Capítulo 6 - A gente sonha - e é bom ficar sonhando -

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[POV Sue]

As portas do elevador abriram e eu fiz meu habitual caminho até o quarto 74-A, Emily me seguiu, fazendo questão de me deixar na porta do quarto, sã e salva.

- Então... tá entregue - ela disse, assim que chegamos em frente à porta, que eu estava destrancando.

- Obrigada Emi - digo, sorrindo, ainda sem abrir a porta. - Até mais, me avisa quando chegar em casa. - senti os olhos de Emily se direcionarem ao chão, como se estivesse frustrada com alguma coisa.

- Claro, Sue. - ela disse, depois de um suspiro. - Se precisar de algo me manda mensagem, até mais. - colocou as mãos nos bolsos da jaqueta e começou a andar em direção ao elevador. Assisti ela andar sem olhar pra trás e isso, por algum motivo, me sufocou. Cada passo que ela dava pra longe de mim, parecia me tirar mais o oxigênio.

- Emily - chamei, quase que imediatamente vi suas íris esverdeadas virarem em minha direção. Parecia que ela tava esperando que eu chamasse. - Por que... - comecei a falar, mas senti falta de ar. Respira Susan. Voltei meus olhos para ela, que agora estava mais próxima. - O que tu quis dizer com "ela não é a pessoa que eu quero beijar essa noite" ?? - perguntei, em um lapso de coragem. - Na festa, quando a gente tava na cozinha e alguém que eu não conhecia se aproximou, tu disse isso e olhou pra mim e eu só... - respiro fundo. - Eu só quero entender o que tu quis dizer. - consegui terminar a fala, finalmente consegui perguntar isso, depois de tanto remoer na minha cabeça.

- Eu acho que é bem autoexplicativo, Sue. - falou, dando passos lentos em minha direção. - A pessoa que eu queria beijar era tu, mas como tu não disse nada eu não quis te desrespeitar ou te deixar desconfortável. - ela disse isso com uma tranquilidade e o corredor tava tão quieto que eu conseguia ouvir os batimentos acelerados do meu coração, fiquei com medo que Emily conseguisse também. Ela parou na minha frente, ainda com as mãos nos bolsos, claramente esperando uma resposta. Eu a observei dos pés a cabeça, pela milésima vez naquela noite. Emily Dickinson é estonteante. Então, pela última vez, pra ter certeza que meu cérebro não tava me pregando uma peça, pergunto:

- Queria? - encaro seus lábios como se eles fossem água em um deserto. Emily aproxima seu corpo e coloca suas mãos na porta, próximas do meu rosto, deixando meu corpo encurralado e ficando extremamente próxima. Meu Deus como é difícil respirar.

- Eu quero te beijar desde que te vi naquele ônibus, Susan. - ela diz. Eu a observo umedecer os lábios e aproximar os mesmos dos meus, sem quebrar nosso contato visual. - A questão agora é se você quer. - Emily diz, consigo ouvir sua respiração pesada, ela tá nervosa. 

Antes que sequer pensasse mais alguma coisa, meus lábios já estavam grudados nos de Emily. Minhas mãos naturalmente se direcionam pra cintura dela, delicadamente levando seu corpo de encontro a parede. Sinto suas mãos macias no meu rosto, me puxando pra mais perto. Nossas línguas deslizavam em nossas bocas num encaixe perfeito, transbordando em um oceano de desejo recíproco onde nós duas nos encharcávamos, abandonando toda e qualquer dúvida. Emily desceu suas mãos pelo meu pescoço, repousando-as próximo à minha clavícula e me empurrando contra a porta — fazendo com que um suspiro involuntário e totalmente audível escapasse da minha boca. Ela se afastou brevemente e sorriu convencida. Eu abri a porta e arrastei ela pra dentro do quarto pela gola da jaqueta, o que eu queria fazer não poderia ser feito naquele corredor. Pra minha felicidade, a Jane não tava no quarto. Agora, livres das jaquetas e explorando cada parte exposta de nossos corpos, Emily me direcionou pra minha cama, colocando o peso do seu deslumbrante corpo sob o meu. De repente, ela interrompe o beijo e me olha intensamente. - Sue? - escuto sua voz ecoar, cada vez mais distante, assim como o calor do corpo dela. Tô na minha cama, sozinha. Nem sinal de Emily, nem do cheiro dela, ou do gosto. Meu Deus que dia é? Que horas são? A Jane não tá no quarto e ela normalmente acorda tarde... Peraí, eu tô de... pijama? — quanto tempo eu dormi?

900 segundos de tensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora