Capítulo Extra 1.1

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Lucy POV


Entrou uma garota nova hoje na escola.

Ela parece super na dela, embora seja educada e aparentemente esteja se dando bem com todo mundo. E surpreendentemente, ela entrou pro clube de vôlei.

A gente acabou trocando meia dúzia de palavras por causa disso. Mas eu acho que eu me enganei sobre uma coisa: mesmo ela se dando bem com todo mundo, ela não é acessível. E não faz questão de ser. Ela traçou uma linha e mantém todos longe dela. E com maestria, diga-se de passagem.

Fiz um aceno de cabeça para Seth enquanto ele parava na porta do vestiário.

- Entraram muitas novatas? – perguntou, mas sua voz não demonstrava interesse nenhum. Não nelas, pelo menos.

- Uma. Parece que se transferiu recentemente – dei de ombros e meus olhos retornaram para dentro do ginásio, encontrando a garota nova fazendo algo que a capitã pediu, sozinha no lugar.

- Algum interesse? – voltei a olhar para ele, vendo seu olhar de desgosto e reprovação. E lá vamos nós, de novo.

- Por quem eu me interesso não é da sua conta. E nem com quem eu fico. Já estamos claros sobre isso – respondi, grossa. – Mas sim. Não vou negar que me interessei – mas ela não é pra mim e eu consigo perceber isso de longe.

- Tsc – me deu as costas e entrou e eu não aguentei segurar a risadinha.

Nossa vida seria tão mais fácil se o Seth não fosse o babaca preconceituoso que ele foi ensinado a ser. Infelizmente nada do que eu fiz até hoje o ajudou em algum ponto a entender como as coisas realmente são. E isso me entristece e me magoa muito.

Ouvi meu celular tocando no armário do vestiário, então entrei para pegá-lo e saí do cômodo, para poder atender em um lugar que ninguém fosse me ouvir quando vi que era a minha mãe.

- Aconteceu alguma coisa? – perguntei, preocupada. Minha mãe não me liga. Nunca. Só quando acontece alguma emergência.

- Seu pai. De novo – sua voz era baixa enquanto ela tentava disfarçar o quão abalada está. – Eu preciso que você não venha pra cá hoje. Ele bebeu – abri a boca pra tentar falar, mas ela me cortou. – Eu já saí de casa. Eu consegui sair antes que ele fizesse algo, não se preocupe. Eu estou bem – suas palavras dizem uma coisa, mas seu tom de voz diz outra.

- Tudo bem. Obrigada por avisar. Espero que esteja tudo bem mesmo – suspirei. – Foi à delegacia?

- Sim, acabei de sair de lá, mas falaram que, como ele não fez nada, não podem prendê-lo – riu com escárnio. – Não fez nada hoje.

- Esquece, não se estressa mais com isso – me meti, quando percebi que ela começava a soar histérica por causa de todo o estresse da situação. – Eu preciso desligar. Vou tomar banho e vou ir pra casa de alguém.

- Ok. Me desculpe por isso.

- Tá tudo bem. Tchau, mãe – me despedi e desliguei em seguida, respirando fundo. Se eu não tivesse brigado com Seth, poderia pedir pra ele pra ficar lá... Acho que eu não tenho escolha a não ser ligar pra ele e perguntar se tem problema... Ele é o único que sabe da situação e é o único que eu confio o suficiente pra isso...

Voltei para o vestiário e simplesmente paralisei quando abri a porta.

Lá dentro, me olhando com a cara mais irritada que eu poderia imaginar e, ao mesmo tempo, a mais assombrada, estava a garota nova. Pelada. E, bom... Que visão... Agora eu entendi o motivo dela se manter estrategicamente afastada: medo do preconceito. Só porque ela é uma mulher trans.

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