Spiritem e Os Caçadores Malditos

00. Lobo na Pele de Cordeiro e a Serpente no Jardim

    “A vida pra mim sempre foi muito rápida. Quando eu já estava cansada de correr, eu levantava minha cabeça, olhava para frente e descobria que eu sempre estava para trás. Atrás de você. Inveja, ódio e medo... eu te odiava do fundo do meu coração por conseguir ser alguém normal. Mas aí, eu pensei um pouco comigo mesma:

Esses sentimentos... são realmente meus?”

          
            

    Os gafanhotos faziam sua sinfonia em conjunto sob a Luz do luar. Era verão, então um pouco da neve já havia desaparecido e dado espaço as lindas flores. Enquanto o jovem caçador com um uniforme preto simples patrulhava, perdido em seus pensamentos, ele ergueu sua cabeça e encarou o céu noturno. Apesar dos cantos dos gafanhotos, não tinha nenhuma nuvem que desse o sinal de que iria chover, nenhuma estrela ou coisas assim. Apenas a solitária Lua no céu com toda a sua glória. De alguma forma, o homem ficara hipnotizado com a luz prateada que iluminava sua pele alva. A Lua parecia tão mais próxima que o normal, era impossível não ficar encantado.

    Minutos se passaram com o jovem encarando o céu, perdido em seus desvaneios. Nem percebera quando o canto dos gafanhotos se cessou de repente, todos de uma só vez. Apenas saiu de seu transe por conta do forte e alto estrondo que foi escutado de uma árvore, como se algo tivesse batido nela. Assustado com o barulho repentino, o caçador — cujo o nome é Igor — rapidamente alcançou o cabo de sua espada presa em seu cinto. Seus olhos percorreram todas as árvores a sua frente, vendo se percebia algo estranho. Bom, não é como se ele tivesse uma ótima visão ou conseguisse enxergar no escuro em primeiro lugar, mas não pôde enxergar nada fora do comum.

      

       Dando um passo por vez, ele foi em direção ao estrondo. A tensão em seus músculos aumentava a cada passo, sua respiração ficou acelerada e suas mãos tremiam como nunca antes tremeram. Quando viu como seu corpo estava, nervoso e assustado por nenhum motivo, Igor percebeu algo estranho. Se sentia desconfortável, mas não havia motivo para estar assim tão de repente e, por algum motivo, ele não conseguia parar isso. Era como se fosse um tipo de instinto, alertando o perigo que vinha. Engoliu em seco enquanto sentia sua temperatura abaixar. Frio. Não era para estar tão frio assim no verão. Olhava para os lados e para trás várias vezes. A sensação incômoda e angustiante de que tinha alguém lhe observando acompanhava o rapaz e, talvez, seja por isso que estava tão assustado. Por pura paranóia. Mas não havia nada naquela floresta, nem uma alma viva. 

    Quando finalmente se aproximou da origem do som, sua guarda abaixou e, finalmente, ele parou de prender sua respiração, soltando um suspiro de alívio seguido de uma risada nervosa. Era só um pássaro. Um pássaro que havia batido com a cabeça na árvore. Ela tinha se partido em duas partes com a forte colisão, a terra ao redor da ave estava vermelha como o sangue que saía de seu corpo, suas asas haviam se quebrado em diversas partes, assim como suas pernas e coluna, que estavam em posições... extremamente preocupantes. Uma cena horrível de se ver. Porém, apesar de sentir pena do que aconteceu com a ave, o rapaz estava tranquilo que não era algo a mais, que não tinha sido um 'demônio'.

      — Ah, já acabou meu turno. - Com um sorriso aliviado em seu rosto, tirou um relógio de mão de seu bolso. Dez horas da noite em ponto, era hora de descansar. Guardou seu relógio novamente e, antes de se retirar, deu mais uma olhada no pássaro morto, sentindo um peso e culpa por deixá-lo assim em seu coração.

     Mas, após analisar corretamente o pássaro, o caçador percebeu a forma como os ossos do animal estavam quebrados. Era mais possível que ele não tivesse batido na árvore por acidente, e sim alguém o... arremessou? Não era impossível, claro. Mas estava de noite, não havia ninguém. E além do mais, quem faria algo tão cruel com uma criatura tão linda?