Capítulo 5

166 21 2
                                    


Em poucos dias chegamos a Os Alta. Eu e Maly já tínhamos visto ao longe a capital quando estivemos na Polisnaya, mas ela parecia diferente. A parte baixa da cidade era de ruas estreitas e gente se esbarrando. Atravessamos a ponte, então o lugar se transformou. A parte alta era de avenidas largas e chapéus balançando, crianças com suas babás e casas bem enfeitadas.

O Grande Palácio era a opulência exagerada e riqueza dos Lantsov. Nada comparado ao Pequeno Palácio com suas pedras, madeira, entalhos de pássaros e flores e uma verdadeira floresta ao redor.

Tudo era irreal de mais, muito bonito, distorcido, estranho — como se eu não me encaixasse em lugar algum. Mas algum dia eu já havia me encaixado? Mesmo com Maly? Eram perguntas para as quais eu não tinha resposta.

O primeiro dia caiu em um piscar de olhos. O Darkling designou alguns servos que me acompanharam até um quarto com cama de dossel. O ambiente era mais bem adornado do que qualquer outra coisa que um dia vi. Seus tons claros de azul e marfim reluzindo, mas nada disso importou muito. Eu estava exausta e desacreditada.

Dormi, mas o que tive não pode ser chamado ao certo de sono. Repetidas vezes ouvi aquele Alina, entoado no meio das árvores do lado de fora da antiga capela onde acampamos na viagem para cá. Algo me chamava, uma corda fina me puxando em meus sonhos. Talvez eu não estivesse apta para responder, ou estivesse realmente enlouquecendo.

Eu ainda me lembrava das histórias sobre Hércules, o grande filho de Zeus que matou a esposa e os filhos após Hera, a encantadora esposa do Rei do Olimpo, mandar a loucura sobre ele. Apesar do semideus ter feito doze trabalhos impossíveis e ter se redimido, era essa pequena parte da sua jornada que me intrigava. E se algum dia a rainha dos deuses também decidisse que esse seria o meu destino?

Quando minha mãe adoeceu e morreu de uma peste desconhecida, rumores correram. "Amaldiçoada pelos santos", uns diziam, "castigo divino", eram poucas memórias que restaram dessa época. Mas o falatório entre os que sabiam sobre meu pai quando chegamos em Novyi Zem era outro : Hera teria se enfurecido com mais uma traição e quando descobriu, anos depois do meu nascimento, enviou uma praga sobre a amante de seu marido. Koba diria ser bobagem, apenas crendice entre alguns sacerdotes que não gostavam da deusa do casamento.

Uma batida na porta dispersou meus pensamentos. Meus olhos piscavam pesadamente pela noite mal dormida, enquanto a claridade começava a se infiltrar pelas janelas. Eu não sabia quem poderia ser tão cedo, mas quando houve outra batida sem resposta, uma ruiva impecável em um kefta creme entrou junto à uma excursão de servos.

— Péssima — disse a garota de cabelos como fogo, me olhando de cima a baixo enquanto eu ainda estava sentada entre os lençóis. — Levante-se, temos muito trabalho.

— Quem é você? Devem ser sete da manhã — murmurei, a voz cansada pelos dias de viagem.

— Genya Safin. Agora vamos, levante-se — disse ela, seu tom sem espaço para discussão. — Já estamos atrasados.

— Mas...

— Por todos os Santos! Você precisa sair dessa cama, por favor.

Eu já começaria seja lá o que os Grishas fazem hoje? Preguiçosamente, me esgueirei para fora da cama, ainda com um sentimento estranho por estar nesse lugar.

As servas em seus uniformes cinza me empurraram até uma grande banheira cobre no final do quarto. Aos poucos, me dei conta do ambiente por completo. Ontem quando cheguei não notei realmente onde estava. Eu tinha um banheiro só meu. Não dormi em uma tenda abarrotada de cartógrafos ou no chão. Eu vi paredes de verdade outra vez. Paredes bonitas. Água quente.

Where do you belong?Onde histórias criam vida. Descubra agora