conto de terror

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Matamos?

Memórias rasas atravessam minha memória.

Talvez eu esteja enganado.

Talvez não seja verdade.

Talvez seja tudo apenas um pesadelo.

Creio que eu nunca mais acorde desse pesadelo.

Lembro-me da primeira vez em que vi um morto em minha vida, estava no funeral da vovó Carla, ela estava tão fria e pálida que nem mesmo a exagerada maquiagem conseguiu retirar a expressão sem vida de minha vó, uma pena já que era ela uma belíssima idosa.

A sensação sempre será a mesma. Como um vazio estivesse ali e a morte estivesse apenas olhando a cena esperando o momento certo para levar a alma condenada que um dia esteve entre os vivos. A palpitação do coração, os movimentos de diástole e sístole acelerados, a respiração desregulada e a boca seca. Como se todos os seus membros superiores e inferiores, por algum motivo, tivessem parado de funcionar e por segundos seu corpo permanecesse imóvel em uma única posição: a mortal. Aquela posição de desespero, com o horror presente no brilho fosco do olhar, sim, sim, sim, aquela posição é a mortal.

A morte sempre será uma incógnita. Nada é capaz de explicar o que ocorre depois que a morte bate em sua porta e o sequestra pela escuridão e duvida do que será depois que o último suspiro for dado. Muitos acreditam no paraíso e condenação, eu não acreditava nisso até sentir como é ter a morte apenas um passo de distância de seu corpo. Tudo depende do que acreditar, já que nada é certo, o nosso cérebro tende a acreditar no mais viável para nós, sendo real ou não, comprovado ou não, é um fato que o cérebro sempre irá pensar o melhor para a nossa estúpida existência.

Eu gostava de pesquisar sobre o cérebro humano. Era interessante descobrir como o órgão mais forte é. Nick e eu pensávamos no corpo como um jogo de xadrez, o coração sendo o rei, sem ele o jogo acaba, mas o cérebro sendo como a rainha, a peça mais forte do tabuleiro, o cérebro é forte, se ele morre podemos dizer que o resto do corpo tornou-se um grande vegetal, sem o cérebro nós tornamos a nossa existência inútil e desnecessária.

Alguns me chamam de louco, desmiolado e sem cérebro, mas eu gosto de pensar que sou o oposto. Meu cérebro mandou-me pistas incríveis sobre esse jogo, lutei como a rainha, fui rápido como o cavalo e forte como o bispo.

Tudo começou no acampamento de xadrez do estado. Era o esporte mais prezado pela cidade, o esporte que não exercitava os membros fracos do corpo, o esporte que exercitava o órgão mais forte do corpo, desenvolvia a mente e deixava a boa sensação de um bom xeque-mate. Ganhar era um bônus, o importante era jogar fortemente, impedir que suas barreiras despencassem e ,caso despencassem, fossem reerguidas até não sobrar mais nada e o xeque-mate ser feito com fervura e ardor de um vencedor.

Centenas de adolescentes em um mesmo local com um mesmo objetivo era de enlouquecer. Todos apenas focados em exercitar suas táticas esplêndidas. Aqueles que outros alunos da escola chamavam de nerds, esquisitos, dois olhos, estranhos e os outros adjetivos que um dia foi direcionado a cada um daqueles jovens inclusive a mim estavam juntos como uma barricada e dificilmente seriam derrubados pelos medíocres.

Eu poderia dizer como o inicio havia sido grandioso, poderia dizer como me apaixonei por um garoto angelical na aparência e o verdadeiro diabo no tabuleiro, ele era incrível, estava ao meu nível e lamentavelmente éramos do mesmo grupo, caso contrário, ele teria sido um adversário formidável. Eu era apenas um garoto no paraíso, mas que me deixei consumir a obsessão do jogo.

Meu grupo era constituído por quatro pessoas. Eu, Nick, Louis e Amélia, cada um possuía seu papel nos jogos, cada um.
Eu gostava de jogar contra Louis nos treinos, o meu garoto era incrível nas jogadas, aqueles olhos azuis brilhavam com o brilho do sol, ele costumava colocar uma pequena parte da língua entre os lábios quando estava extremamente concentrado e eu achava isso belo. Eu gostava de cada característica dele, sim, sim, sim, ele era meu garoto dos olhos azuis.

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⏰ Última atualização: Dec 09, 2021 ⏰

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