Devo estar babando. Devo ter derramado toda minha saliva no meu lindo vestido e estar com uma aparência tenebrosa na visão de Azriel. Devo até parecer algum tipo de bicho esquisito que se soltou da jaula agora.
Porque não tem como ficar normal quando seu corpo seminu está a centímetros das minhas mãos. Mãos essas que estou apertando atrás das costas, esperando que isso diminua a safadeza que obviamente está se soltando pelos meus poros. Queria que Azriel não tivesse olfato!
— Você fica ótima de branco - até mesmo sua voz soa perto. Ergo os olhos, apagando da minha mente que tem uma trilha de pelinhos mais claros descendo sua barriga. Deus... Sério, por que ele precisa parecer assim? Por que simplesmente não ficou no próprio quarto?
— Aham, com certeza - eu falo, virando de costas e indo até a porta. — Vou sair pra te dar privacidade.
— Não precisa - ele diz, me fazendo parar como uma tonta no meio do caminho. Ele deve estar me testando. É, talvez. Me viro devagar e o encaro. Pra ser sincera, encaro a gotinha de água transparente escorrendo do peito direto pra barriga lotada de músculos fortes e definidos, indo parar direto na bainha da toalha. Merda. Ele precisa estar me testando.
—Você precisa de privacidade - digo.
—Sou rápido, você pode se virar - ele sorri de leve pra mim, sem saber que dentro da minha cabeça está passando diversos cenários onde eu não me viro.
—Certeza?
—Absoluta - ele sorri de novo, arrastando a própria mala para cima da cama. Os músculos do braço pulam como dois airbags. Sinto meu próprio cheiro subindo pelo meu nariz e paraliso. Não. Não. Não.
Me viro de volta, encarando a porta, cada detalhe entalhado com dourado. Não posso deixar meu cheiro envolver esse quarto inteiro como incenso fedido. Não mesmo. Ele já me ouviu dando gritinhos alegres no banheiro, já me viu descabelada em cima de Meallan. Essa é a última coisa que preciso: que Azriel sinta meu cheiro de safada. De novo. Porque ele provavelmente já sentia quando nos conhecemos, a primeira vez que me trouxe pra cá e ficamos nos pegando na sua cama. Ele vai reconhecer facilmente.
Ouço o barulho abafado da toalha caindo no chão. Normalmente eu nem sequer prestaria atenção, mas agora meus sentidos estão apurados como um cão de caça.
—Acho melhor sair - eu pego na maçaneta e giro.
—Sol, prefiro que não fique no corredor à toa - Azriel fala, a voz séria e diferente. Quase me viro pra saber a razão, mas é bom não virar, porque um segundo depois ouço o deslizar de um tecido em suas pernas. —Não acho seguro você ficar sozinha por esses corredores.
—Posso encontrar o Helion - eu sugiro, largando a maçaneta. Azriel suspira.
—Talvez sim, talvez não. Ele costuma ficar no escritório que é um pouco distante. Já estou terminando aqui, pode se virar se quiser.
"Hum, infelizmente não poderei me virar, caro Azriel. Estou sofrendo de uma doença degenerativa que se chama atração genuína por você, e se você vir o primeiro sintoma, é capaz de sair correndo e acionar a polícia da Diurna. Aliás, meu amor, isso existe por aqui?"
—Ok - minha voz fala enquanto me viro, respirando fundo todo meu cheiro de safada sem controle. —Tudo bem, eu posso esperar você.
—Ótimo - Azriel sorri pra mim, de uma forma tão sincera que meu peito aquece. —É que não quero que você se sinta presa enquanto estiver aqui. Sei que não é o que você esperava, mas...
—Tá tudo bem, Azriel - eu digo, sorrindo pra ele, esperando que ele compreenda e confie no que digo. —Realmente não é como eu esperava, mas acho que prefiro você falando cada detalhe daqui do que descobrir por mim mesma.
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Corte de Sombras e Mundos
RomanceOBRA INSPIRADA EM ACOTAR DE SARAH J. MASS Numa festa de casamento, a última coisa que você espera é dar de cara com um personagem que não existe na vida real. Quando isso acontece com Sol, no casamento de sua prima, é só o começo de coisas estranha...