A chegada
Estou de volta a Nova York, fazem exatamente dois anos que larguei a minha vida aqui. Me sinto renovada ao voltar, aceitei a vaga de cirurgiã traumatologista no NYU Lagone Hospital onde tem uma afiliação com a faculdade de medicina em que estudei. Meu trabalho na ONG em que participei, foi bastante gratificante e me rendeu uma certa notoriedade no meio acadêmico. Respiro fundo, nada do que eu passei aqui se compara ao que eu vi nos países em que trabalhei como médica sem fronteiras. Não somos preparados pra o que vamos ver.
O primeiro país que me enviaram foi Angola que passava por uma restruturação depois de quatro décadas de guerra civil, a miséria persistia, bombas em diversos lugares, fome, mutilações. Admito que não foi fácil, principalmente porque o real motivo de ter feito essa loucura foi fugir. Aquelas pessoas não tinham o mesmo privilégio que eu, não podiam fugir, elas simplesmente viviam sem escolha alguma. Então algo em mim mudou, um senso de humanidade despertou, eu devia ajudar aquelas pessoas. Me dediquei ao meu trabalho. Muitos médicos não entendiam o que eu estava fazendo, me oferecendo para confortar a vida dessas pessoas. Como alguém do meu talento estava enfurnada naquele mundo? Mas foi justamente isso que me salvou.
Finalmente eu tinha me encontrado, depois de ter passado por um relacionamento abusivo. Fui fraca, perdi amigos e vivia com medo. Então decidi fazer essa estupidez e agradeço aos céus por isso. Hoje eu não me dou por vencida, sou uma mulher forte, sei que tem coisas bem piores do que eu passei, então levantei a cabeça e decidi voltar, preciso viver. Mesmo que muitas marcas estejam presentes, ainda tenho aversões ao toque, principalmente pelo sexo oposto, tanto que após essa situação só consegui me entregar a um.
Era uma manhã de terça, o aeroporto como sempre estava lotado, Nova York sempre foi muito conhecida por suas lojas e pontos turísticos, acho que esse movimento era o que estava faltando em minha vida, admito que quando vim pela primeira vez, para estudar medicina fiquei apavorada. Como uma garota que morava em uma cidade litorânea da Califórnia iria se acostumar com isso? Pois é, me acostumei e gostei, tanto que comprei um apartamento e decidir fazer daqui o meu lar.
Peguei minha mala e resolvi mandar um e-mail para o Senhor Adams, diretor do hospital dizendo que já estava em solo americano. Adams é mesmo uma figura, nunca nos conhecemos pessoalmente, porém escrevi diversos artigos enquanto estava fora e isso chamou muita atenção a minha carreira fazendo com que diversos hospitais me fizessem propostas milionárias de trabalho, recusei todas exceto o NYU Lagone Hospital. Porque? Bom! Adams nunca desistiu, sempre me mandava mensagens e lia os meus artigos, então aceitei a sua proposta. E também porque ficava exatamente aqui.
Caminho em direção a fila de taxis, entro no primeiro da fila, digo o endereço e absorvo o clima americano, pessoas se movendo com facilidade, felizes, sem preocupação alguma. Chego ao prédio que só vi uma vez, comprei esse apartamento antes de viajar. Ele ficava em frente ao Central Park, lembro que foi exatamente por isso que comprei. O porteiro logo me ajuda a descarregar minhas malas.
- A senhora está visitando alguém? Pergunta o senhor grisalho que aparentava ter uns quarenta anos, no seu uniforme estava escrito Watts.
- Eu moro no apartamento 208, só vim aqui uma vez. Me chamo Anna Reed, é um prazer!
- Estava aguardando a senhora, recebi o comunicado que estaria chegando essa semana, sou o Watts. Deixe me ajudá-la com as malas.
-Obrigado!
Subimos, pego minha chave e abro o apartamento, não reconheço nada daquele espaço.
Agradeço ao Watts e o levo até a porta, depois sento no meu sofá e começo a absorver aquele espaço. Minha mãe realmente fez um bom trabalho, tudo estava em um tom claro, a cozinha estava toda equipada, minha cama estava perfeitamente arrumada, pensei comigo mesma, posso viver aqui. Resolvo então ligar pra ela:
- Mãe?
- Anna querida! Chegou bem?
- Sim mãe, obrigado por arrumar meu apartamento, tudo está muito lindo!
- Eu te conheço filha, como está se sentindo em voltar depois de dois anos?
- Ainda estou estranha, mas acho que posso me acostumar novamente.
- Você merece filha, depois de tudo que passou.
- Obrigado mãe, manda um beijo pro papai, preciso desempacotar a minha mala.
- Certo filha, não esqueça de ligar.
- Beijo.
Caminho até a janela, o pôr do sol anunciava o início da noite e a cidade não parava, vejo no central Park pessoas correndo, tenho que me reconectar com essa vida novamente. Pego meu casaco e saio pelas ruas, os bares estavam começando a lotar, era isso que eu amava aqui.
Depois de algumas quadras reconheço a boate que eu frequentava com a minha amiga May, sinto sua falta. Conheci a May no primeiro dia de faculdade, eu tinha acabado de chegar de Los Angeles, para entrar na NYU, onde o curso de medicina é um dos melhores do país e lá estávamos na festa de recepção dos calouros, May se destacava com o seu vestido de seda verde e saltos pretos, seu cabelo loiro brilhava. Sua personalidade me conquistou de primeira. Depois disso sempre andávamos juntas, estudávamos juntas, nossa amizade era perfeita até o último ano, onde conhecemos o Justin, maldita hora que esse homem apareceu, só de lembrar sinto um arrepio em minha espinha.
Decido parar em um bistrô rustico e aconchegante, peço uma cerveja e um hambúrguer e observo a correria de Nova York.
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O capitão
RomansaAlex Walker é um capitão dos fuzileiros navais. Após seis meses em uma missão no Afeganistão, ele retorna a Nova York, assim como Anna Reed uma médica traumatologista que tem uma história bem sombria em seu passado. Ao se encontrarem surge um amor i...