Olá! Olha eu aqui outra vez!
Vamos enfim ver o lado da Jordana?
Espero que gostem.
Bjs <3
Capítulo 4
Jordana
A cabeça latejava sem parar. O peito parecia a ponto de explodir.
Minha vontade era de voltar para dentro do avião e ir para um lugar bem longe dali. Mas me forcei a dar cada passo dentro do aeroporto, arrastando a mala de rodinhas atrás de mim. Tudo o que eu ainda tinha estava ali dentro.
— Mierda! — Ao meu lado Alejandra bufou, empurrando os óculos escuros para o alto do nariz, olhando em volta de cara feia. — Não acredito que estou aqui! Mierda!
Ela não parava de reclamar há uma semana, desde que pisamos no Brasil, em São Paulo. Ainda não se conformava por deixar a Colômbia e voltar depois de nove anos longe do seu país. Mais do que eu, que fiquei quase cinco.
Pessoas passavam apressadas, em busca de seus voos. Outras falavam ao celular, malas para todo lado. Era meio confuso ali pelo Santos Dumont, mas eu nem reparava nisso. Como minha amiga, ainda não acreditava estar no Brasil. O medo me acompanhava, assim como uma dor rasgada, que chegava a sufocar. Por isso, não dizia nada. Respirar já era difícil demais.
— Podíamos ter ido para o Panamá, sei lá! Ou México. Quem sabe algum canto do Caribe? Jô, como deixei você me convencer, miga? Carajo!
Ela continuou soltando palavrões abafados em espanhol, seu próprio português de origem com sotaque forte após morar tanto tempo em países como Uruguai, Argentina, Paraguai e Colômbia.
Não me dei ao trabalho de dizer que não a convenci de nada. Quando acordei e disse que ia voltar ao Brasil, ela se assustou e, precisando fugir, disse que me acompanharia. De algum modo, nossa amizade nos unia, nos tornava dependentes uma da outra. Era necessária e péssima ao mesmo tempo.
Continuei andando, trêmula, coração apertando demais. Os olhos varriam em volta através das lentes escuras dos óculos. Ninguém sabia do meu voo, nem estaria me esperando. Mas o medo continuava lá, junto com as lembranças arrasadoras. Ataques vinham assim, embaralhando, como punhais entrando na carne, chegando até a alma.
Engoli em seco, saindo pelo desembarque, vendo as pessoas ali esperando por outras. Assustada, senti como se fosse ver Viggo a qualquer momento e me paralisei, estacando, perdendo o ar.
— O que foi? — Alejandra parou também.
Ele não estava ali. Nem Marquinhos ou Venâncio. Muito menos Fabrício.
O sofrimento piorou. Senti que podia desmaiar, fraqueza me deixando fria, mãos geladas e dormentes. Fabrício nunca mais estaria ali ou em qualquer lugar. Assim como Moisés.
— Jô? Miga? — Passou o braço em volta do meu ombro, preocupada. — Tá bem?
Suguei o ar, dilacerada por dentro, culpa e ódio destilando veneno em meu sistema. Foi difícil dar mais um passo. Consegui, apressando-me, o corpo todo exigindo alívio. Apertei a alça da mala e puxei rapidamente em direção aos táxis estacionados do lado de fora. Minha amiga me seguiu, de olho em mim, sem reclamar mais.
O estômago parecia ter um vazio sem fim, ardendo. Aflita, eu me vi a ponto de ter um ataque, cair, me contorcer no chão sem ar. Precisei parar de novo, um taxista vindo nos abordar e falando coisas que meu cérebro se recusou a entender. Um homem alto passou ao meu lado e o olhei, nervosa, novamente esperando ver Viggo ou Fabrício. Lágrimas inundaram meus olhos.
— Jô, vamos nesse? Qual o endereço que seu amigo deu? Jô?
Olhei em volta. As folhas das árvores de frente balançando, os prédios perto, aquele ar do Rio de Janeiro. Tudo me invadiu com violência. Queria fugir, como fiz todo aquele tempo, mas não dava mais. Estava em um beco sem saída. Lembranças e dores vindos como ondas, mais fortes do que nunca.
Uma parte gritava sem parar para que eu fugisse enquanto ainda dava tempo. Corre! Corre para bem longe daqui! Outra me mandava ficar. Ordenava. Sem que eu quisesse encarar o motivo para obedecer. Não havia muita escapatória para mim.
— Vou pegar as malas. — Disse o cara, cansado de ficar ali parado, já estendendo a mão para mim. Entreguei, sem discutir. Ele fez o mesmo com a bagagem de Alejandra e abriu a porta para a gente. — Qual destino?
— Botafogo. — Consegui murmurar, tensa, dura.
Nem sei como entrei e me sentei ali. Minha amiga falou:
— Primeira vez que venho ao Rio. — O carro entrou em movimento e ela passeou os olhos em volta. — Preferia estar fora do Brasil.
— Já falou isso.
Ela me encarou e suspirou.
— Pelo menos não é o Espírito Santo. Em Vitória não piso nem morta!
Acenei, sabendo daquilo. Era difícil pensar, manter uma conversa, no meu estado de total destruição emocional e terror. Apertava as mãos geladas no colo, me recusava a olhar pelas janelas. Tinha medo do que me esperava, do que ainda teria que enfrentar e ali era bem mais forte.
Lembrei das conversas ao telefone com Marquinhos, sua animação e emoção. Ele queria me pegar no aeroporto, mas desconversei, disse que ainda não sabia o voo nem o dia da chegada. Logo o encontraria, mas precisaria me estabilizar primeiro.
Disse que tinha trabalho para mim e, rapidamente, me ajudou nas necessidades imediatas. Arrumou emprestado aquele apartamento de um amigo que estava fora do país. Depois eu acertaria o aluguel com ele. Ao menos não ficaria em algum hotel até arranjar moradia.
Na hora pensei no apartamento que vendi. O de Fabrício, em que morei desde que me casei com ele. Novo aperto no peito, ar doendo nos pulmões. Era surpreendente ter vontade de chorar mais uma vez. Por anos não o fiz. Não depois que a raiva virou minha companheira de todas as horas. Foi só voltar ao Rio para aquela fraqueza me invadir.
Furiosa, tentei me focar. Estava difícil. A cabeça girava, o pavor invadia cada célula. Eu sabia que tudo seria ainda pior. O enfrentamento estava apenas começando.
Viggo encheu minha mente. Sua presença veio tão forte que estremeci, chocada, perturbada. Pude até sentir seu cheiro amadeirado, ver seu sorriso, aquela pinta perto da boca. O modo como me olhava, me queria, me dizia coisas sem palavras. Como me abraçava.
— Não... — Sussurrei angustiada, cheia de culpa e ódio, cheia de coisas com as quais nunca soube lidar. Precisei de alívio e virei para Alejandra. — Aquele seu conhecido... falou com ele?
Entendeu na hora. Fez que sim.
— Quando a gente chegar ao apartamento, ligo. Posso marcar um local perto ou lá mesmo.
— Do lado de fora. — Pedi, pensando em Marquinhos. Não ia prejudicá-lo.
— Tá bom, miga. — Sorriu, se animando um pouco. — Ele é dos bons.
Fecheios olhos, não querendo ver nada à minha volta, nem sentir, nem lembrar, muitomenos pensar. Mas tudo continuou a borbulhar dentro de mim, piorando cada vezmais. Estava em um beco sem saída.
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Eita! E essa agora?
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Dentro de nós
RomansaOBS:O livro fica completo aqui até o dia 25 de fevereiro de 2022. Depois disso, somente capítulos de degustação. Para ler inteiro, somente na Amazon. Dentro de nós é a parte final do primeiro livro: Dentro de mim. Aqui reencontraremos Jordana e Vigg...