- Extra: Cuidado -

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Estendia-se no céu uma aquarela de azul e roxo, o horizonte abraçando a si mesmo em um quadro de nuvens e aves distantes. O verde das árvores contrastando com o firmamento, seguido pelo uivo calmante dos ares que espalhavam o cheiro das flores.

Mesmo que o dia estivesse o mais belo possível, era impossível para Touya seguir tal humor.

Uma névoa de amargura e desconfiança seguia em seu âmago, pesando seu coração a cada minuto de espera de uma resposta de seu namorado, Yukito Tsukishiro.

O platinado não havia aparecido para ir à escola ou respondido às mensagens do moreno em seu celular. Talvez, Touya presava, ele estivesse em Yue, fazendo parte de alguma aventura de Sakura que precisava de sua ajuda angelical.

O Kinomoto tentou sorrir, imaginando o poder calmante que emanava de seu namorado, o calor reconfortante que dele emergia, - apesar dos toques frios de seus dedos - a fortaleza de outro mundo que ele era, a magia capaz de envolver a mente de qualquer um.

Mesmo que ele não respondesse ou desse sinal, estaria bem.

Touya esperava.

Touya continuava esperando, mesmo após as aulas acabarem e os céus acompanharem as cores do Sol, não havia recebido resposta alguma do celular de Yukito, seu coração apertando em preocupação.

Até mesmo Sakura, sua irmã mais nova, o havia dito por seu próprio celular que estava bem e que não havia visto Yukito-san hoje. 

Passando as mãos pelos cabelos escuros em um ato cansado, Touya parou sua bicicleta no cruzamento em que se encontra com o namorado, a bolsa carteiro pesando em seu ombro com os cadernos e livros, anotações dele e para Yukito, desviando de seu caminho habitual e indo à casa do platinado.

Ainda de uniforme, pedalou até a grande casa de madeira, as árvores sussurrando em seu caminho preocupado, folhas se desprendendo ao vento.

Ao chegar, já era o fim da tarde e o Sol ousava brilhar no alto, o canto dos pássaros se acalmando. 

A fachada da casa exalava paz, madeira clara se erguendo entre as árvores centenárias, o cheiro do verde inundando suas narinas, incapaz de deixá-lo menos preocupado do que estava. Aproximou-se das portas francesas, tocou a campainha estridente e esperou.

Mas Touya já não estava mais paciente quanto antes.

- Entrando! - Anunciou, sem resposta.

Abriu a porta com um rangido simples, mas familiar, tirando os sapatos e caminhando pelos corredores e salas de madeira lisa.  Poucos móveis bem cuidados e limpos, dispostos onde o moreno saberia localizar de olhos fechados, escadas que cantavam com seus passos ao segundo andar, indo ao quarto de seu amado e batendo na porta com avidez e preocupação.

- Yuki?

Nada.

Touya tocou a maçaneta metálica, os adornos sob sua palma de um frio metálico que o fizeram hesitar, a preocupação subindo à garganta do Kinomoto que engoliu em seco.

Abrindo a porta, a visão familiar do quarto do namorado estava disposta, um guarda-roupa de madeira escura ao lado de uma escrivaninha, nela, uma máquina de escrever e um pequeno toca discos; algumas prateleiras com livros, folhas soltas ou objetos antigos e questionáveis, mas curiosos, uma bússola, uma concha, a ponta de uma flecha, uma pedra em formato de lua.

A varanda se estendia ao fundo do quarto, cortinas brancas esvoaçantes se mantinham quietas com as portas de vidro fechadas, sem deixar que o vento soprasse no quarto, que mesmo assim ousava em manter-se frio.  

Com um rápido olhar, Touya quase deixou passar a forma encolhida nos lençóis da cama de casal que ocupava o lado esquerdo do quarto, o colchão forrado em branco camuflando os cabelos platinados e a pele alva do namorado.

Me concede essa dança?Onde histórias criam vida. Descubra agora