quatro

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A ideia de voltar pra casa enchia o coração dele de felicidade, ansiedade, e um pouco de medo. Algumas pessoas do programa de proteção a testemunhas, não se interessam em voltar pra suas vidas, porque elas sequer tem para onde voltar, em muitos casos, a pessoa que as colocou ali, já destruiu as vidas inteiras delas. Por isso, Andrew não quis esperar para ver, não quis assistir alguém machucar sua irmã, ou seus amigos, só aceitou o que foi sugerido, com a ideia fixa de ficar pouco tempo longe... Até ver os meses se passando, as crises que estavam sob controle foram piorando, as pessoas sentavam e assistiam ele enlouquecer.

Quanto mais o tempo passava, o caso parecia mais longe de ser encerrado, a Opal e seu comparsa estavam presos mas não facilitaram, não contavam nada além do que já sabiam pelas pastas. A polícia não queria ressuscitar as lembranças traumáticas na memória das crianças, e apenas três adolescentes entre centenas quiseram contribuir para as investigações, mas era compreensível, se Andrew estava vivendo um inferno por ter conhecido aquela gente, quem dirá as pessoinhas que passaram meses ou até mais sendo vítimas, e sabe-se lá onde estão outras crianças que já passaram da linha do cativeiro.

Tudo que viu, tudo que ele viveu, só serviu de trauma, ele queria poder dizer que tirou dessa loucura toda algum aprendizado, mas a verdade é que nem tudo na vida tem uma lição, as vezes a situação é só alguma porcaria que te mata por dentro, e é frustrante demais querer tirar sempre algo bom de uma coisa terrível, porque as vezes, não tem algo bom, e esses ditados populares que dizem que sempre tem um lado bom, é mentira. A positividade tóxica foi uma das piores assombrações.

Quando descobriu que enfim, havia acabado, teve que passar uma semana numa espécie de reabilitação, terapia intensiva, novos remédios, nova dieta, nova rotina, tudo novo para voltar para vida antiga.

Não existem palavras capazes de descrever como foi para ele, ver sua irmã cruzar a porta, ele a abraçou como se segurasse a sua vida inteira ali, e ela também, mal podia acreditar que ele estava ali. Ela soube que ele estava vivo na mesma semana que acabou, e foi uma agonia ter que esperar para poder reencontra-lo, imaginou milhares de vezes na cabeça até finalmente acontecer. Outro ponto alto, foi dar a notícia para as pessoas no hospital, ver todos se emocionarem na sala de reunião quando o investigador do caso deu a notícia, fez com que ela se sentisse em casa, como se fossem a família dela e do Andrea.

Enquanto eles resolviam toda parte burocrática antes de voltar pra Seattle, Teddy e o Owen fizeram questão de o atualizar com todas as notícias: o noivado deles, casamento da Maggie, casamento da Carina e pedidos de casamento do Link para Amelia, o que fez ele rir muito, mas só até perguntar pela Meredith, e ouvir de sua irmã que ela estava namorando com o Cormac, ela disse rápido, seco, sem rodeios, queria que seu irmão voltasse ciente de que nada mais estava no lugar onde ele havia deixado. E doeu, ele não iria negar que sentiu seu peito apertar, mas, não devia esperar diferente, a vida seguiu e a Grey é encantadora, o rapaz estava a muito tempo dando investidas, ele sabia que aconteceria, ele pensava que estando morto ou vivo, já tinha a perdido fazia tempo.

Mas, isso era, ou pelo menos deveria ser pequeno, comparado ao momento em que ele estava vivendo. Vivendo. Estava vivo, voltando pra casa, pro lugar onde a mente dele esteve o tempo inteiro, ele diria que o coração também, mas o coração dele esteve com Meredith Grey desde que a beijou no casamento, e o mesmo pode continuar com ela, já que sabia que aquele coração nunca mais bateria por alguém como batia por ela.

Quando chegaram em casa, na casa da Carina, Andrew tomou um banho, enquanto ela e o Owen fizeram o jantar, nada demais, só algo para recuperarem as energias. Depois de comer, ficaram sentados na sala conversando sobre tudo que havia acontecido, e quando o casal esteva pronto pra se despedir, já que seus filhos estavam com a babá, ouviram a campainha, Carina já sabia quem era, então pediu pra seu irmão atender.

Ele imaginou que fosse a Maya, ou até mesmo o Richard indo surpreende-lo, mas no fundo sabia quem queria ver ali, e foi exatamente quem encontrou quando abriu a porta. Olhou para ela por no máximo dois segundos, até sentir agarrarem sua perna, olhou pra baixo e viu os três amores de sua vida: Zola, Bailey e Ellis o abraçando, ele se abaixou e os abraçou de volta, eles falavam sem parar sobre o quanto ficaram tristes e sentiram saudades, enquanto Andrew apenas os segurava apertado com vontade de chorar. Mer assistia a interação com lágrimas nos olhos.

— Você tá me amassando tio. — Ellis falou e ele apertou mais a fazendo rir. — Pode me amassar assim pra sempre!

— A gente ficou com tanta saudade. — A mais velha falou passando a mão no rosto dele, os olhos dela estavam brilhando pelas lágrimas. — Nem acredito que você tá aqui, inteirinho... Você deve muitas explicações!

— Eu também acho, mas porque vocês não entram e deixam o tio Andrew conversar com a mamãe. — Carina disse encostada no batente da porta, eles nem perceberam quando ela chegou. As crianças entraram correndo e se animaram mais ainda quando viram a Teddy e o Owen.

— Eu trouxe gelato.

Várias vezes, Meredith imaginou o que diria a Andrew se tivesse mais cinco minutos com ele, pensava mil formas de como lhe agradeceria por ter feito dela uma mulher completa, mas agora, diante dele, tudo que conseguiu falar era que tinha sorvete, e ele apenas riu, balançou a cabeça negativamente e a puxou para um abraço, daqueles apertados que juntam todos os pedacinhos quebrados. E ali, ela se permitiu desabar, segurou na camisa dele como se nunca mais fosse soltar, chorou de soluçar e sentiu tanto medo de acordar e ver que era tudo um sonho, mas a voz dele chorosa sussurrando que estava tudo bem mostrava que era tudo real.

— Você voltou. — Ela sussurrou se desvencilhando do abraço para olhar o rosto dele. — Andrew, você está aqui mesmo

— Eu pensei que nunca mais fosse te ver. — Ele acariciou o rosto dela.

— Eu tinha certeza disso. Eu tinha perdido você e doeu tanto. — As lágrimas voltaram a escorrer e ela respirou fundo. — Você é real, você está vivo, você voltou pra mim.

— E não vou pra lugar nenhum, Mer.

Eles sorriram e ficaram presos no olhar um do outro. Sabiam que não eram mais um casal desde antes, embora, tudo caminhava para que fossem novamente, eles estavam separados, e então veio a morte, e deu um fim em tudo. Mas agora, lá estavam eles, reclamando internamente pela Teddy e o Owen terem passado pela porta se despedindo fazendo com que os dois se sentissem pressionados a entrar para ajudar a Carina com os três monstrinhos.

Ele assou a pizza para Meredith, já que todos haviam jantando, menos ela, e tomaram sorvete, as crianças conduziram a conversa fazendo com que ele contasse tudo que aconteceu, mas, sabia que teria que explicar detalhadamente tudo de novo para a mãe deles. Foram muitas informações num dia só para eles processarem, fizeram mais milhares de perguntas, cobraram os presentes de meio aniversário atrasados e até iniciaram uma discussão sobre qual era a pronúncia correta de uma frase em italiano, e Andrew não podia estar mais feliz em saber que todas as tradições se manteram, que ele ainda estava presente na vida deles mesmo sem estar.

Quando passou das 23hrs, Meredith avisou que iriam embora, mas Andrew implorou para que eles dormissem com ele naquela noite, e ela não conseguiria dizer não, nem queria. As crianças comemoraram, eles colocaram dois colchões na sala, deixaram o espaço bem confortável, e deitaram todos ali, as crianças ficaram entre o casal, e não demoraram para dormir, deixando os dois num silêncio apenas se olhando e sorrindo.

Lar. Aquele era o lar de ambos, pela primeira vez em tempos, sabiam que seus corações estavam ali. Ficaram dispersos com a presença um do outro até adormecerem, enquanto as mensagens do Hayes chegavam no celular da Meredith sem parar, mas, ela sequer lembrou que tinha dito que o avisaria.

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