Faziam horas que ele estava ali.
Os pés de Neji já haviam deslizado tantas vezes naquela superfície rígida e fria que suas pernas poderiam refazer todo o caminho sozinhas, como se tivessem vida própria. E ele poderia dizer que era exatamente o que acontecia consigo agora: estava tão exausto que qualquer raciocínio, por menor que fosse, parecia um esforço hercúleo.
Permitiu-se um salto raso, apenas para esticar o corpo e começar a ponderar a ideia de encerrar seu expediente. Seu corpo inteiro latejava, o traje imperial comprimia seus músculos, aderia-se ao seu corpo e — ao contrário dos patins, aos quais o Hyuuga sentia que eram seus próprios pés — o incomodava, podia sentir os adornos caros sob a pele, e a sensação de pinicamento estava se tornando quase dolorosa. Apesar do vento frio — fruto de seus movimentos certeiros — que o atingia, ele sentia calor. Diria à empresária que encontrasse outro modelo, outro costureiro, qualquer coisa desde que não usasse aquele tecido carcerário outra vez.
E sabia que Tenten não ficaria nada satisfeita, mas ela não era o foco agora.
Tudo o que importava dentro daquele ringue era Neji, seus patins ziguezagueando no gelo, os movimentos sincronizados, quase cronometrados, as batidas ritmadas de seu coração e o olhar ferino do Hyuuga, suas orbes prateadas que pareciam absorver a platéia e deixá-la subjugada, atirada aos seus pés, hipnotizadas pelo espetáculo do garoto.
Porque nenhum árbitro, especialista ou qualquer pessoa poderia explicar o magnetismo que Neji exercia quando seus pés tocavam aquele gelo. Não que não o fizesse fora dele — nunca soube explicar, era assim desde que nasceu. As pessoas simplesmente orbitavam à sua volta, como se ele fosse uma espécie de astro maior. Mas nada se comparava ao que acontecia quando as notas ecoavam, os primeiros passos eram dados e aquela cor peculiar invadia sua mente, tão rápido quanto um suspirar.
Naquele momento, ele era a gravidade.
Atraindo todos os olhares, a admiração. Cada milímetro de sua pessoa era analisada com devoção, desde o suporte de aço dos patins até o último dos seus fios castanhos, elegantemente penteados para a ocasião. Neji era como um cisne, flutuando naquele lago, ameaçando levantar voo e enlouquecendo a platéia, arrancando gritos e urros, palmas apaixonadas. As pessoas olhavam para ele e era isso que viam: paixão. A brutalidade de seu amor, o impacto com o qual as atingia, era isso o que prendia aquelas pessoas à Neji.
Ele era como um vício insaciável.
E na noite de abertura dos jogos olímpicos de Konohagakure, o Hyuuga traria para o mundo o sentimento efêmero da overdose, aquele seria seu maior triunfo. Porque em meio à coreografia dramática de believer, ele executaria um raríssimo axel quádruplo e pousaria de modo suave na pista, literalmente dançando no gelo até seu grand finale — a sequência de três giros simples, outro axel quádruplo e uma belíssima reverência àqueles que o assistiam.
A visualização da cena o animou — Neji não se sentia cansado agora, a adrenalina circulava suas veias e fazia surgir um mostrar de dentes sonhador nos lábios do garoto. Revigorado, ele parou, apenas para tomar impulso e patinar sobre o ringue. As lufadas de ar batiam contra ele, maltratando os cristais e fazendo-o sentir-se livre. Bailou para um lado, para o outro, giros e mais giros convulsionaram seu corpo numa bela dança, até que todo o lugar havia sido conquistado pelo homem outra vez.
Neji se preparou, deu uma volta. Na segunda, ele já tinha o corpo posicionado, tudo em seu devido lugar. E foi — um giro. A primeira respiração saiu, condensada. Dois giros, ele mal podia se conter. Três giros, tudo era tão rápido. Quatro giros, mas parecia tão lento ao mesmo tempo. Quatro giros e meio, era o começo de seu recorde. Ele aproveitou sua oportunidade, deu um urro de puro prazer, comemorando sua façanha enquanto seu pé absorvia o impacto da descida, e o Hyuuga deveria fazer parecer o mais delicado possível. Ele deslizou, veloz, pelo ringue. Não percebeu um dos cristais separar-se de sua roupa e estatelar-se no gelo.
Tinha feito aquilo tantas vezes, tudo estava perfeito. Disse a si mesmo que aquela seria a última naquela noite, ou acabaria cansado demais para treinar no dia seguinte. Ele executou com paciência a coreografia, quase de forma dramática e preparou-se novamente: contou três giros consecutivos, deslizando por meio segundo e pegando impulso para seu axel quádruplo. No entanto, algo aconteceu — inexplicavelmente, os pés do Hyuuga vacilaram no salto, dando-lhe uma breve e desesperadora sensação de desequilíbrio. Continuou a manobra e, com o tempo, milésimos de segundos que pareceram uma eternidade, conseguiu estabilizar-se outra vez, distraído demais para perceber que não tinha apoio para aterrizar.
Antes que ele pudesse se dar conta, aquele espetáculo febril se tornou um show de horrores. Neji estava na terceira volta quando seus pés o traíram, movendo-se desastradamente para a esquerda. Ele buscou apoio, mas nada tinha além de silêncio ao seu redor, as mãos tentando agarrá-lo. Em vão. Numa medida desesperada, deu uma pirueta no ar, sentindo a vertigem que lhe era tão familiar no início da carreira.
Ele caiu, batendo as costas em cheio na superfície gélida do ringue. Primeiro, veio a desorientação, não conseguia ver muito ao seu redor, sua cabeça girava, ele não ouvia nada além da própria respiração. Foram segundos extensos, mas ele ainda seria capaz de lembrar.
Neji gritou quando a dor inexorável veio. Não por ter batido em cheio naquele gelo, não por possivelmente ter fraturado uma costela ou algo do tipo tão próximo da competição, ele teria suportado tudo isso. Não porque provavelmente tinha quebrado um dos braços, ou porque a temperatura lhe dera cortes nas mãos. Era muito pior.
Tentou mexer as próprias pernas, apavorado. Não o obedeceram.
Neji Hyuuga ficou imóvel, tentou respirar com calma. Aquilo não podia ser verdade. Lágrimas escorreram dos seus olhos arregalados quando percebeu que seus membros inferiores estavam inertes, apesar de seus comandos.
Não muito longe de seu desespero, estilhaços de cristal brilhavam numa ironia amarga. Aqueles adornos que deveriam iluminar sua mais completa ascensão haviam sido o minúsculo pilar de sua ruína.
O patinador estava paraplégico.
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Oi meus amores, tudo bem?! Espero que sim!
Estou muito feliz por finalmente postar essa história aqui, espero que gostem dela!!!
O que me dizem desse prólogo? Alguma teoria? Qual foi a reação de vocês???? Tô loucaaaaaaaaaa pra saber!!
Vou deixar aqui (nos comentários) o link da manobra que o Neji fez, pra quem não conhece direito o esporte e ficou com dificuldade de imaginar (like a autora antes de pesquisar pra fazer a fanfic ksksksk) e claro, outros linkszinhos porque links são a alma do negócio, né não?!
Jajá atualizo QNCNA!!!
Um beijão, amo vocês!
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A Garota dos Cabelos Róseos ♡ NejiSaku
FanfictionFazia algum tempo que Neji se sentia caindo - preso à vida e rotina de um cadeirante, o ex patinador amaldiçoava o dia em que decidiu realizar o quadruple axel e estatelou-se no gelo, despedindo-se de uma vida perfeita e todo o glamour que ela poder...