nove

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Meredith acordou um pouco antes do dia clarear, apertou os olhos e se espreguiçou até se localizar, e então percebeu que deveria ter alguém na sua frente, e ele não estava lá. Girou na cama, ainda sonolenta e viu pelo vão da porta do banheiro que a luz estava acesa, suspirou aliviada. Passaram dez minutos e ela começou a achar que ele havia desmaiado, ou só dormido dentro do banheiro, caminhou até o mesmo e bateu na porta, sem respostas, mas pôde ouvir a respiração dele pesada. Ela girou a maçaneta e abriu a porta, seu coração se despedaçou ao vê-lo sentado no chão com os joelhos dobrados e o olhar perdido.

— O que aconteceu? — Ela perguntou se abaixando na frente dele.

— Eu passei meio mal...

— Você quer uma água? Eu vou buscar... — Ele segurou na mão dela quando ela ameaçou levantar. — Eu vou pegar a garrafa na mesa de cabeceira, aqui no quarto. — Ele soltou e assentiu.

Ela sabia que era mais que um mal estar, e sabia também que ele não iria querer preocupa-la. Pegou a garrafa e o copo e levou até o banheiro, serviu e o entregou, ele foi bebendo aos poucos, ela se sentou na privada e ficou fazendo carinho no cabelo dele.

— Desculpa, não queria te acordar...

— Eu acordei sozinha.

Eles ficaram em silêncio mais um pouco até ele conseguir começar a falar:

— Eu tive um sonho ruim, acordei assustado, acho que tive uma crise de pânico... Eu tô melhor, eu me acalmei.

— Tem certeza? Você precisa que eu faça algo? Você quer deitar de novo? Quer descer? Quer ir pra Carina? Eu te levo se você quiser, se quiser ficar eu cuido de você...

— Eu tô melhor, Mer. — Ele jogou a cabeça pra trás e sorriu. — Foi só um momento.

— Me acorda se acontecer de novo, por favor, sabe lá Deus o que você pode fazer numa crise, e se você tivesse caído e batido a cabeça? Você tem que me acordar sempre.

— Eu tenho uma doença, eu vou ter dias mais difíceis apesar de estar me cuidando, e eu preciso aprender a lidar sozinho.

— Mas você não tá sozinho, eu nunca mais vou te deixar sozinho, estamos juntos nessa, me deixa cuidar de você?

— Então vamos deitar e você continua com esse carinho? — Ele pediu dengoso e ela só sorriu. 

Eles voltaram pra cama, ela se deitou um pouco mais pra cima para poder continuar fazendo o cafuné. Meredith só conseguiu voltar a dormir quando teve certeza que ele já estava sonhando até. Ela ainda se martirizava muito por tudo que havia acontecido com o Andrew em relação a bipolaridade, ela o fez chegar no limite com o caso do Richard, ela sentiu medo de vê-lo naquele estado de novo, nunca se perdoaria se não cuidasse dele dessa vez, a vida estava dando uma nova chance a ela, tal qual ela queria valorizar.

Quando o despertador tocou, ela desligou rápido e saiu da cama sem acorda-lo, já que ele havia ido dormir a pouco. Seguiu sua rotina, levou as crianças pra escola e foi pro hospital, mas ainda com todos os pensamentos voltados a ele.

O Sol do meio dia já ultrapassava a persiana, ele acordou ainda se sentido cansado, pegou seu celular ainda se adaptando a claridade, viu as mensagens da Meredith e da Carina e respondeu as tranquilizando, odiava preocupa-las. Ele sentou na cama e olhou bem ao redor, suas costas estavam doloridas de quem ficou no chão do banheiro metade da noite. Sem tempo para a autocrítica, seguiu para sua higiene pessoal, buscou por uma escova no armário dela, e viu a sua escova de bamboo com as cerdas azul totalmente desgastada, aquilo já era lixo a muito tempo, mas Meredith nunca foi das mais organizadas. Ele riu sozinho, jogou no lixo e pegou uma das descartáveis que ela trazia do hospital, era tão confortável o jeito que ele já conhecia tudo.

Ele desceu as escadas recolhendo os brinquedos espalhados, chegou no primeiro andar, juntou todos dentro do quartinho nomeado "da bagunça". Na sala ele viu seu violão encostado do lado do sofá, sorriu de orelha a orelha, conseguia visualizar perfeitamente o Link revirando os olhos quando as crianças o obrigavam a tocar, ele já havia contado que os três sabiam chantagear muito bem para conseguirem músicas italianas.

Ele se sentou no sofá e começou a tocar, cantarolando baixinho, a música renovava suas forças, saber então, que aquilo que lhe salvava, também se fez presente para seus enteados quando ele não estava, era mágico. Quando seus dedos doeram de tanto tocar as cordas, ele deixou o violão de lado e foi fazer o almoço.

Em uma das várias vezes que ele abriu a geladeira, ele reparou enfim algo incomum, uma foto grudada com um imã de coração, era ele com as crianças e a Mer. Seus olhos encheram de lágrimas em ve-la ali, sua presença ainda era tão real e marcante para eles, como era especial finalmente se sentir incluso na família, mesmo que tenha perdido tanto tempo e tantos momentos, ele estava de volta disposto a nunca mais ficar longe.

Pelo resto do dia ele ficou ansioso para as crianças chegarem, fez cupcakes e sabia que ia levar uma bronca da mãe deles por dar doce antes do jantar, mas ele só queria que eles chegassem logo e que as risadas altas se espalhassem pela casa.

No fim do dia, Meredith saiu correndo para o elevador, só queria chegar logo e ver como Andrew estava, mas, o destino não poderia ser mais cruel quando colocou o Cormac na mesma cabine.

— Oi...

— Grey. — Ele falou encostando na parede.

— Você já me desculpou? — Ela perguntou quando as portas fecharam.

— Acho que eu que lhe devo desculpas... Quando eu soube, eu fiquei tão afobado em segurar o que a gente tinha, que acabei sendo inconveniente, sinto muito.

— Eu também sinto muito em não ter sido clara desde o começo.

— Eu só quero que você seja feliz, e apesar de não entender como, ele é o homem que você ama, e se fosse a mulher que eu amava, eu faria igual.

— Ele me faz feliz, e eu espero que você encontre alguém que te faça. — Ele sorriu e eles ficaram em silêncio.

— E se vocês não derem certo? Você não pensa nisso?

— Não é só sobre a gente dar certo ou não, também é sobre meu sentimento por você ser tão frágil ao ponto de no primeiro momento de confusão, eu estar pronta pra estar com outro... Você merece mais que isso. — Ele assentiu e os dois saíram do elevador, foram lado a lado para o estacionamento, e antes de entrar no carro ela o olhou. — E a gente vai dar certo.

— Eu torço para que sim, todo mundo já sofreu demais. — Ele falou sincero, ela podia sentir que ele se incluía, mas acreditava que ele não tinha mágoa.

Ela chegou em casa e estavam todos lá, Amelia e Maggie mimando o Scout, Winston com o Bailey jogando vídeo game, o Link e o Andrew quebrando a cabeça com o dever de matemática da Zola e a Ellis desenhando do lado deles.

— Vem mãe, esses dois não sabem nem quanto é dois mais dois. — Zozo implorou chamando com as mãos.

— Eu sou cirurgião, eu devia saber isso. — Link sussurrou reflexivo.

— O bulliyng que eu sofria no ensino fundamental bloqueou minha memória, eu não sei fazer isso. 

— Bulliyng cria caráter, você só é burrinho. — Amelia falou jogando o pano de prato nele.

— Amelia! — Meredith repreendeu segurando o riso.

— Você quer rir, mãe? Andrew você tá lascado com uma namorada dessa.

— Eu tô mesmo. — Ele colocou a mão no peito fazendo drama, ela riu e deu um selinho nele.

Eles ficaram todos acordados até mais tarde, fizeram uma noite de jogos fora do combinado, e Meredith se sentia finalmente completa e ele se perguntava como um dia que começou tão ruim podia ter ficado tão perfeito. Família tem esse dom.

Favorite Crime - Reescrevendo Onde histórias criam vida. Descubra agora