Capítulo 3

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Se eu soubesse como aquele dia iria acabar, eu nem teria levantado da cama.

Tudo começou normalmente, conforme o esperado, ou ao menos conforme eu imaginava. No meu estômago não haviam borboletas, havia um tufão violento me deixando nauseada. Edward estava do lado de fora, esperando que eu avisasse Charlie sobre ele para que pudesse entrar, e tudo o que eu queria fazer era acabar logo com aquilo.

A vontade que eu tive naquele momento era a de enfiar minha cabeça na terra para não precisar contar nada, mas havia dito que faria, então lá estava eu, respirando fundo enquanto reunia coragem para falar com Charlie na cozinha. Ele estava limpando suas armas. Ótimo. Não dava nem um pouquinho de medo ter um monte de armas em cima da mesa antes de uma conversa daquele tipo.

– Pai? – o chamei, enfiando as mãos nos bolsos da minha jeans, nervosa.

– Sim? – perguntou sem tirar os olhos do que estava fazendo.

– Tem... Tem alguém que eu quero que conheça.

Charlie me encarou com surpresa, as sobrancelhas arqueadas de alguma forma me julgando com aquilo.

– Pensei ter ouvido você dizer que não tinha interesse em ninguém.

''Não tenho mais'', gostaria de dizer, mas ainda não era a hora.

– Eu não tinha – mordi meu lábio inferior. – Mas ele é bem legal – dei de ombros, discordando internamente. – Eu tenho um encontro com ele hoje e ele queria te conhecer oficialmente. Ele está lá fora esperando.

– Ele está? – ele franziu o nariz, claramente desconfortável com a ideia de interagir com outra pessoa.

– Sim.

Charlie suspirou tão profundamente quanto eu fazia quando me chateava com algo. Queria dizer a ele que também não estava animada com aquela situação, mas isso complicaria as coisas pra mim em um momento no qual eu ainda não sabia o que fazer para resolver tudo sem me sentir em perigo.

– Beleza, pode chamar – ele franziu a boca, deixando a arma sobre a mesa.

Eu nem precisei, realmente. Quando cheguei a porta, ele já estava lá, esperando. Forcei um sorriso, o mais educado que eu podia, e o deixei passar, e os poucos minutos em que eles passaram se apresentando foram os minutos em que eu aproveitei para subir até meu quarto para pegar meu casaco e meu spray de pimenta.

Edward me esperava ao pé da escada.

– Pronta?

– Sim – na verdade, não.

– Eu vou tomar conta dela, eu prometo – ele disse a Charlie, mas assim que Edward se afastou mais um pouco, papai gesticulou pra mim.

– Ainda está com o spray? – perguntou baixinho, e eu assenti enquanto seguia o vampiro centenário para fora de casa.

– Seu pai é bem desconfiado – ele riu enquanto entrávamos no gigantesco jipe com o qual ele havia aparecido.

– Ele só é cuidadoso – forcei outro sorriso. Charlie estava coberto de razão em se preocupar. Se ele soubesse, se ao menos desconfiasse, teria me mandado de volta para Phoenix sem pensar duas vezes, mas eu jamais iria embora sabendo que ele ficaria sozinho ali. Sem chance.

Durante o caminho, enquanto eu conversava com ele sobre coisas que já não eram relevantes pra mim, notei que um carro muito distinto passava por nós. Eu tive a impressão de que já tinha o visto antes, e quando ele passou do meu lado da estrada, reconheci o rosto de Sam, um dos estranhos que haviam chegado na cidade.

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