Veja bem, sentado nesse banco, me pergunto se encontraria a pessoa perfeita para mim, atravessando esse mar diante dos meus olhos, porque me sinto reprimido onde moro e acredito que ninguém nesse lugar poderia me entender.
Era o que eu fazia toda vez que retornava para casa naquele verão. Saia da escola e, como ainda estava claro, me sentava no banco de um calçadão para encarar o mar da cor dos meus olhos.
Mas o motivo mudou.
Continuava a sentir a brisa bater na minha face e a sentir a vontade louca de chorar. Contudo, eu não queria mais sair da minha cidade. A pessoa perfeita para mim, morava exatamente ali, mas eu me negava a acreditar, não queria sofrer mais um amor platônico.
Se eu atravessasse o mar era capaz de eu rodar o mundo e voltar ao meu ponto original, minha sala de aula e você sentado ao meu lado.
Eu penso que fiz tudo para te evitar, mas o mundo conspirou contra mim. Ao meu lado, eu podia ouvir sua voz rouca, quase sempre conversando com Luffy e Usopp, dois garotos idiotas e esquecíveis da turma. Eu não compreendia por que você conversava com eles. Você é bonito, alto, forte e se destacava no seu clube de kendô. Meninos bonitos e meninas bonitas queriam conversar com você, mas você não estava nem ao menos ao lado deles. Na verdade, estava ao meu lado.
Pedia um lápis emprestado ou uma borracha. Um sorriso gostoso ficou na minha memória, mesmo evitando contato visual o máximo possível. Contudo, meus olhos deslizavam na sua direção e, para minha sorte, você se encontrava dormindo. Um dia você me chamou de engraçado e me seguiu numa rede social.
Eu fui pras nuvens, abracei meu travesseiro e virei o meu corpo de um lado pro outro na minha cama de solteiro. Aposto que meu rosto ficou quente. Afinal, você me notou.
Começamos a conversar.
Tínhamos muito em comum, adoravámos spaghetti western e Slam Dunk. Também odiavámos coisas em comum, como os adultos e às vezes os próprios adolescentes. As crianças e os velhinhos pareciam ser simpáticos até ali onde vivemos. Você riu quando eu disse que o velhote de merda faria eu acreditar que velhinhos eram odiáveis, bastasse chegar na idade. Mas respondeu, de uma forma séria, que Zeff me amava muito e eu sabia disso, idiota...
Um dia você faltou e eu fui para aquele banco de novo, encarei o mar e ele me encarou. Me dizia que você não gostava de mim como eu gostava de você. Passei a fazer menos contato visual, voltei a fingir que você não existia até mesmo estando ao meu lado. Te chamei de Marimo.
Como as algas que ficavam para trás nos movimentos das ondas daquele mar que parecia querer me comer vivo.
Você não entendeu por que estava sendo tão ríspido e me chamou de sobrancelha enrolada. Eu não gostei, obviamente. Eu pensei que de todas as pessoas do mundo, você seria a única que não se incomodaria com minha sobrancelha, porque eu sabia que era maduro o suficiente para achar ridículo pôr apelidinhos maldosos numa pessoa. E eu tenho certeza que você pensava o mesmo de mim, não é mesmo?
Agora fito o mar, mas penso em morrer afogado. Não te vi ganhar o campeonato de kendô na nossa cidade, não te abracei quando Kuina morreu, te bloqueei na rede social.
No entanto, senti uma presença e tirei meu olhar do mar que queria o meu mal. Você estava sentado no banco, bem ao meu lado, como quando ainda não nos falávamos. Pensando bem, você sempre esteve ali, sempre ao meu lado.
Eu sorri.
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Da cor dos meus olhos
Teen FictionEra o que eu fazia toda vez que retornava para casa naquele verão. Saia da escola e, como ainda estava claro, me sentava no banco de um calçadão para encarar o mar da cor dos meus olhos. Mas o motivo mudou. zosan