Capítulo Único

1 0 0
                                    


I keep playing inside my head
All that you said to me
I lie awake just to convince myself
This wasn't just a dream...


Londres, março de 1999
- Luke, eu vou contar pra tia Natalie se você não me devolver o Chester agora! – Por mais que Anne corresse o mais rápido que podia, nunca conseguiria sua cobra de pelúcia por esforço próprio. O garoto, além de três anos mais velho, também era mais alto do que ela e carregava o brinquedo acima de sua própria cabeça, rindo.
- Qual é, Ann! Chester? Sério? Você não podia dar um nome melhor para essa cobra, não?! – disse, ainda correndo em círculos ao redor dos móveis da sala de Anne.
- Luk, por favor. Eu já cansei de correr e tô com muito sono! Me devolve o meu bichinho, vai? Por favorzinho. – A menina deu um pequeno pulo e sentou-se na ponta do sofá. Seus pés, por não alcançarem o chão, balançavam vagarosamente enquanto suas mãos esfregavam seus olhos continuamente.
O garoto parou de correr e, ao olhar a cena, sorriu. Colocou a pelúcia atrás de seu corpo e foi andando até a menina. Quando chegou, ajoelhou-se de frente a ela no momento em que esta abria os olhos. A amiga, ainda sonolenta, olhou em sua direção em dúvida e esticou seu bracinho em um pedido mudo pela cobra.
- Vamos fazer assim: se você me der um beijinho, eu te devolvo o Chester. Combinado? – Anne acenou com a cabeça ,ainda esfregando seus olhinhos, e inclinou-se em direção a Luke, dando-lhe um beijo estalado na bochecha. Ele lhe devolveu a pelúcia e a garotinha saltou para fora do sofá. Após um longo bocejo, virou-se novamente para o garoto.
- Luk, você me coloca para dormir? – O menino, depois de uma breve risada, murmurou um "claro" baixinho e a seguiu até o quarto mais rosa e cheio de bichinhos de pelúcia que já vira na vida.
Luke analisou o cômodo que conhecia tão bem e seus olhos pararam no porta retrato em cima da penteadeira: uma foto de Anne bebê, deitada na cama dele e o garoto dormido ao seu lado, vestido com um macacão laranja e azul. Era particularmente sua foto preferida com a sua melhor amiga. Desviou sua atenção para a garotinha sentada na cama, que agora já tinha 6 anos e mal conseguia manter seus olhos abertos. Deitou-a no colchão e a cobriu com um cobertor lilás que se encontrava no pé da cama.
- Boa noite, An. – Ele disse se dirigindo à porta do quarto e ouviu a voz de sua amiga dizendo sonolenta:
- Boa noite, Luke. Amo você.


Londres, julho de 2011

Era a décima vez em que Anne ligava em meu telefone e eu já não aguentava mais dizer que estava chegando. Ela estava maluca com a noite da formatura. O vestido não cabia, o cabelo estava bagunçado e maquiagem estava "perua demais". Enquanto isso, eu apenas gargalhava do outro lado da linha e era chamado de imprestável. Isso é o que se ganha por convidar sua melhor amiga para o baile.

"Montgomery, onde diabos você está?"
"Chegando, Holloway. Chegando"
"Você disse que estava chegando há meia hora atrás! Como pode ser tão lerdo? Até uma lesma montada em uma tartaruga seria vencedora em uma competição contra você."
"Se eu não tivesse que parar a cada cinco segundos para atender a uma ligação sua, talvez não me atrasasse. E outra, é uma formatura, não um casamento."
"É quase tão importante quanto!"
"Então ainda bem que não serei o marido quando você casar."
"Idiota! E onde você está, afinal?"
"Esperando você parar de dar piti e abrir a porta."
"Aleluia."

Anne desligou o telefone e ouvi seus passos apressados na escada. Quase certeza que derrubou alguma coisa dentro de casa, mas nessa altura do campeonato, duvido que se importaria. Ela murmurou um "lerdo", puxando-me porta adentro e subindo as escadas novamente.
- Luke, ainda bem que chegou. Essa menina está quase convulsionando. – senhora Holloway (ou Monique, como preferia ser chamada) disse, abraçando-me ao encontrar comigo no corredor e nós reviramos os olhos juntos.
- Não sei porquê ela está tão pirada. Não é como se eu pudesse fazer milagres no departamento feminino.
- É, mas nós dois sabemos que ela funciona muito melhor quando você está por perto. – ela sorriu para mim e apontou para o andar de cima. Eu concordei com um aceno de cabeça e subi, abrindo a porta do quarto de Anne e deitando na cama.
- Eu espero que você não tenha esquecido meu corsage. – ela apenas levantou a sobrancelha e continuou a fazer sua maquiagem.
- Comprei uma florzinha qualquer na loja. – dei de ombros.
- Eu nem me dou ao trabalho de ficar estressada com as suas brincadeiras.
- Você tem a plena noção de que eu não tenho obrigações nesse baile, certo? Minha formatura foi há três anos atrás. Eu poderia estar em um bar, procurando garotas maravilhosas para irem até a minha casa.
- O que você insiste em esquecer é que eu sou a única garota maravilhosa que existe na sua vida, Luke. Ou vai negar? – levantei as mãos em sinal de rendição e ela continuou – Além disso, eu fui seu par na sua formatura, portanto cale a boca e seja menos pateta.
- Por essas e outras que comprei o arranjo de flores mais capenga.
O olhar que recebi dela poderia derreter todas as geleiras do Polo Norte. Anne não estava para brincadeiras hoje e essa era a parte mais divertida de todas. Gargalhei e levantei da cama, colocando-me atrás de Ann e acariciando seus ombros por cima do vestido lilás. Ela relaxou por alguns segundos e eu chamei sua atenção para os meus olhos, pelo reflexo do espelho.
- Não precisa surtar. Você está maravilhosa, como sempre. – Ela sorriu amarelo e eu continuei – Óbvio que comprei seu corsage. O mais bonito, por sinal. Agora respire fundo e termine de se arrumar, nós ainda temos bastante tempo.
- Obrigada, Luk. – ela virou de frente para mim e jogou seus braços em meu pescoço. Eu sorri fraco e coloquei minha cabeça em seu cabelo, aspirando o aroma de morango e Anne. O melhor aroma do mundo. – Mas você ainda continua sendo pateta.


I Should Have Kissed YouOnde histórias criam vida. Descubra agora