Capítulo Sete - Oxigênio

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Parisa andava feliz de braços dados com o irmão alguns passos à frente dos dois zombies, que pareciam ter sido esquecidos, ou ignorados, por ambos. A criança, entretanto, espiava a dupla por cima do ombro do tio, observado com uma expressão concentrada todas as suas ações, desde o ato de andar até as mãos unidas.

Zouely ergueu uma sobrancelha diante do olhar do pequeno pryato e ergueu a mão, acenando. O menino soltou um bufo, revirando os olhos e se virou para a frente, começando a ignorá-los assim como os adultos.

— Ok... — O zombie adolescente sussurrou, surpreso e lançou um olhar para o homem que ainda segurava sua mão. Noxzyin negou com a cabeça, tão surpreso quanto o filho com as ações da criança.

Os dois zombies continuaram seguindo os três pryatos, observando calados enquanto Parisa falava animadamente com o irmão, claramente feliz por ele estar ali. Ela até mesmo saltitava ao andar, mesmo que seu pisar continuasse tão gracioso quanto seria se ela estivesse desfilando.

Ela era uma "fada" afinal. Tipo a Tinker Bell, só que grande e com uma falta clara de asas. E muito mais arrogante.

O trio diminuiu o passo ao chegar em frente a uma porta dupla que Parisa logo tratou de abrir como se fossem um show - as duas portas abertas expondo todos do grupo completamente.

O menino, Zanë, se contorceu nos braços de Tiên assim que avistou os rostos daqueles dentro da sala. A criança correu para uma das mulheres - talvez essa fosse a sua mãe? - e foi automaticamente erguida, ficando em seu colo.

Adivinhei que fosse Elora apenas pelas semelhanças entre Tiên, Parisa e ela. Assim como a irmã, tinha um tom de pele mais alaranjado que Tiên, embora seus cabelos e olhos tivessem o mesmo tom dos dele - tão dourados quanto ouro puro reluzindo em um dia de sol.

Ao contrário da irmã, porém, Elora parecia taciturna - quase como uma versão feminina do irmão - e não sorriu, mesmo para o filho. Ela avaliava o irmão e, após ele, meu pai e eu.

Percebi que seu filho tinha puxado a ela, considerando sua atitude anterior.

Deixei meus olhos vagarem pela sala, avaliando todos ali assim como faziam comigo. Havia, é claro, a dupla mãe e filho que eu já conhecia e outras pessoas que presumi ser da família, já que eram todos pryato e tinham algumas características em comum, em geral, cabelos e olhos.

Sem contar os três irmãos e a criança que eu já conhecia, haviam outras cinco pessoas na sala: três homens e duas mulheres. Desses, três eram adolescentes - dois garotos e uma garota -, e os outros - uma mulher e um homem - tinham rostos tão jovens quanto os outros adultos da sala.

Pryatos, eternamente jovens. Isso é claro, me fazia pensar sobre a quantidade de "crianças" que eles tinham. Espécies com "imortalidade" - tão bem quanto isso funcionava já que nada era verdadeiramente imortal - eram conhecidos por terem dificuldade em ter filhos, tanto os homens quanto as mulheres.

Muito provavelmente devido à superlotação. Se não "morriam", imagine se pudessem ter filhos durante toda a eternidade? Seria o próprio caos.

E ali estavam eles, com três adolescentes e uma criança de cerca de cinco anos. No mínimo estranho.

Ainda assim, apesar de todos os meus pensamentos, mantive meu rosto impassível.

— Você os trouxe até aqui então. — Elora disse, num tom seco. — Dois zombies em nossa casa.

Foi uma constatação tão seca, tomada de desprezo que se eu me importasse minimamente com sua opinião poderia até me sentir mal. Mas eu não dava a mínima ao que ela achava ou dizia e apenas me deixei observar seus olhos que eram como ouro líquido, brilhando na luz da sala como se fosse o próprio sol.

Sobrevivendo á Sombras e Desilusões | #1Onde histórias criam vida. Descubra agora