• | Chrystal Canales | •
Já é de manhã. Provavelmente já passou de meio dia, mas não tô com ânimo pra levantar. Não estou com ânimo pra nada na verdade, só quero ficar sozinha, sem conversar com ninguém. Aquele vazio voltou, e está pior do que antes, e agora?
Eu tô com medo, eu tô cansada, eu... Eu não sei mais o que fazer!
Minhas mãos foram até meus fios, senti logo meus dedos se apertando entre o cabelo. Respirei fundo sentindo minha garganta doer, junto com a minha cabeça, que latejava dolorosamente. Eu posso chorar! Se não eu não vou conseguir parar mais.
— Eu só quero que essa dor acabe. — Murmurei baixinho, sentido a vontade de chorar aumentar. — Até quando eu vou aguentar? Não existe nenhum lugar que eu possa ir, pra fugir de toda essa dor!
Me sentei na beirada da cama e fui até o banheiro, me olhei no espelho, e vejo o quanto eu estou acabada. Por que as coisas tem que ser assim? A vida podia ser menos complicada, mas pelo visto, isso é impossível.
Lavei o meu rosto, tirando os resíduos de sujeira, e desliguei a torneira.— Talvez ninguém perceba. — Susurro pra mim mesma, enquanto encarava as olheiras em minha face.
Tirei as mãos da pia e sai do banheiro, escutando baixas batidas na porta. Caminhei até ela e lhe abri devagar, vendo meu pai com um sorriso preocupado no rosto.
— Não dormiu bem, né filha? — Sua voz grave e baixa, me fez encara-lo antes de afirmar com a cabeça. É, não tinha como disfarçar.
— Não consegui, minha cabeça doeu a noite toda. — Desviei o olhar, e encarei os meus pés, sem saber o que falar, além disso. Era sempre uma desculpa atrás da outra, eu estou cansada.
— Sinto muito. Mas eu preciso conversar com você, será que pode vir comigo? — Questionou ele calmo, vendo meu desanimo.
— Claro. — Respondo saindo do quarto, e fechando a porta atrás de mim. E caminhamos em silêncio pelo pequeno corredor, não demorou pra estarmos do lado de fora.
A temperatura estava aceitável, minha pele não implorava pra que eu voltasse pra dentro. Por mais que eu quisesse. Demorei pra perceber, que meu pai estava me levando para os balanços, que meus primos usavam quando eram crianças.
— Vamos, sente-se. — Observei meu pai se sentar no balanço, enquanto sorria na minha direção. Um sorriso triste.
Não falei nada, apenas me sentei ao seu lado. Enquanto empurrava devagar o meu pé no chão, fazendo o balanço se mexer.
— Filha, eu tomei uma decisão séria. E quero que você seja a primeira a saber. — Anunciou ele sem me encarar. Ele estava inquieto, e ao mesmo tempo cansado, assim como eu.
— Pode falar pai. Sou toda ouvindo. — Falei curiosa, esperando atentamente que ele falasse.
— Eu vou pedir o divórcio, filha. Não aguento mais a sua mãe tentando controlar a gente, e isso que ela fez com você, foi a gota d'água. — Ele apertou suas mãos contra a corda do balanço, e fechou o olhos com força. — Só queria que você soubesse. Espero que você entenda filha. — Ele se encolheu no balanço, seus ombros caídos e cabeça baixa, deixava claro o quanto ele estava esgotado com tudo.
— Eu entendo, pai. Não sei preocupe, o senhor tem meu apoio. — É isso, meus pais vão se divorciar. Me pergunto, se eu me sentir feliz com isso, é algo errado? — Pai?
— Sim?
— O senhor e a mamãe, nunca se amaram de verdade. Não é? — Olhei pra ele, vendo um sorriso no canto da sua boca surgir.
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Vivendo entre o céu e o inferno. - {PAUSADA}
General Fiction#ATENÇÃO: Conteúdo sensível Imagina o quanto deve ser ruim, não ter controle das suas próprias emoções. Podendo gerar traumas profundos, tanto em você, quanto em outras pessoas. Relações tóxicas, ações imprudentes... Coisas que jamais deveriam ser f...