Don't worry, Moony.

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— Onde está o Remus? - Peter perguntou.

— Biblioteca, provavelmente. - Sirius respondeu, sem tirar os olhos do balcão enquanto esperava sua próxima rodada.

James estava com Lily do outro lado do bar, fazendo graça pra ela rir. De alguma forma milagrosa, ou talvez somente por "algumas gotas de Félix Felicis", estava funcionando.

Sirius ria daquilo, não dava pra saber se por divertimento ou constrangimento. Mas ele arregalou os olhos ao se virar para a janela e ver a lua cheia no céu. Se levantou no mesmo instante e gritou por James. Ele não escutou.

— Hoje não era dia previsto pra lua cheia... era? - Peter indagou, nervoso.

— Não. Você viu o Snape essa manhã?

— Não. - Ele respondeu, se encolhendo e levando a mão a boca para roer as unhas.

— Vá atrás de Dumbledore.

Assim que Peter assentiu, Sirius disparou para fora do bar.

Correu o mais rápido que pôde, até sair do campo de vista dos que estavam na vila, até poder finalmente correr com as quatro patas para aumentar a velocidade. "Que ele já esteja lá, por favor. Que já esteja lá".

Estava tão concentrado e aflito que nem notou ter passado com tanta facilidade pelo Salgueiro Lutador. Ele já estava ouvindo os berros antes mesmo de ver a árvore, aquilo com certeza fora o estopim pra que ele se apressa-se tanto que até esquecera de tomar fôlego.

Sentiu o cheiro de sangue fresco antes de entrar na casa dos gritos. Mas ele não parou de correr quando viu Remus - ainda em processo de transformação - se arranhando e mordendo e batendo e gritando. Quando ele se virou ao notar a presença de Sirius, transbordou voracidade pelo olhar. Uivou. Um choro, um canto de angústia e de súplica e medo. E então correu na direção do amigo.

Sirius fora mais rápido, como sempre era. Se jogou em Remus de uma forma tão certeira que atingiu exatamente seu objetivo. Empurra-lo na cama para não machuca-lo, e em seguida o seguraria até que a transformação passasse. Não era o melhor plano, mas foi a única coisa que ele conseguiu pensar no momento.

Enquanto o lobisomem se debatia, o cão negro encima dele tentava contê-lo com o máximo de cuidado possível, ao mesmo tempo em que tinha de usar a força bruta para não ser arremessado para longe dali. Dois focinhos se tocaram. Era provavelmente o mais próximo que ambos já tivessem chegado um do outro, independente da forma que estivessem. Quando os olhos negros encararam os que lacrimejavam, Lupin se acalmou um pouco.

De repente a luz cessou quando uma enorme nebulosa surgiu na frente da lua. De certo, uma transfiguração conjurada por Dumbledore.

Os pelos no corpo de Aluado começaram a retrair, até que ele voltasse para a forma humana, completamente nu e ensopado pelo próprio sangue e suor. As patas de Almofadinhas, pressionadas contra as mãos de Remus, ao poucos assumiam um formato fino e alongado, até que duas mãos humanas estivessem com os dedos entrelaçados. Os dois respiravam ofegantes, rapidamente, mas como um só, mantendo sempre o mesmo ritmo. Quando Sirius encarou novamente os olhos marejados de Remus, se aproximou até que tivessem as testas coladas. E então os lábios.

Os quatro haviam combinado de ir a hogsmeade minutos antes de tudo acontecer; por causa dos sentidos apurados pela transformação, Remus pôde sentir o cheiro de cerveja amanteigada antes mesmo de Sirius entrar. Ele deve ter bebido alguma outra coisa também pois Remus sentia cheiro de álcool.

Que droga, ele estava bêbado, com certeza estava bêbado. Se esforçando ao máximo para não admitir pra si mesmo, Remus desejou que ele fosse visitá-lo bêbado mais vezes.
Sirius parou o beijo e se afastou devagar, ainda com os olhos fechados. Ele soltou um curto suspiro e em seguida se jogou contra peito de Remus, mesmo que com delicadeza, para não machuca-lo pelas feridas espalhadas naquela região e em todo o corpo. Ele definitivamente estava bêbado.

Enquanto Sirius dormia, Remus respirava de forma tão pesada que podia levantá-lo repentinas vezes com o próprio peito. Ele estava extremamente corado, por muitos motivos. Desde que se mudou para a casa dos gritos para realizar as transformações com mais segurança, nunca havia precisado que um dos marotos ou até mesmo o próprio Dumbledore intervisse em algo para ajudá-lo. Mas claro, esse era um caso a parte. Não era para haver lua cheia essa noite... e Remus não havia tomado as poções. Faziam meses desde sua primeira transformação que ele não tinha um ataque como aquele. Nem conseguia imaginar o que poderia ter acontecido se Sirius não tivesse chegado a tempo.

E pior, ele tentou atacar Sirius, queria ataca-lo, mesmo em sua forma animago. Aquilo não era pra acontecer. Pela primeira vez em anos, Remus se sentiu totalmente fora de controle. Pôde relembrar os momentos em que realmente se sentia, não na pele de um monstro, mas um monstro por completo. O pesadelo que era ficar preso em devaneios que pareciam eternos, acordar sem entender quem era ou onde estava, ou em finalmente perceber a destruição que causou e as pessoas que feriu.

Pelo menos isso tudo havia evoluído com o passar dos anos... Mas ainda assim, era torturante. Se esquecesse de tomar a poção, ou recebesse outra supresa dessas de uma noite de lua cheia repentina... Já fora um sufoco ter de correr da biblioteca até a casa dos gritos sem que ninguém o visse.

Ele aspirou o cheiro dos cabelos de Sirius e sua respiração tomou uma ritmo mais tranquilo, em contradição ao coração que acelerou. Lentamente, e com dificuldade por causa das mutilações, ele conseguiu empurrar Sirius e sair dali.

Apressou-se para vestir uma roupa, por sorte ainda havia um conjunto no baú velho. Fazia tanto tempo que Lupin não rasgava as próprias roupas com um ataque, que Dumbledore não achou necessário que ele levasse outras mais para a casa dos gritos.

Depois que se vestiu, encarou o amigo na cama, dormindo como pedra. "Ele está mesmo muito bêbado, é claro que está. Ainda bem que conseguiu se situar para chegar até aqui". Talvez Sirius nem tivesse reparado que ele estava despido. Era bom que realmente não tivesse.

Remus suspirou, voltou a deitar na cama e se aninhou ao lado de Sirius, sem se preocupar muito em se mexer pouco para não acorda-lo, afinal ele definitivamente não acordaria agora.

Amanhã se preocuparia em ir a enfermaria. Também não iria pensar em Peter e James agora. E Dumbledore poderia cuidar em investigar sobre quem havia conjurado um chamado para a lua cheia. Por hora, era suficiente pensar em uma coisa só.

Ainda que Sirius estivesse bêbado e que não se lembraria do que aconteceu quando acordasse, já era suficiente para Remus saber que ele ainda tinha a capacidade de se sentir inteiramente e completamente humano.

"Don't worry, Moony.
You're not a monster."

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