Capítulo 15| Mathilde

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'I can't sleep no more
In my head, we belong
And I can't be without you
Why can't I find no one like you?'

- Streets, Doja Cat

Domingo, 15 de outubro

- Strawberry Frappé ou Caramel Macchiato? - Francesca pergunta e eu fito-a, apercebendo-me de que fiquei quase dez minutos a olhar para o cardápio sem absorver informação nenhuma.

- Caramel Macchiato - respondo, uma vez que a primeira opção lembra-me de um certo indivíduo que eu deveria esquecer.

Ian ignorou-me durante a semana toda. Não fez questão de responder às mensagens no grupo, nem sequer deu uma explicação plausível para não estar presente nas reuniões de fim de tarde que fizemos, entre amigos.

Ricciardo afastou-se da minha prima, embora ainda mantenha contacto, e recusa-se a tocar no assunto. Honestamente, prefiro interiorizar que o moreno perdeu o interesse. Talvez ele tenha desistido de tentar conquistar-me. Talvez ele esteja mais disposto a envolver-se com alguém que se atire para a sua cama com apenas cinco minutos de conversa.

Eu não sou essa pessoa e deixei isso bem claro desde o primeiro dia. Tenho os meus princípios e não estou disposta a ser sua por uma noite e nunca mais ter contacto com ele.

- Nunca te vi assim, Math. - Fran suspira. - Muito menos por causa de um homem.

- Assim como? - pergunto irritada. - Só estou a pensar nas próximas avaliações, mais nada.

Francesca não insiste e eu agradeço mentalmente por isso. Já era suficientemente mau repreender-me constantemente, pois a minha mente atraiçoa-me e traz lembranças que eu desejava enterrar num poço bem fundo.

Aquela noite no quarto dele, onde ele prometeu-me que me trataria como eu mereço. Talvez, na sua perspectiva, eu mereço ser ignorada, como se fosse somente mais uma que passou pela sua vida.

Depois de tudo, pensei genuinamente que tínhamos uma boa relação amigável, mas aparentemente, era só um passatempo.

As portas do estabelecimento abrem repentinamente e a equipa de basket surge, roubando todas as atenções.

Ricci troca algumas palavras com John e depois abandona o grupo, juntando-se a nós.

- Boa tarde. - abre um sorriso fraco.

Aceno sem grande entusiasmo e evito a todo o custo procurar o indivíduo que não me sai dos pensamentos. Contudo, quando a voz da loira oxigenada soa, estridente e histérica, não consigo evitar desviar o meu olhar para a mesa onde estão acomodados.

A expressão facial da Pâmela não é das melhores, uma vez que Ricci se encontra acompanhado pela minha prima. Alice, por sua vez, parece radiante, alisando as costas de Ian com a mão.

Reviro os olhos, impaciente devido ao discurso de Pâmela, que se limita a injuriar Francesca. O meu auto-controlo esvai-se à medida que ela se estende no seu ataque de ódio, proferindo barbaridades.

Levanto-me e vou até à casa de banho, com o objetivo de não ser exposta àquela novela.

Lavo as mãos e admiro a minha figura, refletida no espelho. Eu estou com um ótimo aspeto, embora esteja com um turbilhão de emoções à flor da pele. Respiro fundo três vezes, antes de sair e deparar-me com John, que me aguardava e apanhou-me desprevenida.

- John! - exclamo surpreendida.

- Estás bem? - questiona preocupado.

- Estou ótima. - arqueio a sobrancelha sem entender a sua repentina preocupação, mas depois lembro-me do episódio entre ele e Ian na festa.

Ele parece ler os meus pensamentos e adianta-se. Toca gentilmente no meu braço, antes de prosseguir.

- Ele é um idiota. - afirma. - Não lhe dês o poder de tirar a tua paz.

Abro um sorriso sincero, encantada com a sua capacidade de perceber o meu desconforto. Ele oferece a sua companhia e eu aceito de bom grado, desesperada por distrair a minha mente.

- Nós não temos nada. - pontuo, fazendo-o fitar-me confuso.

- Isso significa que estás disponível? - o seu interesse é evidente.

Não respondo, permito que a discussão que decorre no salão principal do café interrompa o nosso diálogo.

- Já te cansaste dela? - Alice perguntava com a voz carregada de malícia. - Percebeste que ela não chega sequer aos meus pés?

- Mete-te na tua vida, não te devo satisfações. - a voz do moreno é baixa e calma.

- Tu não eras assim, amorzinho. - ela choraminga. - Porque não voltamos a ser felizes como antes?

Ele permaneceu calado, concentrado unicamente no seu telemóvel. Não consigo perceber de imediato o que ele está a fazer, mas reparo no loiro ainda sentado ao lado da minha prima e percebo que estão a trocar mensagens.

- Amor, dá-me uma segunda chance. Tenho a certeza de que já estaríamos juntos, se ela não se tivesse metido entre nós. - as suas palavras enojam-me.

- Ela tem nome. - a voz de Ian soa mais firme. - E não tem nada a ver com este assunto.

- Se gostasses verdadeiramente dela, tinhas assumido. - ela insiste. - Estás confuso, príncipe.

Ele ignora-a novamente, mas a loira não desiste.

- Pensei que ela fosse diferente. - ela lança-me um olhar depreciativo. - Aparentemente, não tem nada de especial.

- Também pensei que era uma boa ideia namorar contigo, e aparentemente não foi. - Ian levanta-se.

O seu olhar encontra-me e vejo os seus punhos se fechar quando vê John tão próximo de mim. Não faz sentido ele estar incomodado, uma vez que ele próprio se afastou de mim.

- Não me queiras como um inimigo. - balbucia, e não consigo perceber para quem se dirige, a Alice ou John.

O silêncio reinou e era possível sentir os olhares mortais trocados entre Ian e John, Pâmela e Francesca, Alice e eu, Ricciardo e todos os envolvidos.

- Eu avisei duas vezes. - Ian vocifera, dando um passo em nossa direção. - Não costumo dar avisos, John.

- Avisos! - o homem ao meu lado exclama sarcástico. - Como se eu fosse uma ameaça. Olha-te ao espelho, Ian.

- Eu conheço-te, idiota. - o moreno declara. - Podes fingir que tens as melhores intenções, mas eu sei exatamente o que tu queres. Não enganas ninguém.

- E tu? Não tens moral nenhuma para julgar as intenções de alguém. - John provoca.

- Ian! - Ricciardo grita, tentando impedir o inevitável.

O moreno aproxima-se, furioso, pronto para resolver a situação através da agressão.

Eu apresso-me a detê-lo. Dou dois passos à frente e paro-o, estendo a mão até o seu peito. Sinto o seu coração acelerado e obrigo-o a encarar-me. As suas íris escuras transmitem toda a raiva acumulada, mas suavizam-se quando ele se foca no meu rosto.

Odeio-me por reagir ao seu olhar. Odeio-me por estar preocupada com o seu bem-estar. Odeio-me por não conseguir ser indiferente à sua proximidade.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora