Capítulo onze: preciosa

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Point of view Camila Cabello

Acordei assustada quando mais um dos tantos pesadelos que tive durante a noite teve fim. Todos foram o mesmo. Um corredor escuro e longo, passos pesados e ligeiros atrás de mim e uma voz assustadoramente sombria me chamando incontáveis vezes de "putinha". Toda vez uma luz esverdeada com um silhueta feminina aparecia no fim do corredor e quanto mais eu corria em direção a ela, mais longe ficava. Até que em um momento eu estou a poucos metros de segurar a mão estendida da silhueta na luz quando quem estava atrás de mim consegue finalmente me alcançar. Eu acordo quando vejo olhos escuros e sorriso predador.

Suada e trêmula olhei ao redor para tentar me situar. Cortinas escuras, móveis sofisticados e uma cama grande. Certo, estou no quarto da Lauren. Eu dormi com ela, nos braços dela. A alfa esteve ali a noite toda, a cada pesadelo, a cada ataque de choro, escutou minhas lamentações e cantou baixinho no pé do meu ouvido para que eu conseguisse voltar a dormir e fazia tudo de novo quando eu acordava de mais um pesadelo. Acredito que ela nem mesmo dormiu porque toda vez que eu abria meus olhos, encontrava os dela; verdes, brilhantes, preocupados e acolhedores.

Dessa vez ela não estava ali e isso me deixou assustada.

Tirei as cobertas de cima do meu corpo e passei a mão pela testa molhada. Minha respiração ofegante não quis normalizar mesmo comigo tentando muito. Tirei as pernas para fora da cama e me levantei cambaleante, em passos errôneos fui até o banheiro do quarto e me apoiei no mármore da pia. Pelo espelho pude ver o quão pálida me encontro. Abri a torneira e com as mãos em forma de concha joguei um punhado de água em meu rosto, o choque térmico provocando um alívio quase imediato. Fiquei de cabeça baixa por longos segundos, os olhos fechados e a boca aberta para tentar respirar melhor.

Olhei para minhas mãos espalmadas no mármore e as percebi completamente trêmulas e esbranquiçadas.

Escutei passos apressados fora do banheiro e por um momento tive medo de ser o monstro do meu pesadelo. Quando pela porta aberta passou uma Lauren alarmada, quase comecei a chorar de alívio.

-Camila...- Sua voz saiu pesarosa. Em poucas passadas a alfa se posicionou atrás de mim. Suas mãos quentes me seguraram pelos ombros e nossos olhos se encontraram pelo espelho.

-E-eu... eu não... eu não consigo... respirar direito.

-Certo. Concentre-se em mim.- Colou minhas costas em seu peito e deslizou suas mãos pelos meus braços para entrelaçar nossas mãos em frente ao meu corpo. Apoiou seu queixo em meu ombro e não desgrudou seu olhar do meu.- Quando eu era criança, minha família era muito pobre, então eu não tinha muitas opções de brinquedos e por conta disso brincava com qualquer coisa a disposição. Mas o que eu realmente gostava era de construir meus próprios brinquedos. Fazia de tudo; desde carrinhos de madeira a bonequinhos de pedra. Por ser uma lúpus nunca fui muito popular na infância. Me irritava muito fácil e afastava todo mundo de mim.

Estava escutando atentamente as palavras suaves e nostálgicas da mais velha. Tão atentamente que nem percebi estar me acalmando.

-Ficava sozinha a maior parte do tempo, afastava até mesmo meus pais de mim. Era complicado me entender. Para uma criança de nove anos, eu tinha uma personalidade muito forte.- Acariciou minhas mãos com seus dedões.- Meu pai me deu um livro de carpintaria quando eu tinha dez anos, ele sabia que construir coisas me acalmava. Peguei tanto gosto pela leitura que não parei mais. Queria ler tudo que via pela frente, sobre tudo. Mas aquele livro em especial era meu xodó, levava para cima e para baixo.

Fui relaxando meu corpo aos poucos contra o dela, meus olhos ainda presos nela pelo reflexo. Minha respiração muito mais controlada.

-Um dia eu estava saindo da escola quando dois alfas um pouco mais velhos me cercaram e pegaram minha mochila para zoar comigo. Até então eu estava tentando me controlar, já que não era nada bonito quando me descontrolava. O erro deles foi quando pegaram meu livro de carpintaria e começaram a rasga-lo. Eu perdi a cabeça e parti para cima deles. Um deles fugiu depois de levar um soco, mas o outro ficou e tentou revidar. Bati tanto nele que foi parar no hospital. Me senti muito mal depois.

Mon Cher - ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora