Capítulo único

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            Seunghyun sentia a cabeça leve de tanto beber e a língua formigando de tanto fumar. Ele sabia que cheirava a álcool e nicotina, mas não se incomodava com isso.

            Olhando em volta, ele não sabia como havia chegado nesse bar. O ambiente enevoado com a fumaça dos cigarros e o balcão pegajoso e já arredondado nas bordas graças as mãos das diversas pessoas que passaram por ali ao longo dos anos não lhe diziam nada. O nome do lugar, visto apenas graças ao brilho fosco de um letreiro de neon pendurado no alto, aparentemente era Purgatory’s Bar.

            Rindo sozinho do nome brega, Seunghyun concluiu que ele havia passado de bar em bar e, por fim, havia acabado naquele boteco. Bom, ele mais uma boa quantidade de gente.

            Mulheres em vestidos colantes e curtos, outras com a pele macilenta e hematomas no rosto. Homens com um olhar perdido e estudantes com manchas de sangue seco espalhadas pelas roupas. A mistura de pessoas bem vestidas e maltrapilhas era desconcertante e estranha, mas Seunghyun estava bêbado demais para questionar. Pediu outra dose de whisky.

            Ele estava incomodado por não conseguir se lembrar como chegara naquele lugar. Ainda se sentia frustrado, com raiva e abandonado, e talvez fosse isso que estivesse deixando sua mente nebulosa. Tentou se esforçar por alguns segundos — ele sabia que estava bêbado, mas não o suficiente para se esquecer das coisas dessa maneira. O barulho de portas se abrindo o tirou de seus devaneios.

            Um homem alto e magro entrou no bar, com uma expressão levemente curiosa. Caminhando como se fosse o dono do lugar, sem olhar para ninguém, se sentou a apenas alguns metros de distância de Seunghyun e pediu uma dose de tequila.

            Jiyong.

            Os dedos de Seunghyun se apertaram em torno do copo. A simples visão do mais novo ainda era capaz de deixá-lo fervendo de ódio, e internamente se perguntou como ele tinha a audácia de aparentar tanta calma depois de cometer tamanha traição — afinal de contas, o que Jiyong tinha feito era nada mais nada menos do que uma tremenda punhalada pelas costas. Enquanto observava o mais novo estremecendo com o sabor pungente da bebida que tinha pedido, Seunghyun precisou de todo seu autocontrole para não se levantar e acertar um soco naquele rosto tão contido. Ao desviar o olhar, acabou cruzando olhares com o barman, que tinha um brilho travesso e divertido nos olhos, quase como se ele soubesse de uma coisa que Seunghyun não sabia. Na verdade, o barman parecia alguém vendo uma peça já sabendo seu final, apenas esperando a reação da plateia ao plot twist.

            Mas Seunghyun não conseguiu se importar com isso, estando totalmente focado na traição de Jiyong.

            Eles estavam fazendo um show em Seul. Este estava lotado, e os cinco estavam juntos novamente. Aquele era o último show da turnê asiática de divulgação do mais recente álbum do Bigbang. Durante toda a produção do álbum eles estiveram a ponto de se matar; cada um dos cinco queria levar a música em uma direção diferente, e foram inúmeras as brigas e discussões. Mas a sensação de estarem os cinco juntos no palco foi como um bálsamo sobre as feridas, e os cinco se sentiam mais unidos do que nunca.

            Até Jiyong pegar o microfone e anunciar que estava saindo do Bigbang para seguir carreira solo.

            A sensação de Seunghyun foi a mesma de despencar num poço de elevador: um frio na barriga, o medo e a sensação de que não ia sobreviver quando chegasse no final.

            O silêncio no estádio chegava a machucar os ouvidos, mas logo foi substituído por cochichos, conversas e até mesmo soluços. Seunghyun, o maknae, era quem estava mais próximo dele e parecia ter sido atingido por um caminhão, enquanto Jiyong tinha uma expressão de triunfo no rosto. Seunghyun estava lívido de raiva, e Youngbae, que tinha descido do palco para ficar mais perto das fãs, voltou correndo pro palco, tropeçando nos degraus. Seunghyun via as pessoas na plateia chorando, se entreolhando confusas e já digitando em seus smartphones.

Purgatory's BarOnde histórias criam vida. Descubra agora