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Tryn e Kolly vem todos os dias ao meu quarto me entregar livros novos e colocar o papo em dia. Estou adorando esse tempo livre e sinceramente, os mimos de Eris estão aumentando demais meu ego. Às vezes ele traz o café da manhã e come junto comigo. Confesso, ele é uma pessoa legal. Mas ainda preciso manter distância dele para não...ficar com calor demais. E para a própria a segurança dele. Se Cassian souber que estou trabalhando para ele... não sei o que é capaz de fazer.

Tryn me entregou um livro ontem e eu simplesmente não consigo largar ele. A história é envolvente demais e Tryn disse que as cenas adultas são as melhores.

Me ajeito na cama quando percebi que estava chegando nessa parte mas ouço batidas da porta. Fecho o livro rápido e o jogo bem longe. Eris entra no quarto usando aquele colar. Cerro o cenho. Então ninguém tinha roubado, ele só achou.

—Como está se sentindo? — ele pergunta e pega o livro que eu tinha jogado no chão e coloca na prateleira.

—Normal.

Eris me observa por alguns segundos. Já haviam passado semanas desde o sequestro e eu estou 100% curada já. Mas toda essa folga... não quero que acabe. Às vezes Eris faz massagem nas minhas costas, tocando de leve em minha asa. Não sei se ele sabe que elas são sensíveis...

Eris dá de ombros e pega o livro novamente da prateleira. Ele se senta ao meu lado e estica as pernas na minha cama. Ignoro o contato de seus pés quentes com os meus.

Pela Mãe. Eris abre a página onde eu tinha marcado e começa a ler em voz alta.

—Esse tipo de coisa que fica lendo? — ele olha para mim surpreso e sinto meu rosto esquentar. Tento pegar o livro da mão dele, mas ele se levanta e continua lendo.

O pior de tudo é que a narrativa vai ficando cada vez mais obscena e se eu pudesse me jogar da janela, faria isso.

—Pela Mãe, eles estão fazendo isso tudo em público? — ele pergunta e olha para mim como se eu soubesse a resposta.

—Eris, me dá esse livro — falo firme e ele sorri de lado, se aproximando devagar.

—Gosta de fazer coisas inapropriadas em público, Hyrin? — ele pergunta e uma onda de calor toma conta de meu corpo.

—Não é da sua conta — suspiro para tentar me acalmar.

—Mas talvez um dia possa ser — ele dá de ombros. — Pode levantar, sei que está fazendo corpo mole. — ele coloca o livro de volta na prateleira e sai do meu quarto sem falar mais nada.

🔥

Grewn me atualizou sobre minhas missões e parece que algo deu errado com Bohne e sua facção. Ele não especificou mas disse que eu teria um probleminha pra enfrentar.

Coloco uma capa laranja claro e confiro se as adagas estavam bem presas na minha perna.

Antes de sair do quarto, um papel surge em cima da minha mesa e minhas mãos começam a suar. Havia algumas semanas que eu não mandava nenhuma carta para meu pai e com Nyx aqui...ele deve estar sabendo de alguma coisa.

Porque está ficando tanto tempo na Outonal? Nyx ainda não voltou também. Devo me preocupar?

Engulo em seco e apesar de não estar assinado, a letra bagunçada de meu pai dá a entender que ele escreveu com pressa.

A cidade é receptiva. Você adoraria.

Consigo ouvir um rosnado baixinho e gargalho. Meu pai não aguenta ouvir da Outonal. Simplesmente não suporta esse lugar. E acredito que é por conta de Eris, ou algo relacionado a Mor. O que torna tudo mais difícil…

Ele desiste de mandar uma resposta e saio do quarto. Preciso tomar mais cuidado, já que Hemety ainda está pela cidade e creio que não pretende sair daqui tão cedo.

Vou direto para a casa de Bohne e sou recebida por olhares desconfiados dos capangas dele. Inclusive Guillan. Cerro o cenho para ele. Algo está muito errado, já que Guillan continua sendo apenas um capanga qualquer.

—Que surpresa boa — ouço a voz de Bohne e me viro para ele devagar. Ele está encostado em uma parede, olheiras fundas nos olhos e uma adaga nos dedos.

—Você não parece bem — falo e ele sorri de lado. Alguns machos se aproximam por trás de mim, segurando espadas de uma forma discreta.

—Não sabia que seria capaz de me trair dessa forma — ele olha para mim e vejo os olhos dele marejarem.

—Sempre deixei claro que não gosto de você e essa gangue — me aproximo de Bohne e vejo uma lágrima descer pelo seu rosto. —Queria que você estivesse livre disso tudo para que eu pudesse fazer o que me mandaram — explico o mais baixo que posso mas ele negou com a cabeça.

—Está trabalhando para quem? — ele cruza os braços e observo o cômodo que estou. Talvez esteja rodeada por 6 machos ou mais. Dou conta. Mas não quero machucar Bohne.

—Sabe que eu não vou falar — encolho minhas asas e a lembrança da dor que senti faz eu me encolher ainda mais. Maldita seja Hemety.

Bohne percebe minha postura e me analisa por alguns segundos. Ele olha para minhas asas e vê as cicatrizes.

—Estão machucando você? — ele pergunta preocupado e eu rio pelo nariz.

—Qual é a sua? Vai fingir que se importa agora? — abro os braços para os machos preparados para me atacar a qualquer hora. Bohne parece voltar para a realidade e levanta o queixo. — Você sabe, mais que ninguém, que posso acabar com isso rapidinho. Então porque não só conversamos? Não estou afim de sujar minhas unhas — falo entredentes bem perto do rosto dele.

Bohne já me viu acabar com quase 20 soldados de uma vez, e isso não é tudo o que tenho. Ele sabe do que sou capaz e sabe que se eu decidir partir para a violência, as coisas não vão ficar bonitas por aqui.

Bohne me encara, parecendo calcular suas chances. Deixo ele perder tempo e sorrio quando vejo a frustração em seu rosto.

Ele se senta em uma cadeira, porém eu continuo em pé.

🔥

Explico toda a situação, depois de pedir para que os outros machos saíssem da sala. Deixei de lado a parte que eu era uma espiã do Grão-Senhor da Outonal e acho que Bohne acreditou em todas as baboseiras que eu disse. Cada palavra ensaiada meticulosamente horas antes de eu sair. Meu pai sempre me ensinou a estar preparada para tudo, até para as situações que eu não gostaria que acontecesse. Como esta, por exemplo.

—Sinto muito — Bohne fala e eu seguro a vontade de sorrir.

—Preciso que saia da chefia, Bohne. Estou falando sério.

Dou as costas para sair logo desse lugar, mas paro de repente. Guillan tinha jurado que não contaria o que eu fiz. E eu me lembro muito bem do brilho no olhar dele com a possibilidade de assumir a chefia dessa gangue. Ele queria isso. Ele não iria contar tudo para Bohne.

—Quem te contou? — pergunto e encaro os olhos azuis claros de Bohne.

—Uma fêmea... não sei o nome dela. Nunca a tinha visto antes. — ele responde e cerro o cenho.

—Quando?
—Semana passada.
—Como ela era?
—Tinha os cabelos brancos como o meu mas não era da Invernal.

Isso foi suficiente para me tirar do sério. O Caldeirão que me desculpe, mas as coisas que estou pensando em fazer com Hemety...nem Azriel gostaria de ver. E foi ele que me ensinou tudo o que sei sobre tortura.

notas da autora:
Eris nn perde uma oportunidade né aiai 🛐

Cortes de Chamas e MemóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora