I'll be at the door

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O cigarro em uma das mãos e o copo descartável de café na outra. Sobe sobre a calçada coberta de degraus daquela pequena cidade que constantemente segue rua acima, ao qual nada mais era do que uma vila com um único supermercado e nenhum cinema quando Hyunjin era criança. 

A existência de um edifício muito alto permanece nula e dentre uma rua ou outra não há um calcamento mais adequado do que apenas terra e pedras, embora em sua maioria seja longe do centro. O clima também permanece frio o suficiente para congelar seus ossos em questão de segundos e o nevoeiro começa a nublar a paisagem ao longe, dando ao local um véu acinzentado impossível de atravessar a olho nu.

Hyunjin suspira, dá outra tragada no cigarro e continua sua caminhada lenta para evitar se cansar rapidamente. Quer percorrer a cidade inteira, não será tão difícil, ali não é tão grande. Naquela área estão as casas mais antigas e de aspecto abandonado. Passa ao lado de uma padaria, a mesma que sua mãe insistia em comprar todos os dias mesmo que houvessem outras melhores e eles morassem do outro lado da aldeia. O reboco das paredes está caindo aos pedaços e as lâmpadas mal ajustadas piscam; Hyunjin apenas observa de relance e sorri minimamente pelas lembranças.

É andando um pouco mais à frente que consegue avistar a casa tão familiar para si, com seu cheiro de mofo característico que a casa de Felix possuia. Não é como se fosse culpa do acima referido amigo de Hyunjin. O menino não podia fazer muita coisa, pois os móveis velhos eram de sua avó e de sua mãe e todas as roupas que lavavam tinham como destino final entrar dentro daquelas gavetas amadeiradas. Era filho de uma cabeleireira e suas roupas sempre cheiravam a cabelo queimado que Hyunjin de alguma forma conseguia achar charmoso. 

Lhe vem a cabeça aquela vez em voltou tarde da casa de Felix e este lhe emprestou um moletom para se proteger do frio. Quando chegou, seu pai zombou do cheiro peculiar que ele exalava, e essa foi a primeira vez que respondeu ao seu pai com tanta fúria.

Agora já não adiantava mais se esconder, mais quatro passos largos e daria de cara com a casa de Felix. Esta é a razão pela qual caminha justamente por essa área, a espera de o encontrar. Mesmo que seja só para olhá-lo de longe, cuidadosamente e com atenção, sem perturbar a bolha em que certamente está perdido, com seus ares de poeta e de um garotinho arrogante que na verdade tinha um coração de ouro e uma timidez que entorpecia sua verdadeira personalidade.

Felix provavelmente não gostaria de falar consigo. Disse um monte de coisas desagradáveis ​​para ele da última vez que se encontraram. O culpou por muitas coisas quando seus hormônios estavam a flor da pele e se esqueceu de lhe agradecer por todas as vezes que arremessou pedras em sua janela no meio da noite quando Hyunjin se encontrava chorando secretamente sob uma tenda improvisada com cobertores. 

Hyunjin deixa o cigarro cair, o pisa com a ponta do sapato que, por mais que não seja novo, brilha contra os tons monótonos da cidade. Pega o cigarro amassado e joga em uma lixeira a alguns metros de distância, embora não fizesse muita diferença deixá-lo jogado no pavimento abandonado. Se vê movido pelo desejo de provar a si mesmo que é melhor do que aquele menino que deixou a cidade há vários anos para estudar em uma boa universidade.

Hyunjin sabe por si mesmo que não é melhor do que qualquer pessoa que escolheu ficar ali. Sabe que não é melhor do que Felix, quem abandonou o primeiro ano devido a problemas psicológicos que o levaram a uma tentativa de suicídio e voltou para a casa de sua mãe para procurar trabalho e ajudar sua avó que já estava a beira de dar seus últimos suspiros. Aquela velhinha tão feliz, quando ninguém estava olhando, tossia com tanta violência que cuspia sangue para expulsar o catarro que nunca parava de se acumular em seu peito. Por respeito, Hyunjin nunca quis perguntar o que ela tinha. 

O café já está frio, mas ele continua a beber enquanto o nevoeiro desce cada vez mais e logo só é possível distinguir com clareza o que está a não mais de dez metros de distância. Mergulha no eterno conto de fadas que é o lugar onde nasceu, um conto muito sombrio que certamente termina com o vilão saindo com a vitória em suas mãos. Onde não existe magia que permita aos filhos realizar seus sonhos e que os forçam a fugir de seus pesadelos.

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𝐁𝐔𝐓𝐓𝐄𝐑𝐅𝐋𝐘 𝐈𝐍 𝐀 𝐁𝐔𝐁𝐁𝐋𝐄  | hyunlixOnde histórias criam vida. Descubra agora