Virtude. Capítulo único

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Bom, se existisse no mundo alguma lei em pleno vigor desde os tempos mais primórdios, essa lei era a Lei de Murphy, foi o que Itachi concluiu naquele dia.

"Nada está tão ruim que não possa piorar"

Aliás, como iniciar algo bem quando não há sequer um resquício de pó de café no armário, não é mesmo? O produto desapareceu misteriosamente, já que jurava tê-lo comprado naquela mesma semana.

Não fosse o bastante, Shisui decidiu que seria uma ótima ideia conectar o seu spotify ao aparelho de som do carro durante todo o trajeto para o escritório naquela manhã. Sinceramente, não conseguia entender como alguém tão culto como o namorado podia se divertir com um podcast tão idiota quanto aquele.

As piadas eram tão ridículas que Itachi sentia como se o seu cérebro pudesse derreter a cada asneira proferida.

E quando Shisui soltou uma gargalhada alta perante ao comentário idiota de algum pseudo humorista que falava pelos alto falantes do automóvel, o mais novo desejou sumir no banco do carona. Faltava muito para que chegassem?

Pouco mais tarde, já em seu escritório, Itachi sorriu satisfeito ao, após algumas batidas na porta, ver o namorado adentrar sua sala com dois copos do que percebeu pelo logotipo se tratar de seu café favorito da cafeteria da esquina. Aceitou de bom grado, feliz pela gentileza enquanto minimizava a aba do e-mail que estava redigindo.

Bom, talvez Shisui estivesse se redimindo depois de toda a ladainha em que o submeteu mais cedo no carro, certo?

Errado! O mais jovem viu com desânimo toda a sua expectativa em ter uma conversa estimulante, como costumavam ter naquelas pausas para o café, ir embora no momento em que Shisui sacou do bolso da calça de alfaiataria o aparelho celular. E ele nem ao menos olhou para Itachi desde que lhe estendeu o copo, perdido entre vídeos estúpidos e barulhentos enquanto gargalhava completamente alheio ao que quer que pudesse dizer, o volume alto do telefone ainda pior do que seu conteúdo, irritantemente ensurdecedor.

Tal tormento levou o copo de café inteiro, até que Shisui o abordasse para que assistisse àquela porcaria de vídeo junto a si, momento este em que recebeu em troca um olhar tão cortante que o fez sair correndo dali com a primeira desculpa que conseguiu formular e o resto de seu bom senso que parecia escasso naquele dia.

Itachi então se aprumou na cadeira, estalou os dedos e respirou fundo. O barulho daquele celular ainda incomodava, mesmo que seu dono já estivesse longe. E demorou para que pudesse retomar aos seus e-mails, tamanho o estresse o qual fora submetido.

Pouco antes do almoço, quando finalmente retomou o fio da meada, achando que teria paz enquanto seus dedos digitavam em velocidade recorde, viu mais uma vez Shisui passar pela porta de forma estrondosa e agora sem ao menos bater. Trazia consigo alguns papéis e os agitava de forma energética entre os dedos grandes da mão.

- Amor, será que pode dar uma olhada nessa petição e me dizer o que acha?

Ainda que contrariado por mais uma vez estar sendo interrompido em sua tarefa e de forma tão pouco educada, Itachi respirou fundo mais uma vez naquela manhã antes de forçar um sorriso e aceitar os papéis das mãos do outro. Leu com o máximo de atenção que o chiclete sendo mascado de forma extremamente irritante por Shisui podia proporcionar, e quando conseguiu organizar os pensamentos para dar o seu parecer, mal disse meia dúzia de palavras quando foi ruidosamente interrompido:

- Mas é claro que não, Itachi!

O mais novo piscou algumas vezes descrente com o comportamento alheio. Mais que a falta de café pela manhã, o podcast idiota de Shisui e seus vídeos barulhentos no celular, Itachi odiava ser interrompido. E era pior quando, além disso, ainda era contrariado.

Virtude (ShiIta)Onde histórias criam vida. Descubra agora