Capítulo 23| Mathilde

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'I can be your lady, I'm a woman
I'm a motherfucker but they got a problem'

- Woman, Doja Cat

Sábado, 04 de novembro

Eu sabia que a faculdade exigia imensa dedicação, mas a última semana fez-me duvidar de toda a minha existência. A minha rotina está a um ritmo absurdo e eu sinto que não tenho tempo para absolutamente nada. Francesca aproveitou a quantidade absurda de trabalho para se distrair da sua péssima relação com o Ricci, enquanto eu fiquei frustrada por não ter tido nenhuma oportunidade para estar com o moreno.

Ontem, fiquei acordada até tarde a terminar todos os casos práticos que o professor enviou, para poder ter o fim de semana livre. Ian convidou-me para tomarmos o pequeno almoço juntos e eu aceitei de bom grado.

- Bom dia, morena. - sorri para mim assim que eu entro no carro.

- Bom dia. - inclino-me para beijá-lo.

- Estás mais tranquila? - pergunta, analisando o meu rosto. - Pelo menos, parece que tiveste uma boa noite de sono.

- Eu sei que andei com olheiras a semana toda. - reviro os olhos. - Só seria uma boa noite se tivesse estado contigo.

- Também me custou a adormecer. Habituei-me muito rápido a dormir com um corpo colado ao meu. - os seus lábios curvam-se maliciosamente.

- Oportunidades não te devem faltar. - reforço, acomodando-me melhor no assento.

- Isso não me interessa. - indaga, pousando a mão direita na minha coxa.

Parámos no take away da Starbucks e ele pagou os nossos pedidos, embora eu me tenha oferecido para o fazer. A sua necessidade de assumir todas as despesas é evidente, mas eu não gosto de ser sustentada. Por isso, deixei uma nota escondida dentro do porta-luvas, ao lado dos seus óculos de sol. Tenho a certeza de que quando ele a encontrar saberá que fui eu.

Ian dirigiu durante alguns minutos e eu não me atrevi a perguntar onde íamos. O Porsche foi estacionado em frente a uma residência consideravelmente grande. Fiquei confusa, mas saí do carro, acompanhando-o.

A casa era simplesmente incrível. A garagem era gigante, a piscina muito bem tratada, rodeada de espreguiçadeiras, uma zona de desporto, com ginásio, campo de futebol e quadra de basquetebol. Debaixo da varanda, uma zona coberta, onde estava instalada uma churrasqueira, ao lado de uma cozinha mais pequena mas completa, além de uma longa mesa.

- Onde estamos? - finalmente questiono.

- Numa das minhas propriedades. - ele afirma com orgulho, deixando-me estupefata.

Nunca pensei que Ian tivesse em seu nome algo tão grandioso. Eu própria tenho em minha posse dois apartamentos, um no campo e outro à beira mar, que me foram deixados em herança pela irmã mais velha da minha mãe.

Entrámos no imóvel e pude constatar que está todo equipado com aquecimento geral e sistema inteligente, ou seja, era praticamente tudo automático, desde as luzes até aos estores. No primeiro andar, a enorme cozinha moderna destacava-se do salão gigante, pois este era mais simples. Mesmo assim, o luxo estava presente em cada detalhe. No segundo andar, quatro suítes com closet e casa de banho privativa, com uma vista privilegiada para o lago, dois escritórios com quatro áreas de trabalho e uma sala destinada ao lazer.

- Isto é enorme! - comento. - O que pensas fazer com esta propriedade?

- Ora, morar com os meus amigos. - responde sorridente. - Eu sei que é consideravelmente longe da universidade, mas temos imenso espaço e a nossa qualidade de vida aqui pode ser muito melhor. Além disso, a nossa mensalidade fica muito mais barata e aqui os custos são exclusivamente de consumo, porque a manutenção da casa está garantida.

Não consigo formular uma frase, porque fiquei profundamente atordoada com o seu plano. Engulo a saliva custosamente. Ele acabou de me convidar, indiretamente, para morar com ele. Tento parecer tranquila e alimento a sua empolgação, pois não quero estragar a sua felicidade e arruinar o nosso momento.

- Não seria incrível? Podíamos transformar aquela sala num ginásio e colocar alguns cadeirões no salão estilo cinema. - ele propõe.

- Seria ótimo! - exclamo. - Isto é, se todos estiverem de acordo.

- A casa fica muito vazia se não for habitada por um grupo de pessoas enérgicas. - comenta. - Antes de entrar na faculdade, pensava em transformar isto num espaço para as melhores festas universitárias. Todavia, os meus objetivos para o futuro mudaram. Tenho bem assente uma mentalidade mais produtiva.

Sorrio com a sua afirmação, pois é maravilhoso ver uma pessoa que tem tudo para ser bem sucedida a enveredar por bons caminhos. Construir uma estrutura sólida para realizar os nossos sonhos é fundamental e eu desejo que o Ian consiga atingir todas as suas metas, porque ele definitivamente merece.

Domingo, 05 de novembro

A situação entre a Francesca e o Ricciardo não é animadora. Eles não interagem um com o outro desde o ocorrido na festa, ela está profundamente apática e não esboça nenhuma reação à demasiado tempo.

- Como te sentes? - pergunto, genuinamente preocupada.

- Custa-me tanto, Math! - funga.

- Vocês deveriam tentar resolver-se. Disseram coisas horríveis da última vez que falaram um com o outro, se calhar precisam de uma segunda oportunidade. - acaricio os seus fios loiros.

- Tenho medo dos meus sentimentos. - desabafa num sussurro. - Eles tem a capacidade de me destruir.

- Nada é perfeito, Fran. Haverá sempre um lado negativo. - pontuo. - Contudo, não podes viver refém do medo. Tu gostas imenso dele, certo?

Ela assente com os olhos marejados.

- Permite-te usufruir um pouco dos prazeres da vida. - aconselho.

- És o meu anjinho da guarda, e sinto-me segura por isso. - comenta.

- Sinto o dever de te proteger. - confesso.

- Estás pronta para revê-lo? Não se falam desde o dia seguinte ao ocorrido e agora vão estar reunidos com os amigos que têm em comum.

- Podes estar descansada. Não vou deixar que a nossa discussão prejudique o ambiente e o torne desconfortável. - garante.

Ainda não dei uma resposta definitiva ao Ian em relação à mudança, pois não me parece uma boa ideia morarmos todos juntos, embora isso signifique reduzir, substancialmente, as nossas despesas. Além disso, teríamos a comodidade de estarmos próximos, o que é benéfico para a nossa rotina.

Valentina adoraria ver a nossa convivência intensificada, mas Francesca com certeza iria reprovar a proximidade com o loiro. Por outro lado, manter a ordem numa casa tão grande é difícil, principalmente no nosso caso.

Descemos até ao estacionamento e eu verifiquei que o Porsche do moreno já não estava lá. Combinámos de aparecer no apartamento do Thiago, um ambiente mais calmo e íntimo. Fomos recebidas pela Valentina, com um avental super fofo e suja de farinha. O Th estava risonho, decorando as bolachinhas de gengibre que a namorada havia feito.

A ruiva é louca pelo Natal, então não me surpreende o ambiente natalício que nos presenteia, embora estejamos em novembro. O aquecimento geral liberava ar quente, o que tornava o apartamento mais acolhedor.

Ricciardo e Ian estão numa competição de mini-basquete. Ambos fazem lançamentos perfeitos e vão acumulando pontos. Ian tem, efetivamente, mais pontaria, e consegue acertar quase sempre no cesto que atribui mais pontos. As bolas laranjas são ridiculamente pequenas, em comparação com as mãos deles. No final da partida, eles trocam um aperto de mão e rapidamente caminham em nossa direção.

Não me deixesOnde histórias criam vida. Descubra agora