Senhoras e senhores, o Prata

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O barulho constante de uma máquina apitando me tirou da escuridão.

Meu olhos abriram com tamanha velocidade que até mesmo eu fiquei surpresa. A luz clara da manhã foi o bastante para me cegar e fazer meus olhos se fecharem de novo. Mas isso não me impediu de grunhir com a dor de cabeça que já me dava bom dia.

Resmunguei alguns palavrões ao me recostar de maneira diferente nos travesseiros e tive que ceder toda minha concentração para não vomitar e desmaiar de novo.

Minha mão foi instintivamente para a minha cabeça, como se a dor de cabeça fosse milagrosamente passar apenas com um toque de meus dedos. Tentei me concentrar o suficiente para abrir meus olhos, mas isso me rendeu um apito agudo e incitante nos meus ouvidos.

Tentei me mover mais, apenas o suficiente para ficar sentada, mas congelei meus movimentos com um grito mal contido dentro da minha garganta. Meu machucado...

Como se em uma ordem silenciosa, meus olhos se abriram para inspecionar o curativo.

A luz ainda trazia a desagradável resolução da minha dor de cabeça, mas tive que empurrar a sensação apenas por tempo o suficiente para saber que não estava prestes a morrer por uma necrose na minha pele.

Não que com os curativos brancos como neve eu fosse capaz de ver qualquer coisa. Curativos novos, eu percebi. Trocados a menos de trinta minutos atrás.

Voltei a inspecionar o meu corpo.

Uma agulha estava no meu braço, trazendo a sensação de um líquido gelado dentro das minhas veias. Olhei para onde a agulha estava ligada e encontrei uma série de aparelhos e remédios, entre eles um que mostrava meus batimentos cardíacos, o dono do apito constante.

Respirei fundo, contendo outro gemido de dor quando o ato causou um repuxado nos meus pontos, e tentei olhar em volta em busca de algo ou alguém. Minha boca estava tão seca quanto um deserto e minha lingua estava mortalmente pesada dentro dessa. Eu precisava de um balde de água urgentemente.

Minha visão custou a focar, permanecendo embaçada por um bom tempo até eu identificar a figura turva do meu lado. Só então, depois de algumas piscadas, que eu fui capaz de discernir Agatha de uma pilha de roupas em cima de uma cadeira.

Seus cabelos grisalhos estavam presos impecavelmente em um coque, seus olhos castanhos doces mas aguçados ao me olharem. Sua expressão facial me lembrava a de quando Tia Diane brigava com Amanda: uma raiva misturada com ternura e preocupação. Nunca havia recebido um olhar daqueles, minha mãe nunca se importou o suficiente comigo para me dar um.

Mas cá estava eu: suando de uma febre ainda existente, com um machucado infeccionado e recém costurado, com dores em partes do corpo que eu nem sabia que existiam - além de dores emocionais que a muito eu não sentia - e com a cara de quem dormiu em uma rocha vulcânica ao invés de uma maca semi-comfortável. E ainda assim, sentia que se ela fosse capaz de falar eu estaria escutando um monte agora.

- Olha eu- - eu tentei começar, mas a falta de água no meu organismo me levou a um ataque de tosse antes que pudesse dizer algo de útil.

Escutei Agatha suspirar e se afastar um pouco da cama. Segundos depois ela estava do meu lado de novo, um copo de água em mãos e um copinho com comprimidos do lado, sua cabeça balançando em decepção.

- O-Obrigada... - eu fui capaz de dizer antes de dar uns bons goles de água e quase acabar com o copo inteiro. Respirei fundo quando senti o frescor do líquido descer pela garganta e, de uma só vez, entornei os comprimidos e o restante da água.

Agatha não esperou meu sinal e pegou o copo de minha mão, o colocando na mesinha do lado. Sem mais nem menos, ela começou a me inspecionar. Ela colocou um termómetro em mim, enquanto colocava um estetoscópio em sua orelha e escutava a minha respiração.

A Verdadeira História de Uma AssassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora