POR CIMA DA música, o burburinho das pessoas na plateia chega aos meus ouvidos, todas possivelmente comentando sobre como eu tô tocando uma música totalmente diferente da que anunciaram. E eu tô me segurando pra não começar a rir. Passei meses ensaiando uma música pra chegar aqui e tocar uma no improviso. Acho que as palavras de Carmela ainda estão martelando na minha cabeça. Vai lá e faz o que o seu coração pedir.
Me aproximando do microfone posicionado ao lado do piano, eu faço algo que eu nunca pensei que faria nessa audição: eu canto.
— Nunca fui rosto na multidão, sempre fui fácil de me perder. Não existiu filme, livro ou canção, nenhum mistério, romance ou ação, que me fizesse perceber.
A música que compus pra banda e, acima de tudo, pra Frida Tropelia, escapa das minhas cordas vocais com vontade, como se minha vida dependesse disso. E eu deixo de lado a tensão e o nervosismo pra só... sentir. Porque, de algum jeito, eu sinto e ouço e vejo tudo que aconteceu nos últimos meses enquanto toco essa música. Penso nas meninas, na banda, na garota que eu gosto e em como eu queria ter coragem de falar tudo pra ela. E eu canto. Canto como nunca cantei antes, pouco me importando com o que todas essas pessoas estão pensando de mim.
— Nunca saí da minha esfera, sempre gostei de me manter em paz. Mas algo se moveu na terra, me mandou pra estratosfera, e eu já nem entendo mais. Como eu nunca percebi, que era você bem aqui, comigo?
Todos os momentos bons que tive passam como flashes na minha cabeça. O primeiro ensaio que assisti, todas as conversas sobre beijos e pizzas de quatro sabores. Me lembro perfeitamente da minha visita ao Área 51 e, meu Deus, eu amaria estar tocando essa música lá agora. E eu amaria ver Frida na plateia e fingir mais uma vez que tô tocando só pra ela.
— Você queima e me faz querer queimar, sem espaço pra nenhum dilema. E a gente queima melhor em par, sem ter medo de errar, de ser protagonista de cinema.
E de repente, sem nem perceber, eu tô controlando tudo isso aqui. Porque quando toco o que gosto e o que quero, eu consigo transformar o piano em um amigo. Eu derroto o vilão e, em um plot twist inesperado, consigo trazê-lo para o meu lado. E é incrível, porque faz eu me sentir uma super-heroína poderosa pra caramba.
— Garotas rebeldes entram em combustão quando se beijam. E que bom que regras foram feitas pra quebrar, porque, garota, eu quero queimar enquanto beijo você.
Quando a música finalmente chega ao fim, eu demoro a criar coragem pra encarar a plateia. As pessoas aplaudem como fizeram na última apresentação, mas não de um jeito bom. Percebo que todas estão sem entender nada antes mesmo de olhar para elas, e quando finalmente decido fazer isso, o primeiro rosto que encontro é o da minha mãe.
Ela está... não sei. Consigo imaginar facilmente cenários em que Dona Ângela estaria super confusa ou super triste ou super puta da vida, afinal, mamãe é conhecida por super reagir a tudo. Mas ela tá só lá, quieta, me encarando com o rosto vazio, e de algum jeito, isso é muito pior. Decepção. É o que ela tá sentindo, e me dar conta disso me faz querer chorar.
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Garotas Rebeldes em Combustão
Ficção AdolescenteNina Avante tem um plano: até o fim do ano, ela vai revelar aos pais que não pretende continuar naquilo que eles a vem ensinando desde que se entende por gente. Ainda que ela ame tocar piano, a garota sabe muito bem o que quer fazer quando enfim ter...