Ao se deparar com um corredor imenso e cheio de portas brancas, Sarah se arrependeu da ideia de ter ido descansar. Mesmo com tantas velas nos três lustres de cristais que acompanhavam o corredor, parecia que ela continuava no escuro. Havia a opção de pedir ajuda e ter que descer novamente ou a alternativa de abrir todas as portas até perceber qual quarto era o de hóspede, mas isso seria invasivo demais. Nenhuma das possibilidades seria boa para ela, porém Sarah decidiu usar a comparação da ordem de quartos de sua casa em São Paulo. Pelos seus cálculos, o quarto de hóspede seria a 5ª porta, então a jovem caminhou até lá e girou a maçaneta banhada a ouro.
Quando entrou no quarto, percebeu o erro que havia cometido. A luz do dia clareava o cômodo, mas as paredes verde musgo davam um toque de masculinidade no local, não havia penteadeira e muito menos artigos de perfumaria. Continha somente uma cama grande, um armário e uma mesa de escritório cheia de livros.
- Ai, meu Deus! Aqui deve ser o quarto de Danilo. - percebeu a senhorita com os olhos arregalados e assustada com a possibilidade de estar invadindo o aposento do rapaz.
Decidiu correr dali o mais rápido possível e se virou de frente para a porta, a fim de fecha-lá. Mas, ao voltar para a posição inicial, seu olhar foi apreendido pelos olhos verdes mais lindos que a jovem já havia visto. Era franco, verdadeiro e apaixonante. Parecia que iam absorvê-la naquela imensidão esverdeada.
Ficaram por alguns instantes simplesmente tendo contato visual. Depois, Sarah pôde observar melhor o homem que estava em sua frente. Era alto, tinha o corpo musculoso e os ombros largos, a pele era morena, bronzeada e a barba curta, mas bem feita. Apesar de ter uma aparência rústica e meio marcada pelo esforço do trabalho, não deixava de ter uma beleza estonteante e uma feição acolhedora.
O rapaz também ficou impressionado com Sarah, não só pela surpresa de ter pego ela saindo de um dos quartos, mas também porque, ele nunca tinha sentido uma sensação tão forte quanto aquela, por uma mulher. Era como se ele estivesse encontrado a sorte grande ali, naquela desconhecida.
Sarah sentia o mesmo, seus batimentos estavam acelerados e ela não conseguia encontrar uma palavra sequer para dizer, pois estava totalmente presa naquele momento. Depois, quando encontrou forças para respirar de novo, disse:
- M-me desculpe, eu achei que era o quarto de hóspedes.
O homem apenas balançou a cabeça e tirou o chapéu preto de vaqueiro, revelando os cabelos lisos e castanhos escuros, penteados para trás formando um pequeno topete. Tal gesto era demonstração de respeito à casa e à mulher.
- A senhorita deve ser a prima do senhor Bernardo, não é? - indagou, revelando uma voz grave e segura.
Sarah ficou nervosa, mas fez que sim com a cabeça. Logo, decidiu que seria melhor sair dali o mais rápido possível, então foi andando apressadamente para a direita. Mas, ao chegar no fim do corredor, lembrou-se que ainda não sabia onde ficava o quarto de hóspedes, assim ela deu meia volta e encontrou o rapaz parado no mesmo lugar, a olhando fixamente.
- O senhor sabe onde fica o quarto de hóspedes?
- Ao final do corredor, vire à esquerda. O quarto fica na primeira porta.
- Muito obrigada! - respondeu ela, muito mais calma.
A senhorita foi andando devagar e quando havia desaparecido do campo de visão daquele homem tão atraente, ela sorriu e sentiu uma imensa vontade de encontrá-lo novamente.
Quando finalmente entrou no quarto, percebeu que aquele rapaz deveria ser Danilo. Sua alegria aumentou ainda mais, pois o que ela tinha sentido quando se deparou com ele, foi muito forte. Talvez não seria tão ruim ir pela cabeça de sua mãe e conhecê-lo, quem sabe poderiam até noivar...Pode ser que toda aquela euforia que estava sentindo para viajar até São José seria um sinal de que Deus colocaria em sua vida, um grande amor.
- Ainda bem que aqui não faz tanto calor! - disse Célia entrando no quarto, de repente.
Sarah se sentou em uma das camas de solteira com dossel de seda e ficou em silêncio observando sua mãe se dirigir até as bagagens e começar a retirar alguns vestidos de lá.
- Troque de roupa e vá descansar, Sarah. Não quero você cheia de olheiras para se apresentar ao Danilo no jantar.
- É verdade, mamãe! Vou agora mesmo dormir um pouco.
Célia franziu as sobrancelhas estranhando o comportamento da filha. Não era comum elas concordarem em alguma coisa, muito menos quando se tratava de um evento para conhecer um rapaz. Mas, foi nesse momento que a senhora Virgos percebeu que talvez uma certa curiosidade havia sido despertada em Sarah, o que já era motivo de comemoração materna.
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A noiva falida
RomanceDepois da morte de seu pai e a ascensão da República Brasileira, Sarah e sua mãe se encontram falidas e precisam arranjar um jeito de continuarem no círculo social de São Paulo. Ao escapar de um casamento arranjado por Célia, sua mãe, Sarah terá que...