu estou indo. É melhor entrar e tomar um banho quente, antes que fique resfriada.

— Doutor Luciano... eu preciso de você. Precisamos da sua ajuda para encontrar a minha prima.

— Não se preocupe. Não vou abandoná-los nessa situação. Volto amanhã. Mando uma mensagem no celular, informando o horário, para que convoque também seu primo e a Yolanda. Tchau!

No dia seguinte à noite, e sem notícia nenhuma do meu paradeiro, se reúnem na minha casa. Como Márcio e tia Yolanda já haviam lido o bilhete, poderiam traçar outros planos para me procurarem.


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