Aquela não era a festa que Nina estava esperando.
Quando suas amigas disseram que seria uma festa a fantasia e que se ela quisesse poderia usar sua camiseta do acampamento meio sangue, ela imaginou que talvez fosse uma forma descontraída de conhecer outras pessoas da faculdade, afinal, já estava no começo do segundo semestre de Física e mal sabia o nome dos colegas de sala, enquanto todo mundo parecia se conhecer a anos. A realidade, contudo, era três caras diferentes perguntando se ela queria ajudar a montar a barraca deles — nojento e incorreto —, outras cinco pessoas perguntando se ela fazia parte de algum clube de vampiros — aparentemente qualquer coisa que mencionasse sangue estava relacionada a vampiros —, e já tinha perdido a conta de todas as vezes que teve que explicar que sim, ela estava fantasiada, e não era sua culpa que ninguém parecia conhecer os livros de Percy Jackson.
— Não é possível que exista uma fantasia de saleiro sexy — disse vendo a menina com um vestido mínimo branco, com um "S" colado na frente, passar entre ela e suas amigas.
— Nina, você tem que descontrair um pouco, é uma festa! Pare de julgar todo mundo! — Vanessa falou tomando um outro gole da bebida misteriosa que estavam servindo no bar.
"Disse a menina vestindo só um lençol branco" ela pensou. Mas sua amiga tinha razão, normalmente ela não julgaria as escolhas de roupa das outras pessoas, mas sair da sua zona de conforto a deixava na defensiva e a fazia julgar todo mundo igual a sua avó costumava fazer. Ela tinha ido até ali com a intenção de se divertir, mas até aquele momento tinha revirado os olhos tantas vezes que já estava ficando com dor de cabeça.
— Porque você não tenta conversar com alguém novo, talvez encontrar alguém interessante? — outra sugestão válida. Nina não tinha problemas em conversar com estranhos, mas alguma coisa do contexto social de uma "festa" a fazia se sentir deslocada, principalmente com tantas pessoas mostrando seus corpos de forma tão desinibida, e com produções completas de penteados e maquiagem, enquanto ela estava de calça jeans e camiseta, seu cabelo escuro solto pelas costas, e uma maquiagem básica.
Respirou fundo e decidiu que se já estava ali, não custava nada se esforçar, então foi em busca de uma cerveja fresca, ela era a motorista da noite, mas ainda estava cedo e podia tomar pelo menos uma cerveja enquanto procurava alguém que parecesse seguro o suficiente para ela arriscar algum contato.
O salão da balada não era muito grande, a iluminação era de luzes coloridas piscando ao ritmo da música, e meia hora depois Nina já tinha se conformado de que não encontraria ninguém interessante ali. Alguns médicos se aproximaram perguntando se ela precisava de um exame rápido — não, obrigada — um cowboy tentou laçá—la — sem nenhum sucesso — e a opção mais segura, que seria o garoto bonito fantasiado de Harry Potter, parecia mais interessado no jogador de futebol a sua frente do que nela.
— É inútil — suspirou enquanto procurava suas amigas na multidão, encontrando todas as três conversando com um grupo de rapazes fantasiados de bombeiros. Com mais uma revirada de olhos Nina deu meia volta seguindo para a escada que levava para o mezanino.
O andar de cima tinha algumas mesas, a chapelaria e os banheiros, e estava praticamente vazio, o que já era um alívio, mas continuava escuro, então Nina vagou um pouco até encontrar a saída para uma varanda que recebia luz da rua.
Apesar de estarem no meio da primavera, a noite estava fria, e como a maioria das fantasias consistiam em quase nenhuma roupa, apenas os fumantes se arriscavam do lado de fora, e o fumódromo ficava no andar debaixo, então Nina tinha o espaço todo para si.
Sua roupa também estava longe de ser adequada para aquela temperatura, mas ela não estava com energia de voltar até a chapelaria para pegar seu casaco, então só ignorou o chão gelado, tirando o celular do bolso e abrindo o aplicativo com o livro que tinha baixado antes de sair de casa, satisfeita por ter uma folga da música alta e das pessoas do lado de dentro.
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Spoilers
Science FictionEra para ser só uma festa fantasia, ela iria tentar se enturmar e, quem sabe, até mesmo se divertir. Nina não esperava que Douglas, o garoto fantasiado de viajante interdimensional-temporal, fosse quem realmente ele dizia ser, e muito menos que esti...