Capítulo 9

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— Meu Deus! Então...então? O próprio pai abandonou os filhos pequenos? Por quê? Meus primos foram abandonados pelo próprio pai? – Bianca chora inconsolável com a história minha e de Márcio.

— Quando eu falei que a história se repetia, é que seus avós haviam morrido quando os seus pais eram crianças, num acidente de carro. Seu pai, Bianca, e sua mãe, Márcio, herdaram o restaurante que os pais deles deixaram. E com isso conseguiram estudar, o que foi garantido pela justiça, que deu a tutela dos pais de vocês a um casal amigo dos seus avós.

— Uma coisa eu ainda não consegui entender. Por que o meu pai precisou se fazer de morto? Se ele estava viúvo. Não havia impedimento para ele ficar com essa mulher.

— Pelo que Fernanda me contou, a amiga Geralda não queria criar vocês e convenceu seu pai a forjar a própria morte, para entregar você e Débora para um orfanato, onde vocês ficaram até serem adotados por uma mulher que recebeu dinheiro de Geralda. Onde vocês ficaram até irem morar com a Bianca, na casa que o pai havia deixado para ela.

— Quando saímos do orfanato e fomos morar com a dona Rute, eu estava com sete anos e a Dé com nove. Saímos da casa dela cinco anos depois. Ela não gostava da gente e nunca entendemos o porquê de ter nos adotado. Agora está explicado, ganhou dinheiro para fazer isso. A dona Rute tinha dois filhos: a Jocélia na época com quinze anos e Josevaldo com doze.

— Quando minha irmã voltou novamente para Salvador, muito anos depois, com os dois filhos: Júlio e Raquel, já adolescentes, trouxe também uma garotinha ainda pequena, na época com uns quatro anos. Ela dizia que era filha de uma empregada muito humilde da fazenda e que ela pegou para criar. E só a pouco tempo atrás eu descobri que Patrícia era na verdade filha do mesmo homem que era o pai dos filhos dela. E que continuou sendo seu amante depois que ela ficou viúva, mesmo ele sendo casado com outra mulher.

"Fernanda, com a ajuda de Geralda, comprou a filha do amante quando nasceu, para que ele nunca ficasse sabendo. Essa bebê era dessa jovem Jocélia, filha da mulher que criou você e Débora. Que ao descobrir que a filha, ainda uma menina de quinze anos, estava grávida de um homem bem mais velho e que jamais assumiria ela ou o bebê, acabou concordando em ficar calada e por dinheiro, deu a neta logo que nasceu ainda no hospital, para Geralda, que depois entregou para Fernanda. O amante de Fernanda nunca soube que Patrícia também é filha dele."

— Quando descobri tudo isso fiquei tão indignada com a minha irmã. Ela e a amiga eram duas bandidas. Destruindo vidas e tomando a felicidade das pessoas nas mãos. Com isso cortei relações com Fernanda e fiquei anos sem querer qualquer contato com ela.

"Até que o meu sobrinho Júlio foi me procurar e contou que ia se casar. Levou o convite e implorou para que eu fosse uma das madrinhas do casamento. Acabei cedendo e aceitando o convite do meu sobrinho, e foi no casamento que eu soube que a minha irmã não estava de acordo, como também não gostava da jovem que ia casar com o filho dela. E durante a festa do casamento quando eu resolvi ir falar com ela, me mostrou seu total descontentamento com aquele casamento."

— Eu não quero parabéns por estar entregando o meu filho lindo, competente, um partido promissor nessa cidade, para essa... essa negrinha sem eira nem beira. Uma pobre coitada e ainda por cima órfã.

— Fernanda! Como pode falar assim, minha irmã? Só de olhar pra essa menina a gente se encanta com a doçura e a delicadeza dela. Além de ser uma moça linda!

— Vocês se contentam com qualquer uma com cara de anjo. Mas eu só estou permitindo essa loucura porque a Geralda me garantiu que será por pouco tempo e, no final meu filho ficará muito bem financeiramente.

— Do que você está falando, criatura? O que a Geralda tem a ver com o casamento do Júlio com essa jovem?

— Quer saber? Me esquece, Yolanda! Eu vou sair e só volto quando essa tragédia tiver terminado.

"Eu acabei me aproximando da Débora. De vocês. Até para protegê-los das maldades da minha irmã. E como sabem, eu me apaixonei pela minha Débora. Minha menina carinhosa e boa como um anjinho.

— Puta que pariu! Eu tô enojado. É muita sujeira. Bandidagem. Essa mulher e a amiga dela são uma quadrilha de bandidos junto com o homem que se dizia meu pai. Eles precisam ir para cadeia! E é isso que vamos fazer! Eu vou acabar com a raça desses bandidos se ousarem tocar num fio de cabelo da minha irmã.

— Compreendemos sua raiva e sua revolta, Márcio. Se quer ajudar sua irmã e até mesmo proteger sua própria vida, é melhor fazer tudo de maneira sigilosa e com cautela. Tenho um amigo detetive e posso falar com ele...

— Espera um pouco! Qual é o seu real interesse nisso tudo, doutor? Por que quer tanto nos ajudar? Não nos conhecia! Não somos seus amigos! E está aqui se metendo numa história que não lhe diz respeito?

— Márcio!? Que tratamento é esse com alguém que só está aqui para nos ajudar? O doutor Luciano não é o culpado pelo que está acontecendo. – Bia se coloca diante do meu irmão, bem irritada.

— Deixa, Bianca. O Márcio não está errado em desconfiar diante de uma situação como essa. A verdade, é que ao chegar aqui para fazer o atendimento a sua irmã, eu fiquei muito curioso em entender o que poderia ter causado um choque paralisante tão prolongado, numa jovem de apenas vinte e quatro anos. E então encontrei o bilhete que me deu algumas respostas. E isso me perturbou demais. No entanto, não foi apenas o problema de sua irmã que me fez querer entrar nessa briga e ajudar vocês. Foi também o meu total encantamento pela sua prima Bianca. Eu me apaixonei por ela.

— Doutor Luciano... por favor... - Bia fica rubra de vergonha.

— Estou apaixonado por sua prima e estou disposto a comprar essa briga. E é bom que saibam que essas informações sobre o propósito desse golpe hediondo, eu só estou sabendo agora.

— O que quer dizer com isso? – Márcio continua firme.

— Que para mim está muito claro o objetivo final desse golpe, que é colocarem a mão na herança que certamente vocês têm direito por parte do seus pais, herdeiros do avô paulista milionário. E o meu amor por você, Bianca, foi no primeiro momento que te vi.


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