Benê soltou uma tosse seca, fazendo com que finalmente algum barulho ressoasse naquela sala. O ambiente claro e acolhedor contrastava com o desconforto da situação. Bia, Benê e Camilo estavam sentados na grande mesa de jantar. Uma madeira clara onde uma cesta com frutas e flores estava delicadamente depositada no centro. Nenhum dos três falava coisa alguma. Bia mascava seu chiclete enquanto esparramava-se confortavelmente em sua cadeira; Benê, por outro lado, batia os pés nervosamente debaixo da mesa e mantinha os braços dentro da cadeira o máximo que podia. Camilo apenas olhava nervosamente os dois, tomando cuidado para que sua respiração não ativasse algum tipo de bomba invisível que criasse uma guerra entre Bia e Benê. Sem Helô presente, Camilo tinha certeza que não conseguiria segurar os dois. O garoto olhou em seu celular e viu a mensagem que a amiga havia lhe enviado há trinta minutos.
Helô: Já tô chegando, Milo! Segura só mais um pouco.
Camilo voltou seus olhos para Benê, que se mexia desconfortavelmente na cadeira pela terceira vez em menos de um minuto. Depois que o craque da cadeira parou de soar, a volta do silêncio foi ainda mais avassaladora. Camilo sabia que tinha que fazer ou falar alguma coisa, e antes que seu cérebro pudesse ter alguma ideia do que falar, a risada de Bia se fez ouvir.
Provavelmente foi pela falta de barulho dos últimos minutos que fez com que o riso da garota ecoasse mais forte do que o normalmente. Mas o que chamava a atenção e gerava os olhares confusos entre Camilo e Benê era a constância. Bia riu por cerca de uns três minutos inteiros.
"Isshu é...ritihuahculo", murmurou em uma falha tentativa de comunicação, voltando a rir logo em seguida. Benê e Camilo se olharam confusos, mas não demorou para que Camilo entrasse no riso também.
"Cê tá bem? quer que a gente te interne?", perguntou Benê olhando para a cena.
Bia se recompôs após um tempo e olhou séria para Benê.
"Nós acordamos que estávamos bem, certo?! Você já veio na minha casa umas mil vezes, então vamos tentar melhorar esse clima, ok?! Antes que o pobre Milo tenha que trocar de camiseta de tanto suar."
"Eu sou a favor disso.", falou Camilo repentinamente checando a parte debaixo de sua blusa.
"Era por isso que você estava rindo?", quis saber Benê
"Claro! É uma situação ridícula!", repetiu Bia
Benê respirou fundo e deixou transparecer alguns tons rosados em suas bochechas. Bia o conhecia bem o suficiente para saber que ele estava envergonhado.
"Bom, eu não percebi você tentando aliviar a situação na última hora!", falou Benê, em tom defensivo.
Camilo prendeu a respiração.
Mas Bia, apesar das suas bochechas também ganharem tons rosados, não pareceu comprar a briga.
"Se não fiz antes, faço agora!", respondeu assertiva e virou-se agressivamente para Camilo. "Quer coca ou alguma outra coisa, Milo?"
"Coca", respondeu apreensivo.
"E você, Bêne?", falou agora voltando-se para o garoto.
"Tô bem.", respondeu.
Benê sentiu o olhar raivoso de Bia pela última vez antes que a garota sumisse para dentro. Era possível ouvir alguns resmungos que Bia dava, vindos da cozinha.
Camilo suspirou aliviado por nada pior ter acontecido, e ao olhar para Benê se surpreendeu com a expressão em seu rosto. Benê ria baixinho para si mesmo enquanto tinha um olhar sonhador no seu rosto. Camilo estalou os dedos, chamando a atenção de Benê.
"Que?", perguntou o garoto.
"Será que dá pra você parar de se divertir às custas da Bia!", falou sério.
"E quem disse que estou?", rebateu.
"Se não é o que está fazendo, é o que parece!", Camilo deixou a voz mais baixa, "Sério Benê, você sabe o que tá em jogo aqui!"
Benê não fingiu seu desconforto.
"A Bia é capaz de se defender sozinha, Milo!".
A aparição de Bia carregando três copos de coca evitou que Camilo continuasse aquela conversa. Bia depositou os três copos na mesa, entregou um a Camilo e outro a Benê.
"Se não quiser, é só não tomar!", falou antes que Benê dissesse qualquer coisa.
Bia voltou-se para sua cadeira e bebericou um pouco da sua coca. Camilo e Benê a imitaram.
"Limão?", falou Benê confuso, após provar do seu refrigerante.
Bia deu de ombros.
"Você só toma coca com limão!", disse naturalmente, enquanto se ocupava com seu refrigerante.
Bia não viu, mas Camilo percebeu o sorriso no rosto de Benê reaparecer.
Demorou mais alguns quinze minutos e de repente, uma Helô esbaforida irrompeu pela porta, soltando desculpas.
"Eu me apressei o máximo que pude!", falou, "Mas tava tudo caótico, o trânsito, meu professor me segurou pra falar do trabalho...de inglês."
"Calma Lolô, não se preocupe!", falou Benê gentilmente, "Você tá aqui agora, e tá tudo bem."
"Agora que a Helô chegou, a gente pode pedir pizza e começar essa reunião, finalmente!", disse Bia.
"Vocês não falaram nada sobre a reunião?", perguntou Helô surpresa.
"Não, estávamos evitando a Terceira Guerra Mundial!", respondeu Camilo com sarcasmo.
Bia e Benê apesar de ouvirem a colocação do amigo, não se deram ao trabalho de comentar. Bia foi procurar a pizzaria no aplicativo do seu celular e Benê se distraía brincando com a maçã no cesto da mesa.
"Bom, eu pensei numa coisa vindo pra cá, mas não sei o que vocês vão achar."
Benê largou a maçã.
"Estamos todos ouvidos, Lolô!", disse empolgado.
"Na verdade, a ideia foi da Bia."
Bia largou o celular e olhou para a prima confusa.
"Você não lembra? Você disse ontem que jogou um battle arena feito por estudantes de games, e que achou muito bom!"
"Ahhh sim! Reigns of Fire!", respondeu Bia lembrando-se da ocasião. "Mas era um beta né, não tinha muita coisa."
"Sim, mas tem outros jogos que são mais completos!", falou Helô.
"Seu plano é fazer lives com a Bia e o Benê jogando esses jogos?", perguntou Camilo tentando entender onde Helô queria chegar.
"Sim!", respondeu mais empolgada.
"Mas Helô, esses jogos no geral são poucos e muito básicos. Não têm mais do que duas ou três fases.", falou Bia.
"Não precisamos de mais!", disse Helô e os outros três se olharam meio descrentes. "Pensem comigo, todo mundo faz live dos jogos triple A, os jogos grandes e famosos que todo mundo conhece! Mas esses jogos independentes não tem muito alcance, e alguns são bem legais, fora que estão sempre precisando de jogadores pra testar!"
"Bom, pensando por esse lado, parece bem legal mesmo.", falou Camilo.
Benê olhou para Bia e a garota apenas assentiu.
"De fato, vai ser inédito e podemos fazer várias parcerias com universidades!", falou Bia.
"Bom, isso fecha então!", disse Benê e virou-se para Bia, "A gente anuncia no canal então?"
"Eu anuncio no meu e você no seu!", falou a garota já sacando o celular.
Enquanto Bia e Benê estavam ocupados, Camilo puxou Helô de lado.
"Escuta, você não tem medo que essa proposta faça vir às claras o seu segredinho?"
Helô olhou por cima do ombro de Camilo e viu que os dois amigos continuavam ocupados em seu celular.
"Fica tranquilo, Milo! Eu vou tomar cuidado, ninguém vai descobrir nada!"
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Bia e Bêne e a guerra dos vloggers
Подростковая литератураA orgulhosa Bia, dona de um canal gamer, se vê forçada a juntar forças com Bêne, seu rival e ex namorado. Tudo o que Bia espera é sair ilesa dessa experiência e poder realizar seu sonho, muito embora esse sonho possa ser muito diferente do que ela i...