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DEZESSEIS.

Acordo em um pulo, sentando-me na cama imediatamente. Quando as cobertas escorrem dos meus ombros, sinto um ar gelado me abater no peito. Toda a parte exposta sem a coberta se arrepia, fazendo-me notar que estou completamente nua, com uma sensação de que meu corpo todo está melado e alguns fios incômodos de cabelo grudados no meu pescoço e costas. Parece que eu corri uma maratona enquanto dormia, e o cansaço que sinto reforça isso.

Como é possível alguém se sentir cansado após horas de sono?

Tento me forçar a lembrar do meu sonho dessa noite e... nada. Vejo entre o chão e o pé da cama minha fantasia abandonada. Um calor volta a subir pela minha espinha, meu coração se acelera mais e minha respiração fica irregular. Tudo em mim se contrai. É como se eu já tivesse me sentido assim antes, a sensação é tão vívida, como se tivesse sentido o mesmo cinco minutos atrás e tudo em mim se acende de uma forma que me deixa louca. É incompreensível que eu me sinta de tal forma sem uma razão plausível.

Levanto-me da cama sem raciocinar, sigo até minha escrivaninha, ligo o meu computador e deixo que o meu cérebro me guie sem consultas prévias. Quando percebo, já escrevi cinco parágrafos sobre sentimentos que eu pensei que não conseguiria verbalizar nunca. Olho para o texto e está cheio de "sexo", "calor", "desejo" e "prazer". As palavras piscam em meu cérebro, tremem o meu corpo e fazem o meu coração se apertar.

Não entendo nenhuma das sensações. Dou uma tragada longa no cigarro que estava pousado entre o teclado e o microfone e inclino minha cabeça para trás, deixando que a sensação estranha se esvaia do meu corpo, torcendo secretamente para que seja logo. As últimas palavras do texto são digitadas e só consigo concluir duas coisas:

Quebrei minhas próprias regras. Desviei dos meus próprios padrões.

Escrever textos minimamente pessoais nunca foi uma opção. Meu foco são coisas concretas, pesquisas, fatos, não sentimentos e afins. Isso não vende para os grandes jornais, e eu não quero ser a mulher que escreve sobre sexo e desejo, eu quero ser a mulher que escreve sobre política, economia... Isso pode soar bem ridículo da minha parte, mas, de verdade, se outras mulheres querem escrever sobre sexo, tudo bem, só que eu não quero ser essa mulher.

Respiro fundo, esfrego o rosto e decido que é hora de tomar banho.

Estou tão atordoada.

Ligo o chuveiro, dou play nas minhas músicas e, como se não fosse para eu esquecer a sensação que me preenchia dois minutos atrás, o aleatório decide tocar "Hit Me Like a Man", do The Pretty Reckless. É uma música que eu costumava gostar quando estava na escola, tinha acabado de entrar na minha era "rockeira" quando ela foi lançada e me lembro de ouvir essa no repeat. Mas agora? Péssima hora pro meu aleatório decidir reviver algo que eu não ouço há tanto tempo. Deveria ter escolhido minha playlist de banho no lugar das músicas curtidas.

Enquanto cantarolo minhas partes favoritas da música, de olhos fechados para o sabão do shampoo não entrar nos meus olhos, tento afastar todo o caos mental que minha noite de sono me causou. O sentido não existe mais nos meus pensamentos e flashes inexplicáveis começam a invadir minha mente enquanto me lavo.

Num pico de estresse, abro os vitrôs do banheiro — o único ambiente da casa que não é cheio de janelas enormes ou de portas de vidro — e deixo que o ar frio invada o meu banho morno. O vapor que preenchia o grande banheiro começa a se dissipar à medida que é tomado pela brisa gelada da manhã de novembro e gotículas de água se formam no azulejo branco antes umedecido e quente, nem o espelho da pia está embaçando ou o vidro que separa o box do restante.

Sentir o ar frio batendo em meu corpo quente é reconfortante.

Recentemente, tenho ouvido bastante músicas brasileiras, tentando me desintoxicar um pouco do norte americanismo que me invadiu nos últimos anos. Na última vez que visitamos o Rio de Janeiro, um ano e meio atrás, fomos a um festival de música que nos fez descobrir uma das minhas bandas favoritas da atualidade: Lagum.