Capítulo 1

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POV VICTOR

- LEVANTA! EU NÃO SOU OBRIGADA A OUVIR O SEU DESPERTADOR A MANHÃ TODA NÃO!

Eu abro os olhos, meio assustado, enxergando tudo meio turvo, meu despertador tocando, celular vibrando embaixo da minha cabeça, e claro, minha irmã caçula aos berros do lado de fora do meu quarto, batendo na minha porta. Um caos.

- EU JURO, SE VOCÊ NÃO DESLIGAR ESSA MERDA AGORA, EU VOU DERRUBAR ESSA PORTA, EU NÃO SEI SE VOCE FICA VENDO PORNÔ A NOITE TODA PRA NÃO ACORDAR, OU TRANCAR A PORTA, MAS- eu abro a porta, ainda com o cabelo bagunçado e odiando a minha vida.

- Bom dia irmãzinha, dormiu bem? - ela ergue o corpo e aponta o dedo na minha cara

- Eu te juro que se você me acordar mais uma vez com esse negócio eu jogo ele pela janela.

Eu olho pro aparelho na minha mão.

- Vai jogar meu celular... pela janela?

- Se você não acordar amanhã, sim. - ela começa a andar pro quarto dela que fica apenas um metro do meu

- Claro, porque- ela fecha a porta então eu vou até a porta dela e grito - você é rica né! esqueci desse detalhe!

- Cala a boca e vai se arrumar Victor!

Então eu volto pro meu quarto, e, não porque ela falou mas porque eu realmente preciso ficar pronto, vou me arrumar pro meu primeiro dia na faculdade.

Eu imaginei que estaria mais animado, faculdade, curso de administração, cidade nova, finalmente voltando a viver com meus pais e com a praga que eu chamo de irmã. Mas tudo parece meio... normal, não tão mágico quanto eu esperava.

Quando eu tinha mais ou menos 5 anos, odiava brincar com as meninas da escola, não era o maior fã de vestidos, e queria que os garotos me vissem como um deles.

Desde que eu me lembro, não queria ser menina, não queria crescer e ser igual a minha mãe, e com certeza, não queria me chamar Vitória.

Então, um dia quando eu e Julia tínhamos, respectivamente, 6 e 3 anos, e brincávamos com os vizinhos, inventei de sermos uma família, eu seria o pai, uma menina seria a mãe, e Julia e os demais seriam nossos filhos.

Naquele dia pedi pra que me chamassem de Victor, porque como eu seria um homem, queria um nome mais masculino.

Creio eu, que até aquele momento, aquele foi um dos dias mais felizes da minha vida. Mesmo que fosse só de "brincadeira" ser tratado como um garoto fez com que tudo finalmente tivesse sentido, eu, mesmo que bem jovem, percebi que era assim que eu queria ser tratado durante toda a minha vida.

No dia seguinte no café da manhã, pedi pros meus pais pra me chamarem de Victor, porque eu gostava mais do que de Vitória.

Me lembro até hoje dos dois se entreolharem, olharem pra mim e falarem o "claro meu bem" mais estranho que eu já escutei na minha vida.

Mais alguns dias se passaram, e quando eu me dei conta estava em uma sala com uma moça muito simpática, que queria muito conversar comigo, anos depois descobri ser uma terapeuta, mas né, crianças.

Conversei sobre tudo com ela, sobre meus pais, sobre minha irmã caçula, sobre como eu estava empolgado em finalmente poder sair de casa com roupas que eram mais o meu estilo, e não ser mais obrigado a usar vestidos quase todos os dias.

Falei que Victor era um nome inventado, que eu criei pra mim, mudando um pouco o meu nome original, mas que parecia combinar mais comigo.

Ela me perguntou sobre como eu queria ser como crescer, e eu disse que não sabia direito, mas que entre meu pai e minha mãe, fazia muito mais sentido eu sendo como o meu pai.

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