Capítulo 8

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Bilhete

Débora, acabou para você da mesma forma que acabou para sua mãe! Deixe o Júlio em paz. Se afaste dele para o seu próprio bem. Quero que a minha filha seja feliz, e você está atrapalhando a felicidade dela. Seu marido nunca a amou. Chega de manter esse casamento de mentira. Se afaste de Júlio ou terá o mesmo fim de sua mãe. Louca! Seu irmão terá o mesmo fim. A partir de agora estou de olho em você.

José

— A senhora já ouviu esse nome antes, dona Yolanda? "José"?

— Não... Meu Deus! Eu... eu não sei. – Todos percebem o desconforto de tia Yolanda, ao falar nesse assunto.

— Só queremos uma confirmação, tia Yolanda. – Bia insiste.

— Esperem um pouco! O que a tia Yolanda pode saber sobre esse tal José? A senhora conhece esse o homem, tia?

— Yolanda, pela sua reação ao ler o bilhete ficou claro que você não era indiferente ao que estava escrito ali. – Doutor Luciano é incisivo.

— Gente! O que está acontecendo? Alguém pode me explicar? Por que está chorando, tia Yolanda? A senhora conhece esse homem, que escreveu esse bilhete cheio de ameaças a minha irmã e a mim? Que conhecia a nossa mãe?

— José... ele é... é seu pai e de Débora, Márcio.

— Quê?! Enlouqueceu, tia Yolanda? Sei que o meu pai também se chamava José, mas ele morreu eu tinha três anos e a minha irmã, cinco. E como poderia nosso próprio pai ameaçar assim a Débora e a mim? Isso não faz o menor sentido. — Meu irmão andava de um lado a outro como um bicho enjaulado. Era difícil demais ouvir e entender aquelas coisas.

— Tia Yolanda, por favor... se a senhora sabe mesmo de alguma coisa sobre o que está acontecendo, nos conte. Precisamos saber.

— Eu vou contar, Bianca... devo isso a vocês.

"Há muitos anos eu decidi vir para Salvador morar com a minha irmã mais velha que já era casada e mãe de dois filhos: O Júlio e a Raquel. Nosso pai era fazendeiro lá em Itapetinga. Fernanda veio estudar na Universidade aqui na capital, acabou engravidando de um colega. Ela era muito jovem e o nosso pai ficou bastante enfurecido e a levou de volta. Só que depois que Júlio nasceu, ela se envolveu com um fazendeiro lá da região, que tinha ficado viúvo e era muitos anos mais velho que ela.

"O pobre homem era muito rico e fazia todas as vontades da minha irmã. Ela então o convenceu a comprar um apartamento aqui em Salvador para que ela voltasse para a faculdade e mudaram para cá com o meu sobrinho ainda pequeno. O problema é que nessa época Fernanda conheceu Geralda. Era colega no curso de graduação da faculdade. As duas aprontavam e Fernanda acabou encontrando o pai de Júlio e ficando grávida novamente, e todos acreditavam ser do marido dela.

"Quando eu vim para cá, os meus sobrinhos já estavam crescidos e eu entrei na faculdade, fiz a graduação em História e nosso pai permitiu que eu ficasse aqui e acabei casando também e indo morar no meu próprio apartamento.

"Nós três conhecemos José no mesmo dia. Ele era marinheiro, e estava chegando no porto onde estávamos passeando e conhecendo um navio da marinha dos Estados Unidos que estava ancorado no porto aqui de Salvador. Geralda se apaixonou de cara pelo marinheiro muito bonito. Ele era moreno, alto, bem sedutor. E naqueles dias viveram uma tórrida paixão. Poucos meses depois, o navio já tinha seguido e a amiga da minha irmã descobriu que estava grávida do marinheiro. Escreveu e contou para ele, que garantiu voltar, assumir o filho e casar com ela. Passaram-se os meses e a amiga da minha irmã percebeu que o seu grande amor e pai do seu bebê, não iria voltar.

"Nasceu uma menina que ela colocou o nome de Gabriela. E dois anos se passaram sem que ela viesse a ter mais notícias do pai da filha, até o dia que de tanto perseguir, Geralda descobriu que o navio voltaria ao porto em Salvador, e foi tentar encontrar José. Não o encontrou, mas achou alguém disposto a falar sobre o amigo: José era casado. A jovem esposa dele era uma estudante de direito; Mariana era o nome da jovem que tinha na época 19 anos e era filha de uma cozinheira e do filho de um empresário paulista.

"Geralda descobriu até a história da mãe da jovem esposa de José. Parece que era uma cozinheira da casa do homem com quem casou. Ele branco, filho único de um rico industrial paulista. Ela, negra, empregada doméstica e muito prendada em culinária. Os dois se apaixonaram e começaram um romance escondido, até que ela engravidou e os pais dele descobriram e mandaram ela de volta aqui para a Bahia. O rapaz muito apaixonado, veio atrás e o pai o deserdou. Os dois começaram a vida e tiveram o primeiro filho, Alberto; o seu pai, Bianca, e depois tiveram Mariana, a sua mãe, Márcio. Com os dois filhos o casal lutou muito e abriu um pequeno restaurante, o que garantiu a educação dos pais de vocês."

— Por que nós nunca soubemos de nada disso, tia Yolanda? Até onde sabemos os nossos pais morreram pobres e sem nenhum outro parente vivo. – Márcio não conseguia entender tantos segredos.

— É isso mesmo, tia Yolanda. O Márcio está certo. O meu pai contava que os pais dele e da tia Mariana haviam falecido quando eles ainda eram crianças. E que não existia mais nenhum parente. Os nossos avós eram filhos únicos.

— Bem, tudo isso que estou contando a vocês me foi contado pela minha irmã Fernanda que sempre foi amiga inseparável de Geralda. Ainda é, na verdade. E a mulher investigou cada detalhe da vida da sua mãe, Márcio.

— Prossiga por favor, Yolanda. Precisamos saber, até onde essa história dos avós dos meninos chega até o que está acontecendo com a Débora? – o doutor também estava curioso.

— Bom, é que de certa forma, a história se repetiu. – a tia prossegue.

"Nessa época eu estava vivendo a minha vida com o meu marido. Alguns anos depois o marido de Fernanda morreu e ela voltou com os dois filhos para a fazenda deles lá em Itapetinga. Outros anos se passaram até que recebi uma carta da minha irmã, contando que a esposa do capitão da marinha, José Menezes, havia falecido e que ele estava casado agora com Geralda.

"É claro que fiquei em choque com aquela inusitada notícia. E numa viagem que fiz para a fazenda do nosso pai, fui visitar minha irmã na fazenda dela para saber melhor sobre aquela situação.

"Fernanda então me contou que Geralda nunca deixou de procurar por José e que o encontrou e voltaram a viver um romance. Que ele já tinha dois filhos pequenos, e que a esposa dele tinha morrido de um aneurisma. Eu quis saber sobre os filhos pequenos do homem, se a amiga dela estava criando-os, e Fernanda então me contou que a amiga preferiu entregá-los para adoção, e que foi viver com o marido e a filha em outro estado."

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