Pedro sentia-se miserável. Recordava-se das poucas vezes em que passou da conta na bebida e acordou com uma enorme ressaca. Sentia-se exatamente assim, como se seu corpo estivesse protestando. A diferença é que não havia ingerido uma só gota de álcool. Sentia-se miserável e infeliz, e nada do que fizesse era capaz de mudar aquelas sensações.
Era quase surpreendente, uma vez que a infelicidade não era uma novidade. Pedro sentiu-se infeliz pela maior parte de sua vida. Até aquela noite da Quinta, quando a Condessa de Barral parou em sua frente. Luísa trouxe à sua vida os sentimentos desconhecidos. Paixão, amor. E felicidade. Uma felicidade tão genuína e constante que fez com que Pedro se acostumasse à ela.
Durante anos foi feliz ao lado de Luísa. Sorria ao pensar nela, ansiava pelos encontros, acostumou-se a pedir seu apoio nos momentos difíceis. Amar e ser amado era transformador, e sua vida parecia vazia sem aquela sensação. Tudo parecia triste sem Luísa em sua vida.
E o pior de tudo é que ela não estava longe. Luísa continuava frequentando sua casa todos os dias. Continuava fazendo reverências, continuava aconselhando suas filhas. As preparava para o casamento próximo, e cada minuto a mais era também um minuto a menos. Porque tão logo Isabel e Leopoldina se casassem com Gastão e Augusto, Luísa também iria embora. E agora ele não tinha nenhum motivo para pedir que ela ficasse.
Refletia sobre como tudo aquilo havia acontecido. Tinha quase certeza que falharam ao lidar com a perda do filho. Pedro sentia-se culpado pela discussão que tiveram, e Luísa sofria pela perda do bebê. Tentaram apoiar um ao outro, mas estavam imersos em seus próprios demônios, em seus próprios medos e tristezas. Não poder estar ao lado de Luísa naqueles momentos fazia Pedro se corroer em remorso.
E então o General Dumas apareceu em suas vidas. Dumas e seus comentários sobre Luísa, seus olhos desejosos na direção da mulher que Pedro amava. As histórias de Paris, a cumplicidade. E o ciúme, que Pedro nem sequer conhecia com aquela força. Uma sensação desoladora de que algo estava sendo roubado dele, de que alguém ameaçava aquela parte tão importante de sua vida.
Pedro odiou Dumas instantaneamente, mas sabia que tinha errado com Luísa. Deixou a raiva falar mais alto, foi injusto em suas acusações e questionamentos. Queria garantias de que ela não iria embora, de que não o deixaria, e acabou por afastá-la dele. Seu ódio por Dumas fez Pedro odiar sua aproximação com Teresa, com suas filhas, com qualquer parte de seu mundo. E isso também fez Luísa se afastar.
E por fim aquele pandemônio com Teresa e suas frustrações sendo lançadas à luz. A Imperatriz havia expulsado Luísa de casa, e ao ouvir os anos de sofrimento da esposa, Pedro sentiu-se ainda mais culpado. Não havia nada a fazer além de pedir perdão, pois não era indiferente à ela. Era sua esposa, a mãe de suas filhas, e não amá-la como deveria não era culpa dela.
Pedro nunca quis ser o motivo do sofrimento de alguém. Nunca quis que sua felicidade fosse forjada na dor de Teresa. Mas ouvir as palavras dela foi como sentir facas sendo cravadas em sua alma. Sabia, porém, que não se afastaria de Luísa apenas por aquilo. Sua felicidade seria mais importante, e ele jamais se afastaria da mulher que amava por Teresa.
Mas suas filhas ainda precisavam de Luísa. Isabel sequer sabia sobre o relacionamento deles. E por isso a condição implícita para a volta de Luísa à Quinta era óbvia. Os três sabiam disso. Era esse o motivo de estarem naquela situação. Luísa sabia que só poderia voltar se ela e Pedro não fossem mais um casal. E foi um encontro tão silencioso aquele, tão dolorido.
Nenhum deles precisou dizer nada. Pedro pediu perdão, tentando ignorar as lágrimas que corriam em seu rosto, e principalmente as lágrimas de Luísa. Um beijo de despedida, e então cada um montou em seu cavalo, deixando para trás o amor que sentiam um pelo outro, a casa onde foram tão felizes, e um futuro que imaginavam ter.