And if you never bleed
you're never gonna grow
and it's alright now.
- The 18 DE DEZEMBRO DE 1941
Massageava as costas do marido enquanto os pensamentos vagavam para o almoço que teria no clube da cidade com as amigas no dia seguinte. Amélia amava esses momentos só com as mulheres. Colocavam todas as fofocas em dia, trocavam novas receitas e dicas de como ser uma esposa excelente - Amava ouvir os incontáveis elogios de Gerald quando colocava as dicas em prática. Sentia-se completa ao saber que estava indo muito bem em algo que foi criada para ser: a esposa perfeita.
Enquanto isso, o homem prestava atenção ao jornal que assistia todos os dias às sete horas. Gerald não gostava de assistir tantas desgraças serem noticiadas e tinha uma certa preferência por novelas, mas havia encontrado no noticiário uma maneira de se encaixar no ambiente de trabalho, onde todos os homens só sabiam falar sobre a guerra que acontecia naquele momento e sobre quais seriam os próximos passos de Hitler.
Cada um mantinha-se submerso em seus próprios pensamentos. Não se incomodavam com a falta de diálogos entre eles e no fundo até preferiam dessa forma. O marido não se interessava pelos assuntos de Amélia e a considerava terrivelmente fútil e Mia estava sem vontade de tentar puxar algum assunto.
Quando Franklin Roosevelt, atual presidente dos Estados Unidos da América, apareceu na televisão e anunciou que faria um pronunciamento ao vivo, o interesse do casal tornou-se o mesmo. Todos sabiam que boas notícias não sairiam dali, sabiam pela situação terrível que o mundo se encontrava e pela aparência do líder do país.— Aumenta o volume, Ge. - Amélia o pediu e o rapaz procurou pelo controle remoto. - Parece importante.
Roosevelt começou o discurso informando sobre o ataque à base naval de Pearl Harbor no Havaí, realizado no dia anterior pela marinha japonesa. Ainda não tinham números oficiais com a quantidade de mortes, nem mesmo conseguiam mensurar o prejuízo obtido, mas uma coisa era certa: o país não aceitaria o ataque de bom grado.
O presidente, com todo seu discurso patriota, pedia e convencia as pessoas a se alistarem no exército. E, então, informou o que todos já previam: Estados Unidos entraria na segunda guerra mundial.
Gerald desligou a televisão e respirou fundo, sendo abraçado pela esposa logo em seguida. Ela imaginava como ele se sentiria, sabia do amor pelo país que o homem nutria. Por um momento, sentiu muito por ele.
— Se não fosse pela minha perna, eu me alistaria amanhã mesmo. - Gerald comentou enquanto olhava para cima, tentando evitar que as lágrimas caíssem. Havia sofrido um acidente quando há cerca de dois anos quando ainda era do exército e levado um tiro de canhão no membro inferior. Gerald viu parte da perna ser destroçada. - Merda.
— Não fique assim, amor. - Ela se agachou ao lado do homem e o acariciou no rosto. - Não é culpa sua.
— Eu sei e é exatamente isso que me deixa dessa forma. - Suspirou. Lamentar-se não era seu perfil. Trocaram um rápido beijo e Amélia sorriu, na tentativa de o passar conforto.
— E se eu fosse no seu lugar, querido? Te representar e representar nossa família. - O olhou com expectativa. Se ele não conseguiria, ela o faria por ele.
Gerald gargalhou. Ela pôde jurar que viu até mesmo algumas lágrimas rolarem pela face dele de tanto que ria. Se ofendeu com a ação. Não havia contado piada alguma, afinal.
— Mia, você tá falando sério? – Disse, quando viu que ela não o acompanhou nos risos. - Eu me sairia melhor que você mesmo nas minhas condições atuais. Você mal consegue andar pela casa sem esbarrar nos móveis, imagina correr e se esconder num combate? Seria morta na primeira semana.
— Eu não seria morta na primeira semana não. - Era perceptível a raiva no tom de voz dela, que logo suavizou para que o marido não achasse ruim.
— É verdade, querida, seria nos primeiros dez minutos. - Balançou a cabeça, ainda rindo. - Fico feliz com sua atitude, mas não é necessário.
Os dois voltaram para o silêncio e Amélia ainda o massageava, agora com mais força, propositalmente.
— Supondo que você fosse, o que iria fazer? Cozinhar? Os soldados recebem comida enlatada. - Quebrou o silêncio depois de alguns minutos. Amélia se mostrava patética às vezes. Ele jurava que era apenas para irritá-lo.
— Eu poderia atirar, Gerald, você sabe como minha mira é ótima. Talvez pilotar tanques e aviões também fosse algo excelente. Você sabe como eu aprendo rápido.
— Você fala sobre tudo e sobre tudo o que poderia fazer como se fosse uma viagem de férias. - Revirou os olhos. - Não seja imatura, baby. Você não vai.
Amélia Fernandes respirou fundo e o olhou com ódio, dando o sorriso mais irônico possível. Ela se alistaria e nem Gerald nem ninguém a impediria disso.
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ILLICIT AFFAIRS • HARRY STYLES
RomanceA maior arma usada em uma guerra é o amor. Amélia e Harry perceberam isso quando o maior objetivo deles era, acima de qualquer disputa de poder e território, proteger um ao outro.