Veneno e açúcar

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  A verdade é que quando você é jovem nada está claro. Você acha que pode salvar o mundo e nada vai dar errado, mas a verdade é que quando somos jovens tudo dá errado. Adolescentes não pensam, apenas agem. "E pessoas desesperadas cometem atos desesperados" ou algo do tipo.
Eu não fui o melhor adolescente, por isso luto todos os dias para ser um bom adulto. Para ser o exemplo que minha filha precisa. — Jasper.

  Fint levantou e se espreguiçou. Ele percebeu que Billie não estava mais na barraca, já devia estar acordada há algum tempo cuidando da enfermaria.
Ele tirou a blusa e deu uma olhada no ferimento. Estava cicatrizando muito bem e ele não estava sentindo dor.

— nossa!

  Fint vestiu a blusa e se virou para encarar o rosto surpreso de Billie, as bochechas estavam vermelhas. Ela segurava uma tigela com uma pasta branca dentro.

— o que é isso? — Fint perguntou olhando para as mãos dela e tentando tirar a atenção do que ela viu.

— bem... — Billie limpou a garganta — isso é seu café da manhã, mingau de aveia. Talvez eu tenha colocado um pouco de açúcar a mais.

— você que fez? — Fint indagou curioso.

— é claro que eu fiz, estou cuidando de você, se lembra?

  A garota se aproximou e entregou a refeição pra ele. Ela tirou uma colher do bolso e o entregou também. Fint se sentou na cama de Billie e começou a comer.
Ela não mentiu.
Fint engoliu o mingau, estava extra doce, mas ele tentou manter a expressão uniforme enquanto comia, não queria ser o grosso de humor ácido de sempre.

— sabor diabete... — Fint murmurou baixinho.

— o quê?

— oi? Nada, não falei nada. — Fint fez de desentendido.

  Fint comeu a última colherada com esforço, ele precisava estar forte e se a única comida era açúcar com aveia... bem, ele passou por coisas piores.
Ele devolveu a tigela para Billie e ela saiu porta a fora.
Fint calçou os sapatos. Ele passou a mão pelos cabelos e sentiu eles grudentos.
Billie voltou rapidamente.

— um banho cairia bem. — Fint sugeriu.

— podemos ir até o rio... se não for traumático pra você. — Billie falou.

— por favor — Fint revirou os olhos — já passei por coisas piores, não é um rio que vai ser meu evento traumático.

  Billie deu de ombros e saiu da barraca fazendo gestos para Fint segui-la. Ele foi atrás da garota de pele cor de bronze, brilhante como ouro. Ela transmitia uma energia positiva por onde passava, cumprimentava todos ao redor, Fint pensou que aquilo incomodaria ele se fosse a longo prazo.
Os dois caminharam três minutos até o rio, Fint não lembrava do lugar. Ele estava desacordado quando foi salvo.
Billie levantou na altura do ombro fita crepe, Fint não tinha visto que ela estava carregando.

— por que você trouxe isso?

— ora, você acha que eu vou deixar você molhar o curativo? — Billie juntou as sombrancelhas — pode tirar a blusa, vou cobrir o curativo.

  Fint fez o que ela pediu.
Billie cobriu o curativo com fita crepe o suficiente para não deixar que a água o alcançasse. Ela se afastou e olhou o trabalho que tinha feito, ou melhor, o trabalho que o útero da mãe de Fint fez.
Billie arfou e desviou o olhar, já era constrangedor o suficiente ela ter ficado vermelha minutos atrás.
Fint chutou os sapatos e depois tirou a calça.

— ai meu Deus! — Billie gritou e se virou — você podia ter avisado!

— eu vim tomar banho, você achava que eu não ia tirar a roupa? — Fint franziu a testa — e eu não me incomodo, esses últimos três meses tive tanta gente de olho no meu corpo que simplesmente virou algo normal. — Fint correu e pulou na água.

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