Os Sete Guardiões

I

E ENTÃO OS DEUSES DESCERAM DO SEU PALÁCIO PARA A TERRA, TRAZENDO CONSIGO A JUSTIÇA, A LIBERDADE, O AMOR, A PAZ, A FIDELIDADE E A SOLIDARIEDADE.
Esses escolheram seis humanos para representar os valores da vida e os presentearam com pedras mágicas, que os ajudariam a lutar contra o maior mau que ameaçava a Terra e tudo que nela habita: os nihil.

"Vovó contava assim" acrescentou Pedro, ao contar a história para os amigos que tentavam se aquecer com um cobertor no sofá velho e empoeirado. Os meninos Tiago e João o zombavam pela história que ele dizia que era real mas o pequeno continuava batendo o pé dizendo que ele não estava inventando e então outra discussão entre eles se iniciou, seguida por uma guerra de travesseiros entre os três e ofensas do tipo "você não sabe de nada, seu cabeça de bagre!". Diana, no entanto, estava com a cabeça em outro lugar. A garotinha tinha certeza que já ouvira essa história, mas não conseguia recordar onde e quando. A sensação de déjà-vu a causou um calafrio, fazendo com que ela se jogasse ainda mais para baixo das cobertas, pensando que aquilo era culpa de alguma telha rachada.

Definitivamente a sede do clube da galera não era o melhor lugar para se estar naquele frio, mas as crianças se recusaram a ir para algum lugar com adultos. Prometeram que durante as férias de inverno não passariam um dia trancados em casa, a não ser que fosse na casa abandonada do fim da rua que as mães e os pais deles haviam reformado. Os pais das crianças estavam cansados de toda a bagunça em suas casas, mas não esperavam que fizesse chuva, sol ou neve as crianças ficariam naquele clubinho.

-Ele não tá inventando- disse Diana- eu também conheço essa história!

-VIRAM SÓ?- Pedro gritou enquanto pulava no sofá ao lado de Diana, pronto para se tapar novamente com os amigos -Chega pra lá, Diana!

-Quanta educação, Pedro, quanta educação.- a menina responde, tentando arrumar a touca que se soltava dos cabelos encaracolados.

Pedro e Diana eram como gato e rato, os amigos diziam. A qualquer oportunidade que o menino tinha de incomodar ela, ele o fazia, e a menina de gênio forte tentava revidar com classe mas sempre acabava fazendo um escândalo depois de mais algumas provocações. Adultos que olhavam de fora poderiam dizer que "é amor" e que "futuramente vão casar", mas os amigos sabiam que algo que daria muito errado seria Diana e Pedro dividindo a mesma casa por mais que um final de semana.

-Fala aí então, Diana, qual o resto da história? O que essas pedras fazem?- João, o menino negro de cabelos raspados e jaqueta azul pergunta.

Mari e Iara também estavam ansiosas para ouvir a história, mas acabaram se decepcionando ao ouvir que nem Diana e nem Pedro conheciam mais do que aquilo. Elas pularam animadas quando Thiago sugeriu que já que Diana e Pedro juravam que aquela história era real, eles deviam ir à biblioteca procurar um livro com ela.

-Oras, Pedro, você não disse que é uma história sobre deuses e que sua avó acreditava neles e você também? Toda história sobre deuses tem um livro!- Exclamou Tiago, pulando do sofá e puxando o amigo consigo.

As crianças então botaram os capuzes dos casacos, calçaram as botas e foram em direção a biblioteca.

Na rua, as bochechas de todos estavam rosadas por causa da geada que caia a qualquer horário do dia, até mesmo em Pedro, Diana, Iara e João que eram pretos era possível ver de longe feridinhas causadas na pele por causa do frio. Mari lutava contra esse frio com duas toucas e um cachecol, já que os cabelos loirinhos que lembrava trigo eram tão fininhos que mal aqueciam sua cabeça.

No meio do caminho, Iara também sugeriu que eles fossem até a locadora.

-Iara, a nossa avó não rezava para o percy Jackson- disse Pedro, revirando os olhos.