O que você entende é o que você ouve?

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Deitada na sua cama, enquanto os pés balançam agitados de ansiedade, Ariel - que não é aquela sereia - escuta em seus fones uma música. Mas não qualquer música. A sua futura música favorita do momento. Seus olhos estão fechados e a concentração está no som. No som da batida, no som da guitarra, no som da voz, mas principalmente no som do sentimento que a música transmite. Talvez se eu pedisse para que ela descrevesse essa música em um sentimento, ela iria dizer com convicção que é esperança de que o pior passou. A nossa pequena sereia com pernas, não é apenas uma apreciadora de sons e músicas. Ela é uma apreciadora de sentimentos. Ela os entende - ou acha que entende!

Suas mãos se mexem como as ondas do mar, é mágico. É como se ela estivesse encarnando aquela nova canção em si mesma, mas... De repente... Do nada... Ela é surpreendida com um beijo doce, digno de princesa. Seus olhos se abrem e o sentimento de esperança se torna conforto. Ela não esperava por aquilo especificamente, mas o resultado foi melhor do que imaginou. Lentamente ela retira seus fones de ouvido e sorri para a sua princesa, Marcela. Depois de tantos anos juntas, a vibração de Ariel ao encontrar a amada é significativa e única, ela a ama, sem a ver, sem a ouvir, sem a sentir, e vai continuar amando até o fim, que ela espera que nunca aconteça.

Os papos são colocados em dia, e a cama se torna uma bagunça com as duas sobre ela. Ariel está ansiosa para mostrar a Marcela a sua futura nova música favorita, assim como nos mais de quatro anos que estão juntas. Compartilhar e ver o sentimento das pessoas, é o que ela mais ama. Se não fosse estudante de jornalismo poderia certamente arranjar uma profissão que se assemelhe a isso, tipo... Cartomante? De nada importa. Todos os dias são dias de novidades e Ariel é um ser mágico do compartilhamento, ela quer que todas as pessoas do universo sintam os sentimentos que ela sentiu. Egoísta? Talvez sim, talvez não, mas além de tudo isso, ela quer que as pessoas absorvam as coisas boas sobre aquilo. Os fones de ouvido são colocados em Marcela, enquanto Ariel a observa como uma criança prestes a ganhar um presente de natal do famoso Papai Noel. Marcela escuta a música e sente o som com movimentos no corpo, Ariel se sente mais animada em observar a amada amando o que ela ama. Se passam 1 minuto. 2 minutos. 3 minutos. A música está no final. Marcela tira os fones de ouvido e sorrindo Ariel pergunta "O que achou?".

- Nada de mais - diz Marcela.

- Até que é legalzinha! - Completa.

Feliz Ariel não fica, mas ela disfarça bem. É a graça de ser quem é, não se pode compartilhar tudo esperando que o outro vá gostar. Os gostos se divergem, assim como a alma que cada um carrega. Ela ignora qualquer coisa e olha para a única pessoa que talvez ela não se importe tanto por não gostar da sua nova música favorita, pois a ama mais do que qualquer coisa. Talvez se ela lhe pedisse para não ouvi-la, não a ouviria. É o que o amor faz, ensurdece a gente.

Marcela e Ariel comemoram em alguns minutos os seus cinco anos juntas. Bodas de Ferro. Elas não são casadas, mas vivem uma vida de como se fossem e é isso que importa, os millenials mudaram essa concepção. Junto com um vinho tinto a companhia da meia-noite fica melhor do que nunca.

- Feliz cinco anos - gritam e beijam-se as duas!

- Posso dizer uma coisa? - Ariel pergunta

- Por que não? - Marcela diz com a certeza de que sempre lhe deu a liberdade de falar o que quiser.

E então como um pássaro prestes a voar, Ariel respira fundo e solta suas asas, o seu sorriso. E voa.

- Espero que este aniversário seja um dos muitos que tem por vir e nosso amor possa ser justo e nosso, que não fique difícil por... bem, a vida e os problemas, porque a maioria das coisas ... o mais real, é o sentimento... nosso sentimento, é a confiança e a verdade. - E Ariel sorri de felicidade com orgulho de suas próprias palavras.

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